Bonequinho de plástico

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Charlie havia me deixado no quarto com Sarah enquanto ia para seu treino. Eu me sentia uma criança precisando ser supervisionada a cada segundo, mas eu entendia que não poderiam surgir brechas para alguém me pegar sozinha.

Ouvi o treino, vagamente, pela janela, enquanto Sarah praticava suas transformações. A olhei alguns segundos, prestando atenção em como ela realmente estava boa naquilo, e imediatamente Nick veio na minha cabeça, a forma como ele a olhava, e a forma que ela não parecia incomodada com ele perto.

Eu tinha intimidade com ela, poderia perguntar esse tipo de coisa.

— Sarah — a chamei.

Seus olhos saíram do seu reflexo no espelho e foram para mim.

— O Nick — me ajeitei na poltrona, percebendo que ela voltou a ser ela mesma, mas não me olhou — eu... sabe, está acontecendo alguma coisa?

— Por que estaria?

Sorri. Respondendo uma pergunta com outra, típico.

— Porque tenho notado algumas movimentações estranhas e... ah, qual é, se abre comigo — pedi.

Ela acabou rindo e rapidamente virou uma pessoa que nunca havia visto na vida.

— Eles têm essa coisa de instinto protetor, né? — ela perguntou, se referindo aos corredores, e eu rapidamente assenti — então, é isso.

— Como assim “é isso?”

— Sua versão maluca quase me matou e ele me levou pra enfermaria — ela deu de ombros — sei lá, agora acha que eu vou me quebrar sozinha, realmente não sei.

Franzi o cenho.

— Mas conversaram alguma coisa sobre isso?

Ela sorriu e se virou para mim, virando uma perfeita cópia minha.

— Absolutamente nenhuma palavra.

Franzi o cenho e ela riu da minha cara, voltando a ser ela mesma antes de sentar na poltrona ao meu lado.

— Não pode estar falando sério, não falaram nada?

— Ele nem me cumprimenta, só fica lá, tipo uma sombra — ela deu de ombros — acho que quando o negócio com você melhorar, ele some.

Ri, extremamente confusa e puxei minhas pernas para cima da poltrona.

— É tão maluco pra mim quanto parece pra você.

— Mas... — ri de volta — eu achei que tivesse acontecendo alguma coisa.

— Com aquele troglodita? Claro que não — ela disse com tanta tranquilidade, que realmente parecia estar sendo sincera.

— Mas acha ele bonito.

— Acho, da mesma forma que acho praticamente todos os meninos bonitos — ela deu de ombros — completamente amistoso e... sinceramente, irrelevante.

Assenti, fazia todo o sentido na verdade. Abby tinha dito que não havia visto “nada além daquilo”, e pelo jeito, não teve nada mesmo.

— Ele é todo estranho, parece aqueles bonequinhos de plástico, perfeitamente perfeito, mas sem expressão.

Ri, era uma boa comparação.

— Ok, estou um pouco aliviada — amoleci na poltrona.

— Teria algum problema se tivesse acontecendo alguma coisa? — Sarah ergueu as sobrancelhas.

Assenti.

— Nick é... violento talvez seja uma palavra forte, mas ele é “esquentadinho” — ela ergueu as sobrancelhas de volta — alguns dos receios que eu tinha em relação aos corredores, meio que refletem nele, e eu não queria que estivesse nessa situação.

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