Organização

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A hora seguinte foi um grande borrão para mim.

Charlie e Nick entraram em contato com todos os corredores que confiavam, e meus pais fizeram o mesmo com os coloridos. Todos andando de um lado ao outro com os celulares contra os ouvidos.

E eu, fiquei parada, observando tudo em silêncio. Em uma coisa meus pais tinham razão, eu não podia envolver meus amigos naquilo, não estavam prontos e seus poderes não eram explosivos o suficiente para ajuda-los em emergências.

Eu poderia conviver com a raiva deles ao descobrirem que os exclui, mas jamais conseguiria conviver com a culpa de algo acontecer com qualquer um deles por eu tê-los chamado.

Eu ouvia vozes do lado de fora de casa, Nick estava ali com os corredores que iam chegando aos poucos, assim como minha mãe com os coloridos que chegavam mais devagar, mas em maior volume. Ambos tentando explicar alguma coisa e ao mesmo tempo não gerar pânico.

Olhei pela janela vendo a quantidade de gente, imaginando que se meus pais não tivessem conjurado uma barreira de som na rua toda, os vizinhos já estariam todos ali, se perguntando o que estava acontecendo àquela hora da madrugada e porque tinha tanta gente portando todo tipo de arma.

E no meio de todos os pontinhos vestidos de preto, Taylor apareceu, olhando em volta ansiosa.

Charlie saiu de casa, antes que eu pudesse avisá-lo e eu observei pela janela ela correr até ele e começar a gritar. Franzi o cenho e saí, indo até os dois.

— Eu era a primeira pessoa que tinha que ter avisado! — ela dava tapas nada francos nos braços dele.

Charlie riu e a puxou para um abraço.

— Estou bem, maninha.

Taylor começou a chorar e eu engoli em seco chegando mais perto.

— Não lembrei de te avisar sobre ele, me desculpa — eu disse, constrangida.

Taylor soltou Charlie e foi até mim, me abraçando também.

— Obrigada por irem atrás dele, muito obrigada — disse baixo.

Afaguei suas costas, demonstrando que não havíamos feito nada demais e ela me apertou um pouco mais forte antes de me soltar. Olhei para Charlie, vendo que ele estava com os braços cruzados, olhando fixamente para o começo da rua. Olhei também, vendo de longe um corredor vindo, calmamente.

— Quem é? — perguntei, enxergando pelo tamanho que se tratava de um homem mais velho.

— Por que chamou ele? — Charlie perguntou, mas não me olhou, se virou para Taylor.

— Ele estava perto quando atendi sua ligação, eu não chamei, ele só veio.

Olhei de volta para o homem, agora um pouco mais visível. Por um momento fiquei assustada, parecia que eu estava vendo Charlie, alguns anos mais velho, vindo em passos lentos pela rua.

Ficamos em silêncio enquanto ele se aproximava, e quando ficou a cinco passos de Charlie, parou. O analisou com os olhos verdes, que seriam idênticos ao do filho se não fossem mais claros, e respirou fundo, passando a mão na barba rala.

— Me explique que merda é essa — ele disse, a voz extremamente grave.

— Não precisamos de você, pode ir embora — Charlie disse, sério como eu via raras vezes.

O pai dele revirou os olhos.

— Não vou deixar que se joguem na morte sozinhos, me explique — insistiu.

— Não finja que se preocupa — Charlie fez uma expressão de completo desgosto.

Levei um susto quando o homem avançou rapidamente, segurando Charlie pela roupa. Mas se eu me assustei, Charlie e Taylor nem se mexeram.

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