(Sem) Controle - I

Boas férias

Não dormi direito porque todas estavam muito agitadas com o fim do semestre, ainda mais estando todas oficialmente aprovadas.

E essa noite de sono mal sucedida me fez acordar meio mole para treinar com Charlie, o que, com certeza, seria motivo de piada quando ele percebesse.

Me troquei prendendo meu cabelo o mais firme que consegui, porque toda vez eu saía daquele ringue com tudo despencado. Vesti os coturnos por último e saí do quarto.

Charlie me olhou quando cheguei perto dele, me analisou cuidadosamente, o cansaço devia estar estampado no meu rosto.

— Não dormi muito bem, desculpa — me justifiquei antes de chegar nele.

— Vamos — me puxou para seu colo correndo comigo até o ringue.

Me colocou na grama e ajeitou as roupas indo até o ringue. Franzi o cenho.

— Episódio dois? — perguntei esperando alguns segundos para levantar.

— O que? — ele pegava algo quando respondeu, de costas para mim, e não se deu o trabalho de me olhar.

— Da série “manhãs de Charlie virado” — falei em uma voz dramática.

Ele riu e veio até mim com as fitas que sempre envolvia meus pulsos.

— Eu tenho uma série?

— Tem, com episódios semanais.

Charlie sorriu de volta e se ajoelhou à minha frente começando a passar as fitas nas minhas mãos.

— Estou cansado, desculpe a frieza — seu sorriso sumiu enquanto ele continuava a fazer o trabalho — apliquei as provas ontem e as minhas serão hoje.

— Eu vi você gritando — dei de ombros.

Charlie engoliu em seco.

— Estava nervoso, não costumo fazer aquilo.

Ia perguntar porque ele estava nervoso, mas em algum momento ele ia me cortar, como sempre me cortava quando eu começava a querer saber “demais”.

— E você passou, presumo.

Assenti. Ele repetiu o gesto e cortou a fita com um puxão se levantando depois.

— Suas avaliações são difíceis? — perguntei me levantando, indo até o ringue.

— Bastante.

— Acha que não vai passar?

Ele sorriu de lado e me olhou rapidamente.

— Isso é um sim ou um sem chance?

Ele me olhou rapidamente alongando o pescoço.

— Ok — falei quando não tive resposta.

Ele não se incomodou com a minha ironia e apenas se posicionou a minha frente.

— Vai continuar fazendo o aquecimento do jeito que te ensinei — ele disse, assenti — quero que corra pelo menos uma hora por dia, isso vai ajudar a fortalecer suas pernas — engoli em seco, não ia mesmo conseguir correr uma hora por dia — e para os braços… — ele me olhou, claramente analisando o que poderia me passar — não tem uma barra de macaco em casa, não é?

— Claro, em cada cômodo — ele suspirou — não, não tenho.

Ele me analisou mais alguns segundos.

— Flexões na parede, só pra não perder a forma.

— Oi?

Charlie me virou para o boneco de borracha.