Ele se preocupa

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— Não adianta se esconder, Emily, sabemos exatamente onde te achar.

Prendi a respiração me encolhendo ainda mais dentro daquele armário. Segurava a espada que Charlie havia feito contra meu peito, esperando não ter que usá-la.

— Emily — a voz cantarolou, agora mais perto.

Puxei o ar e prendi a respiração de volta.

— Papai e mamãe não estão aqui agora — ele estava cada vez mais perto — e nem o corredorzinho de estimação.

Fechei os olhos com força.

— Vai levitar uma cadeira e jogar em mim? — ele riu, estava definitivamente no mesmo cômodo que eu — já consegue jogar um corpo, Emily? Não, ainda não — ele riu mais.

Parei de ouvi-lo, de ouvir seus passos. Respirei fundo pensando que ele havia ido embora, meu batimento estava quase voltando ao normal quando ouvi três toquinhos na porta.

— Vai sair sozinha ou preciso te tirar daí?

Arregalei os olhos apertando os cobertores. O suor ensopando minhas roupas por baixo das cobertas.

Eu estava na minha cama, mas minha pulsação acelerada parecia a mesma do meu sonho. Tampei os olhos com o antebraço, tentando de forma inútil regularizar minha respiração antes de levantar para jogar uma água gelada no rosto.

Prendi meu cabelo em um coque, porque algumas mechas colavam na minha nuca, e fui devagar até o banheiro olhando meu reflexo. Estava corada e brilhando de suor. Joguei várias conchas de água gelada no meu rosto, e ao perceber que não poderia ligar o chuveiro sem acordar as meninas, tomei um banho improvisado usando um copo de plástico e a água da pia.

Olhava para o lado toda vez que tinha a sensação de ver algum vulto, mas nunca era nada. Por mais que meu coração tivesse se acalmado e minha respiração normalizado, não significava que ainda não estava com medo, porque eu estava, muito.

Me sequei indo para o quarto silenciosamente, e quando fui colocar o pijama, percebi que não voltaria para a cama, não aquela cama, não naquele quarto.

Vesti qualquer combinação que minha visão noturna me permitisse enxergar, peguei o celular do carregador ao lado da minha cama e coloquei as roupas de treino em uma bolsa, saindo do quarto silenciosamente.

Cheguei no saguão e respirei fundo ligando para aquele número que só tinha recorrido uma vez.

Mal tocou três vezes até Charlie atender.

— Pesadelo? — sua voz estava meio sonolenta e me senti mal por acordá-lo, de verdade.

— Sim.

— Estou chegando.

Esperei do lado de dentro naquela vez, e em menos de três minutos ele apareceu em frente a porta. Reconheci sua sombra, o formato de seu corpo antes que ele abrisse a porta devagar.

Charlie colocou a cabeça para dentro e me olhou. Usava uma bermuda preta, tênis desamarrados e nada cobria a parte de cima de seu corpo.

Abriu a porta completamente, e sem dizer nenhuma palavra, me pegou no colo dando dois passos para fora, fechando a porta com o pé, depois começando a correr tão rápido que minha cabeça se chocou contra seu peito.

O ar ficou quente e seu cheiro me invadiu. Estávamos no seu quarto.

— Emy — ele sussurrou, sua voz ecoou em seu peito.

Tão grave quanto a voz que vinha perturbando meus sonhos há tanto tempo.

— O que sonhou dessa vez? — disse baixinho me colocando sentada na cama.

(Sem) Controle - IOnde histórias criam vida. Descubra agora