Irrelevante

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Fazia uma semana, exatamente, desde meu último pesadelo. Acho que, finalmente, estava melhor.

Depois da pequena queda de ritmo em absolutamente tudo, parecia ter me ajustado, tanto nas aulas quanto nos treinos com Charlie. Ele fazia questão de reforçar que eu estava tendo uma melhora lenta, mas ainda assim, uma melhora. E bem, como já dito aqui, não esperava virar uma ninja, então para minhas expectativas estava ótimo.

— Vai comer isso?

Pisquei e olhei para Simon, ele apontava para minhas batatas fritas.

— Ah, não — ri — fique à vontade — empurrei o prato para ele.

— Valeu, lindinha.

Franzi o cenho o olhando enquanto ele começava a comer.

— Do que me chamou?

Ele me olhou e piscou.

— Emy?

Pisquei também.

— Achei que tinha ouvido outra coisa, desculpa — disse confusa.

— Ta precisando dormir mais — ele brincou.

Olhei para frente procurando o olhar acusatório de Abby, e como esperado, o encontrei. Ergui as sobrancelhas para ela e ela fez o mesmo, devolvendo a pergunta silenciosa de “que foi?”.

Revirei os olhos e olhei para Kate que… desenhava no braço de Nathan. Jack mostrava a Sarah as garras que ocupavam sua mão direita no momento, e Simon… bem, parecia entretido com as batatas fritas.

Mais um dia normal.

Puxei a minha sobremesa começando a comer devagar. Uma suave risada chamou minha atenção em meio às conversas e inclinei levemente a cabeça para visualizar aquela mesa quase na outra ponta do refeitório, era engraçado como eu nunca tinha sequer notado a presença da irmã de Charlie ali, e agora eu a via o tempo todo.

As semelhanças físicas eram cada vez mais evidentes. Até o jeito que ela erguia os ombros. Ri, gêmeos, claro que seriam parecidos, pelo menos era o que todos esperavam se tratando de gêmeos.

Depois do almoço, fui com Nathan até o corredor em que nos separávamos cada um para um lado, e com um sorriso e um aceno, nos despedimos. A sala estava quase cheia quando cheguei, mas Nancy ainda não tinha chegado.

— Oi — cumprimentei algumas meninas antes de me sentar.

Nancy chegou um pouco atrasada, e considerando que havíamos a visto antes do almoço, parecia que ela havia passado aquela uma hora e meia correndo em volta da escola, porque estava ofegante, um pouco vermelha, e o cabelo bem longe de estar perfeitamente organizado.

— Oi, meninas — ela sorriu — desculpem o atraso, vamos continuar — pegou as canetas em cima da mesa, voltando a fazer as anotações no quadro — ok, sobre o esquema de utilização das emoções.

Sempre pensei que emoções fortes intensificavam os poderes, mas estava errada. As emoções atrapalham e era exatamente o que Nancy passou a manhã toda explicando, o ideal era sempre manter a cabeça limpa o suficiente para não ter distrações.

— Resumindo — ela disse depois de mais meia hora falando sobre aquilo — as emoções só são úteis aos que possuem dons diretamente ligados a ela, como os empatas, por exemplo — saiu de perto do quadro e se apoiou na mesa — então vamos esvaziar a mente, como em uma sessão de yoga — ela posicionou os braços esticados aos lado do corpo e fechou os olhos nos fazendo rir baixo.

Todo mundo tentou, evidentemente esvaziar a mente, e quando abri os olhos bi que Nancy sorria para todas nós.

— Não precisam fazer literalmente agora, porque nem conseguiriam — ela negou levemente com a cabeça — mas é algo a se praticar ao longo do semestre. Alguns professores não dão tanta atenção a isso, mas eu acho essencial — ela deu de ombros — minhas alunas não saem daqui deixando a raiva, tristeza ou felicidade dominarem sua mente, seus dons, e a forma como os colocam para fora — piscou para a gente — agora peguem suas coisas, vamos praticar um pouco perto do lago.

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