Escolta

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Kate estava levemente consciente quando acordei naquela manhã. Não consciente o suficiente para me ver saindo, mas para qualquer pequeno barulho fazê-la se mexer na cama. Vesti as roupas que não colocava há duas semanas e prendi o cabelo antes de jogar uma água no rosto e escovar os dentes para sair.

Charlie usava sua blusa sem mangas hoje, havia de fato um sol considerável para aquela hora da manhã. Seus cabelos haviam crescido novamente e ele parecia um pouco mais desbotado, mas não de um jeito doente.

— Bom dia, lindinha — ele sorriu, os braços cruzados em frente ao peito — cresceu?

— Claro, um metro e meio.

Ele sorriu de lado e estendeu a mão para mim. Segurei sendo puxada confortavelmente para seu colo, e antes de começar a correr, ele me olhou rapidamente. Me desacostumei com o vento na minha cara e a sensação de enjoo que me dominou assim que Charlie parou, me colocando sentada na grama devagar.

— Quantos malditos quilômetros por hora você atinge? — eu disse meio ofegante, controlando a vontade de vomitar.

Charlie riu se afastando de mim para pegar alguma coisa.

— É muito relativo — ele disse, longe — mas na minha última prova, atingi cento e quarenta e sete.

Ele voltou para minha frente e além das fitas de sempre, tinha alguma coisa preta na mão.

— Pensei que fosse querer algo menos quente para dias como esse — colocou uma blusa sem mangas no meu colo, igual a que usava, mas evidentemente muito menor.

Peguei e sorri assentindo.

— Obrigada.

Ele sorriu também e acenou com a cabeça antes de se levantar e virar de costas para mim.

— Pode trocar, ninguém vem aqui essa hora.

— Ok — me levantei devagar — não vira — sorri para suas costas, como se ele pudesse me ver.

— Não vou — ele riu de leve — não por falta de vontade, tenha certeza.

— Cala a boca — tirei a manga longa que usava a substituindo pela que ele havia acabado de me dar.

Era extremamente confortável e justa, assim como a outra, mas a ausência de mangas tornava ainda mais confortável.

— Pronto — disse dobrando a manga longa a deixando na grama perto do ringue.

Charlie se virou para mim, me analisando alguns segundos e assentiu indo em minha direção com a fita nas mãos.

— Mãozinha — ele pediu estendendo sua mão.

Dei a mão para ele e Charlie começou a envolvê-la com as fitas, bem mais devagar do que eu sabia que fazia normalmente.

— Treinou nas férias?

— Mais ou menos.

Ele me olhou e ergueu as sobrancelhas.

— Odeia seguir regras, não é mesmo?

Acabei rindo.

— Fiz o aquecimento e as flexões, mas não consegui correr — ele agora passava a fita em meu pulso, mas os olhos estavam fixos nos meus — minha mãe estava o tempo todo comigo, então não deu.

Ele assentiu de leve e segurou minha outra mão para repetir o trabalho.

— Imaginei que não faria nada, então estamos no lucro — ele piscou pra mim e eu semicerrei os olhos para ele.

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