Intruso

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— Mais força de vontade — Charlie disse, cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas.

Suspirei, ajeitando o rabo de cavalo antes de me posicionar para começar a sequência de movimentos de volta.

Meu pai certamente viu na mente de Charlie algo relacionado aos nossos treinos, e ele e minha mãe concordaram em nos deixar treinar na garagem. Normalmente seria melhor fazermos no jardim, mas os vizinhos veriam e estranhariam. Então a garagem é o melhor lugar que tínhamos.

Fui trocar de perna na virada do movimento e por pouco não caí. Pensei que olharia para Charlie e o veria segurando o riso, mas ele apenas assentiu, indicando para eu continuar.

Minha mãe fez muito barulho nas escadas, anunciando que estava chegando, mas Charlie indicou para eu continuar, e eu assim fiz. Ela abriu a porta e eu encerrei o movimento a olhando depois.

— Bom dia — ela disse.

Acordávamos mais cedo para treinar, e óbvio que ela não perderia a oportunidade de dormir até umas nove horas, então sempre descia ali para nos dar bom dia.

— Eu vou fazer o café, se vocês quiserem — disse um pouco constrangida.

— Mais cinco minutos, preciso acertar isso pelo menos uma vez — eu disse, voltando para a posição inicial.

Ela ficou parada, me observando. Olhei para Charlie e ele assentiu de leve. Comecei a fazer a sequência devagar, mas de forma firme, como Charlie havia me mostrado, e por muito pouco que não consegui concluir direitinho.

Os olhos dos dois me acompanharam, e quando falhei no fim, olhei para Charlie em busca de aprovação, críticas ou sugestões.

— Melhor, bem melhor — ele deu um pequeno sorriso.

Vi minha mãe engolir em seco e saiu, sem falar mais nada.

Subimos e eu fui tomar banho no meu quarto enquanto Charlie fazia o mesmo no seu, e quando cheguei na cozinha, ele já estava lá, usando roupas normais, com os cabelos ainda um pouco úmidos e... ajudando minha mãe?

— Ela emperrou — minha mãe disse olhando para a cafeteira enquanto Charlie analisava o aparelho.

Em um movimento sutil, mas obviamente forte, ele abriu a máquina e estendeu a parte que minha mãe queria para ela.

— Obrigada.

— Disponha — ele sorriu de leve.

Fazia cinco dias que estávamos ali, e dizer que minha mãe gostava de Charlie ou que ficava confortável perto dele era muito, mas ela conseguia falar com ele e permanecer no mesmo recinto sem ser grossa ou fria. Enquanto isso, meu pai o tratava com a mesma educação e cuidado que tratava todos que conhecia, então eu realmente considerava que estava tudo ótimo.

— Quero granola — abracei minha mãe por trás e ela riu, colocando a mão por cima da minha.

— Sem novidades — ela disse — e eu esqueci de comprar seu iogurte de melancia, me desculpa — ela disse.

— Não tem problema — sorri quando ela se virou pra mim — tem algum?

— O de morango, eu acho — ela olhou para a geladeira como se pudesse ver dentro dela.

— Eu busco — Charlie disse — onde posso achar?

— Não precisa — o olhei.

— Insisto — piscou pra mim — onde tem?

— Tem num mini mercado há duas quadras, eu vou com você — soltei minha mãe.

— Não precisa, vou e volto bem rápido — ele ajeitou algo no bolso — precisam de mais alguma coisa, senhora Davis? — ele olhou para minha mãe.

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