Me ajuda

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Eu corria feito uma condenada, corria do que eu não conseguia ver, mas conseguia ouvir. Vozes me chamavam, aveludadas, atraentes, mas meu pânico era maior do que minha curiosidade de olhar para trás.

Os corredores do prédio das aulas estavam escuros, mas a claridade da noite era o suficiente para eu conseguir enxergar o necessário para não cair ou trombar em uma parede ou porta. Entrei em uma sala quando as vozes ficaram baixas, talvez passassem reto, esperava que sim porque não aguentava mais correr.

Tranquei a porta silenciosamente com a chave e peguei uma cadeira para travar a porta. Respirei fundo me sentando em cima da mesa do professor, olhando fixamente para a porta. Meu coração batia na garganta enquanto eu respirava ofegante, tentando descansar para outra fuga.

Os passos ecoaram no corredor e eu fiquei imóvel, como se eles pudessem sentir minha presença.

— Emily — ele cantarolou.

Engoli em seco apertando a mesa.

— Ah, Emily — ele riu — seus treinamentos não valerão de nada agora.

A porta explodiu.




Acordei ofegante, sentando na cama. Olhei para o lado, Kate dormia tranquilamente apenas com a ponta da cabeça para fora do cobertor. Coloquei a mão no peito tentando me acalmar, mas o pânico me dominava. Olhei para o relógio, pouco mais de uma da manhã, nem perto da hora de acordar.

Fiquei uns cinco minutos tentando me acalmar para voltar a dormir, mas ficava olhando os cantos do quarto como se aqueles homens fossem aparecer a qualquer momento. Eu precisava muito da minha mãe para me anestesiar naquele momento.

Pisquei com força olhando as roupas de treino ao lado da cama, escondidas embaixo de uma blusa. Charlie controlava as emoções, talvez pudesse me ajudar.

Levantei em um pulo e não me dei ao trabalho de trocar de roupa. Coloquei o primeiro tênis que vi na minha frente e passei um moletom por cima da blusa fina do pijama, puxei o celular para mim em um movimento silencioso e o coloquei no bolso da blusa tirando meu cabelo de dentro do capus antes de sair do quarto.

Passei pelos corredores e escadas de forma discreta e saí do dormitório, sem nenhuma desculpa plausível caso fosse pega no meio do caminho, mas não me atentei a isso.

Liguei a lanterna do celular ao entrar no bosque e fui quase correndo até o ringue, saberia me guiar até o quarto dele ao chegar lá. Havia ido só uma vez, mas graças aos céus prestei atenção até demais. Toda vez que achava ouvir alguma coisa, virava a lanterna naquela direção, e apenas uma vez foi um bicho, no resto delas havia um grande nada. Cheguei no ringue que parecia muito mais macabro aquela hora da madrugada, minhas bochechas vermelhas de calor, apesar do vento cortante da madrugada, olhei na direção dos dormitórios dos corredores e fui até lá.

A porta do dormitório de Charlie rangeu quando passei por ela, mas não alto o bastante para acordar alguém por ali, esperava que não, pelo menos. Fui até a porta de seu quarto e bati lentamente, o desespero tão forte em meu corpo que todas as coisas que poderiam estar me preocupando naquele momento, desapareceram, tipo eu estar batendo na porta de um corredor de madrugada.

Ele não atendeu, sequer ouvi algum barulho. Minha respiração começou a ficar pesada com a mera possibilidade de ter ido ali à toa, então bati de volta, um pouco mais alto. Algo se mexeu e eu olhei para cima, garantindo que estava no quarto certo, poucos segundos antes da porta abrir.

Charlie vestia só uma cueca branca quando abriu a porta, os cabelos desorganizados e o olhar completamente confuso quando me viu.

— Emi…

(Sem) Controle - IOnde histórias criam vida. Descubra agora