— Ei, ei — a tenente Torres se aproximava com cautela, estava realmente impossível de visualizar muitas coisas, mesmo que estivesse a um metro e meio de distância. Ela pisava com certo receio de que o chão embaixo dos seus pés desmoronasse e o teto acima da sua cabeça caísse.
A cada estalo da madeira sendo consumida, fazia seu coração acelerar um pouquinho mais. Seu rosto estava molhado de suor e seus olhos continham o verdadeiro significado do medo. A tenente seguiu vagarosamente, guiada somente pelo choro da criança.
— Ei, eu estou aqui — disse ao encontrá-lo: uma criança de aparentemente 8 anos de idade, no canto da sala abraçando os joelhos, com os braços escondendo o rosto — Como é o seu nome? — perguntou, ajoelhando-se ao seu lado.
— Charlie — respondeu, ainda sem olhá-la nos olhos.
— Ok, Charlie... O meu é Callie e eu vim tirá-lo daqui.
A criança se encolheu um pouco mais com o toque da tenente, agitando-se e tampando os ouvidos.
Calliope suspirou, havia entendido tudo. Estava ficando sem tempo, como o ajudaria se ele se agitava ao menor toque possível?
— Eu preciso que você me ajude, Charlie...por favor — pediu.
A criança continuou com a cabeça baixa, ignorando-a completamente. Um taco de madeira desprendeu-se do forro do teto, a uma distância mínima de onde estavam. O instinto fez a tenente se curvar sobre a criança e ela achou o momento ideal para carregá-lo contra a sua vontade. Charlie se debateu um pouco em seu colo, ela o abraçou forte em uma tentativa de protegê-lo contra o calor do fogo que já consumia quase todo o ambiente.
Precisavam descer um lance de escada até chegar a saída de emergência. O pé da tenente prendeu em algo que ela não conseguiu identificar, precisava soltar Charlie. Ela colocou-o no chão e sentiu uma dor absurda irradiar pelo seu tornozelo.
— Charlie, meu bem — ela sentou-se no chão, tentando esconder as caretas de dor — preciso que tente seguir, acha que consegue? Estamos perto da saída, mais um pouquinho e chegaremos lá fora — ela fez uma pausa — Eu sei que você é uma criança muito esperta — encorajou-o.
Após explicar o caminho até a saída, Calliope pediu silenciosamente para que ele chegasse até lá. Tentou mexer o pé e mordeu o lábio sentindo dor. A tenente sabia que se não tentasse, certamente morreria. Ela levantou-se com muita dificuldade, ignorando qualquer dor que estivesse sentindo, deu alguns pequenos passos, mas qualquer esforço mínimo parecia quase impossível, somado a todas as outras coisas que dificultavam a sua locomoção.
Parte do forro do teto cedeu, atingindo-a em cheio e a deixando desacordada.
[...]
— Onde está a tenente? — Arizona correu em direção a Charlie, assim que a criança conseguiu sair do prédio — DIGA ONDE ELA ESTÁ? — perguntou, segurando-o pelo braço.
Charlie estava atordoado e tossindo.
— Arizona! — o capitão Owen se aproximou — afaste-se.
O'Malley e Karev chegaram até a loira e viram uma Arizona fora de si — ONDE ELA ESTÁ? — perguntou, o terror se instalando em seus olhos azuis.
Erica se aproximou e levou a criança para a ambulância, receosa de que o pior houvesse acontecido à Calliope.
— Torres, preciso de uma atualização — disse o capitão, sério e preocupado, com o rádio comunicador em mãos.
Arizona não conseguia tirar os olhos da saída do prédio na esperança de que Callie surgisse, embora a saída estivesse cada vez mais comprometida.
— Tenente Torres, uma atualização — pediu novamente o capitão, sentindo os olhares do esquadrão o acompanharem.
Arizona abaixou-se, sentindo seu coração bater dolorosamente.
— Desabamento estrutural, peguem o tanque de oxigênio — disse o capitão, tentando manter-se firme — Ajudem a Torres — ordenou.
Prontamente o esquadrão agiu. Os bombeiros colocaram os capacetes e seguiram para a única entrada.
— Você fica — disse o capitão Owen, impedindo Arizona de seguir a equipe.
— Você não pode — ela tinha os olhos cheios de lágrimas — você não pode me impedir.
— Posso — o capitão Owen mantinha a voz firme — você não vai entrar lá nesse estado... é uma ordem!
[...]
— Droga — xingou George — eu não consigo ver nada! Tenente Torres! — gritou, na esperança de que ela pudesse dá algum sinal.
— Tentem andar com cautela — orientou Sloan — o chão está cedendo.
— Torres! — gritou Karev — Tenente Torres! — gritou mais uma vez, querendo por tudo encontrá-la para a sua amiga.
Ben Warren e Riggs estavam a alguns metros de onde a tenente estava, mas foi Karev quem a encontrou, com um bloco de cimento sobre seu corpo e um sangramento na cabeça, desacordada.
— PESSOAL, AQUI! RÁPIDO! — gritou, tentando sem sucesso mover o bloco sozinho.
Riggis e George o ajudaram.
— Estamos sem saída — Ben, observou— somente a ala leste ainda não foi tomada, precisamos ser rápidos.
Sloan colocou-a em suas costas — me guiem até a saída.
Karev e George foram na frente, indicando o melhor caminho e orientando-o onde pisar.
— Capitão — disse Ben, pelo rádio comunicador — preparem a ambulância, ligue para a minha esposa Miranda Bailey, do Seattle Grace, diga para deixar uma equipe em espera — ele suspirou — Torres está gravemente ferida.
— Ok, Warren.
[...]
Quando Arizona viu os rapazes saindo, ela correu em direção a Sloan. Ajudaram a colocar a tenente na maca.
A loira se aproximou e ajudou a manuseá-la para ambulância.
— Ei — Karev a segurou pelo braço — estou atrás de você, ok? Nos encontramos no hospital — disse, a vendo afirmar com a cabeça, ainda atônita.
Dentro da ambulância ela não conseguia pensar em muitas coisas. Ela viu Erica precisar iniciar o protocolo de reanimação, queria ser útil, queria salvar o amor da sua vida mas não podia fazer absolutamente nada.
Por um instante em sua cabeça passou um vídeo de tudo que havia vivido com Callie, pensar que não tê-la mais em sua vida também era uma possibilidade fazia seu coração doer um tanto sem tamanho.
~.~
Qualquer erro será arrumado em breve!
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Broken - Calzona
FanficQuando Calliope Torres ficou viúva, sentiu uma nuvem nublada pairar sobre sua cabeça. A bombeira jamais se perdoou por não ter conseguido salvar a vida de Penelope Blake, sua esposa, desde então tornou-se uma pessoa enclausurada em culpa e amargura...