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Melissa

Eu estava confusa comigo mesma, por que eu fui abrir a minha boca grande? Devo ter enlouquecido mesmo, falar dos meus pais com o professor? Que mancada. O que me consola é que Carlos é um professor ético, e nunca falaria da vida pessoal de uma aluna.

A trilha de volta estava esquisita, a única coisa que eu prestava atenção era no professor, que andava com bastante pressa, afinal precisávamos montar nossas barracas antes que ficasse tudo escuro. Felizmente a trilha até o local do acampamento era menor do que a do começo, e chegamos lá a tempo

"Chegamos pessoal, rápido todos montando suas barracas, agora" e foi que todos nós fizemos. Eu escolhi um lugar e fui pegar minha barraca mas minha coisas. Mas eu não estava achando minha barraca, em lugar nenhum dentro da minha mochila, por Deus, será que eu tinha perdido? Como?

"Olha só quem eu encontro, a rata de esgoto."
De novo Rebeca, mas que diabo, essa garota não se cansa de me incomodar?"
"O que você quer, Rebeca?"
"Apenas saber como vai se virar sem barraca, acho que você vai ter que dormi ao ar livre, já que o ônibus esta tão longe."
Eu fiquei um pouco confusa, então eu entendi. Aahhh essa vaca infeliz.
"Onde você escondeu minha barraca?"

A puta deu um sorriso irônico, minha vontade é de encher a cara dela de tapas e socos, só para ela tirar aquele sorriso desaforado do rosto."
"Aquela coisinha de pobre, huuuumm deixa eu pensar... " Rebeca colocou a mão no queixo e fingiu pensar. "Ah me lembrei, joguei aquela coisa feia no lago, nem a pessoa mais miserável merece dormi naquilo"

Naquela hora o meu sangue ferveu, e tinha o detalhe que havia esquecido de tomar o meu remedio. Minha tia tinha pagado bem caro por aquela barraca, e agora aquela putinha metida a ser rica faz aquilo? Agindo por impulso, eu dou um soco na biscate, o que a faz cair no chão.

"Quem você pensa que é, sua puta!?"
Eu fiquei em silêncio, só olhando ela de nariz sangrando. Ela se levantou rapidamente e me encarou com ódio, e eu sorri, eu adorava vê-la com raiva.
"Agora você vai ver, mulata!"
Rebeca fez o movimento para me dar um soco, mas Carlos chegou bem na hora.

"O que esta acontecendo?"
Imediatamente Rebeca abaixou a mão, e sua expressão mudou de ódio para choro em um passe de mágica.
"Ela acabou de me agredir rudemente, sem motivo"
Com licença? Sem motivo?
"Ela jogou minha barraca no lago"dessa vez eu não iria deixar essa puta desgraçada sair por cima.
"Mentira dela, eu nunca faria isso!"

Ela mentia com tanta facilidade, que ódio.
"Chega! Melissa é verdade que você a agrediu?"
Eu abaixei a cabeça, não gostava quando ele falava naquele tom de acusação.
"Sim, é verdade"
"Viu? Eu disse... "
"Silêncio senhorita Pardo! E por que você agrediu Rebeca, Melissa?"
"Eu já disse o por quê, ela jogou minha barraca no lago, e agora eu não tenho onde dormi"

"É mentira, ela deve ter esquecido em casa, e agora está me acusando de ter jogado no lago"
Como ela pode mentir daquela maneira? Que ordinária, ainda bem que faltava pouco para me livrar dela de vez.
"Tem certeza que não tem onde dormi, Melissa?"
"Claro que não tenho professor, duvido que alguém tenha uma barraca sobrando, e se tivessem também não iriam me emprestar"

"Como sabe disso?"
Fiquei indignada com a pergunta, como ele pode perguntar isso? Não era óbvio o suficiente? Não respondi, virei a cara e fiquei de bico para ele.
Percebendo que eu não iria responder, Carlos tratou de pensar em alguma solução. Mas a maldita da Rebeca não consegui se manter quieta, logo tratou de quebrar o bendito silêncio.

"Eu exijo que essa macaca seja castigada, se não eu vou contar tudo pro meu pai, que é O DIRETOR da escola!"
Minha vontade foi da outro murro, e deixar essa putinha desdentada.
Olhei para Carlos, ele parecia indignado e furioso.
"Sob qual acusação?" perguntou Carlos, claramente irritado, se controlando para fazer nenhuma besteira.
"Ora, ela me deu um soco, ainda me acusou sem provas, eu quero que ela saia desse acampamento."

A não, eu não acredito que vim nesse acampamento para sair logo na primeira noite, que absurdo!
"Mas também não tem provas que a senhorita Silva te agrediu senhorita Pardo."
A voz de Carlos era tão aveludada e calma, nunca nenhum professor enfrentou a Rebeca assim.
"Mas há testemunhas! E ela confessou! "
Eu e o professor olhamos ao redor, e só havia os curiosos observando tudo, mas eu e Rebeca estávamos sozinhas quando toda aquela confusão aconteceu.

"Alguém viu a senhorita Silva agredir a senhorita Pardo?"
O olhar que professor lançou a todos, deixava claro qual era a resposta que todos deveriam dar. Todos disseram não ou balançaram a cabeça em negativa, até as amiguinhas de Rebeca ficaram pianinho com o professor.
Rebeca estava vermelha, olhava para todos furiosa, como se eles a tivessem traindo.

"Bom senhorita Pardo, como não há provas e nem testemunhas das suas acusações, peça desculpas para a senhorita Silva, por te-la chamado de macaca."
Olhei para o professor surpresa, um professor estava mandando uma aluna se desculpar comigo? Não acredito.
Eu conseguia ver a fumaça sair dos ouvidos de Rebeca, estava indignada. Ai que delicia, apesar de saber que o que fiz não foi certo, não importava, dessa vez eu me sinto vitoriosa.
"O que? Eu não vou pedir desculpas para essa negra...!"

"É uma ordem Senhorita Pardo! Se não pedir desculpas agora, vou fazer com você ficar dois meses de suspensão, entendeu? "
"Meu pai nunca permitiria...!"
"Aaaa acredite senhorita Pardo, eu serei capaz de convencer seu pai."
Todos ao nosso redor estavam rindo da situação, mas dessa vez não era de mim, era dessa bruxa, que se acha a dona do mundo.
Rebeca engoliu em seco e olhou todos ao redor, sua cara de ódio era impagável, será que eu era uma pessoa horrível por estar gostando disso?

"Desculpa" ela falou tão baixo que nem deu para escutar.
"Perdão, mas eu não escutei direito, fale mais alto, e fale o porque você estar se desculpando." era nítido o deboche do professor, ele parecia estar amando aquela situação.
Rebeca respirou fundo, e me olhou no fundo dos meus olhos, eu podia sentir toda a raiva que ela estava sentindo.
"Desculpa ter te chamado macaca, Melissa"
Olhei para ela de cima a baixo, e sorri.
"Não se preocupe Rebeca, eu tenho orgulho de quem sou, eu te perdoou sim, não sou de guardar mágoa. Mas que isso não se repita mais, pois ser a filha do diretor ou ser branca, não te da o direito de insultar ninguém. E me desculpa por ter te agredido."




Nadando Contra A EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora