Capítulo 28: Ele vai voltar.

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Ian me encarou por alguns segundos, antes de soltar a xícara de café e soltar um suspiro pesado, cruzando os braços. Aquilo me fez ficar um pouco ansiosa, porque não estava preparada para ouvir que Vincent havia ido embora.

—Ele disse que você provavelmente ia precisar de um tempo depois do que aconteceu ontem e que não queria te pressionar nem nada. —Ian deu de ombros, parecendo pensativo. —Ele imaginou que você ia querer espaço, além de dizer que precisava resolver algumas coisas. —Ian ficou de pé, dando a volta na mesa até colocar as mãos nos meus ombros. —Ele vai voltar, Beca. Até lá você pode pensar no que ele te disse e no que aconteceu. Vincent ainda é meu padrinho de casamento.

—Ficou muito óbvio pra todo mundo ontem a noite que vocês se gostam. —Gavin esfregou os cabelos ruivos. —E nós queremos o bem de vocês dois. Além de entendermos perfeitamente qualquer decisão que você tomar sobre o Vincent.

Gavin piscou pra mim, enquanto eu absorvia o que Ian havia dito antes. Logo pude ouvir o som dos outros entrando na casa e vindo em direção a mesa para tomar café da manhã. Me senti um pouco constrangida no primeiro momento, porque sabia que todos eles haviam escutado nossa discussão de madrugada.

Mas não pude me sentir mais aliviada quando eles deram bom dia e se sentaram para tomar café, sem nem tocar no nome de Vincent e no que aconteceu. Pietro estava ocupado arrumando o chocolate quente de Hermione, enquanto ela olhava com uma careta para todas as comidas que haviam ali, parecendo não estar com a mínima vontade de comer algo.

Grace e Alfredo estavam falando com Gavin sobre precisarmos fazer acampamentos mais vezes. Acho que eu nunca havia me sentido tão grata por ser amiga daquele grupo de pessoas. Era por isso que eu sabia que independe do que acontecesse, eles ainda estariam lá por mim.

Vincent

Percebi assim que coloquei meus pés de volta na cidade que já estava com saudades daquela fazenda. Era incrível como alguns dias podem mudar completamente tudo que você pensa sobre alguma coisa. Eu havia acabado de estacionar o carro na frente da casa dos meus pais e não via a hora de voltar pra fazenda de novo.

Desci do carro, observando a fachada da casa branca de dois andares, enquanto sentia meu coração um pouco apertado. Não por todas as decisões que estava tomando, mas por medo de perder a única coisa que havia me dado coragem pra ser diferente. Eu estava perdido e Rebeca me mostrou o caminho que eu precisava seguir. Agora eu só precisava ser corajoso e confiante como ela era.

Entrei em casa, sabendo que era cedo demais para meu pai ter saído pra trabalhar. Eu havia pegado a estrada de madrugada, logo após a discussão com Rebeca, porque queria chegar o mais cedo possível e ir embora o quanto antes. Não me surpreendi quando encontrei meus pais sentados na mesa. Ela comendo uma salada de frutas e ele ocupado lendo um jornal, o que era uma grande ironia.

—Vincent? —Minha mãe soltou um gritinho assustado, erguendo os olhos assim que eu me aproximei. Meu pai abaixou o jornal, parecendo tão surpreso quanto ela ao me ver ali.

—Bom dia. —Falei, enfiando as mãos no bolso da calça, enquanto sentia um peso enorme sobre meus ombros. —Que bom que estão os dois aqui.

—O que está fazendo aqui? —Meu pai olhou para minha mãe e depois pra mim de novo. —Não me diga que não vai mais haver casamento.

—Vai sim. Os noivos estão bem seguros do que querem. —Falei, vendo meu pai soltar um suspiro de alívio.

—Ainda bem. Estou contando com essa matéria de vocês. Seremos os únicos a ter uma matéria completa sobre esse casamento. —Ele abriu um sorriso animado, enquanto eu encolhia meus ombros. —Então por que está aqui? Veio me mostrar o que já escreveram? Eu te mandei várias mensagens e você não respondeu nenhuma. Estou ficando um pouco ansioso com o que você e Rebeca irão fazer com essa matéria.

—Pai... —Eu fechei meus olhos por alguns segundos, respirando fundo. —Você sabe que nós dois somos os padrinhos, não é? Não estamos lá por causa dessa matéria. Ela é um bônus.

—Não diga besteira. —Minha mãe riu, servindo uma xícara de café e indicando que eu sentasse na mesa, mas eu não consegui me mover. —Uma matéria sempre vem em primeiro lugar para um jornalista.

—Sua mãe tem razão. Mas você vai entender isso quando se tornar dono do jornal. —Meu pai pegou uma xícara de café, enquanto voltava a atenção para o jornal. —Pretendo me aposentar logo. Sua mãe quer viajar e você vai assumir o jornal...

—Eu vou me demitir. —Falei, vendo minha mãe se engasgar com a salada de frutas, enquanto meu pai abaixava o jornal e olhava pra mim com uma expressão confusa, sem se importar com ela tossindo ao seu lado.

—O que?

—Eu vou me demitir. —Afirmei, sentindo minha cabeça doer a medida que o nervosismo tomava conta de mim. Eu estava tão cansado de tudo aquilo. Estava tão cansado de ser aquele cara. Eu nem mesmo me reconhecia. —Vou fazer minha carta de demissão e deixar no jornal depois.

—O que está falando? —Minha mãe passou a mão pelos cabelos escuros, ficando de pé. —Vincent, o que pensa que está fazendo? Esse é o trabalho da nossa família. Seus avós eram jornalistas. Seu pai e agora você. Não pode estar falando sério.

—Não é hora de brincadeira, Vincent. —Meu pai sibilou, esfregando a testa e soltando uma risada nervosa. —Não sei o que pensa que está fazendo. Mas pare agora mesmo.

—Eu estou pensando em algo que eu deveria ter feito a muito tempo. Eu não quero mais ser jornalista. Eu não gosto nem um pouco desse trabalho. —Deixei claro, vendo que meus pais finalmente começavam a entender que eu não estava brincando. —Eu estou fora do jornal. Vou trabalhar em algo que eu gosto. Vou fazer minhas próprias escolhas daqui pra frente.

Meu pai riu, empurrando a cadeira e ficando de pé, olhando pra minha mãe com uma expressão divertida antes de se virar pra mim e ficar sério.

—Chega, Vincent. Se quer chamar atenção, já conseguiu. Não sei porque veio até aqui, mas volte para aquela fazenda e termine o trabalho. Quando você voltar a gente conversa sobre isso. —Afirmou, me fazendo comprimir os lábios em frustração, antes de balançar a cabeça negativamente.

Era sempre aquilo. Sempre um "vamos conversar sobre isso depois", porque depois eles sempre davam um jeito de me influenciar a fazer o que queriam. Eu sempre cedia. Aquilo me fez perceber o quanto eu queria ter feito algo muito antes.

—Não tem depois. Eu vou ajudar a Rebeca a terminar essa matéria. Não vou deixá-la na mão. Mas eu estou fora do jornal daqui pra frente. —Insisti, vendo minha mãe se sentar de novo, com os olhos arregalados e o rosto ficando pálido.

—Que merda você pensa que está fazendo? —Meu pai saiu de perto da mesa e veio para perto de onde eu estava. —Você tem 26 anos, Vincent. Não seja imaturo e muito menos faça escolhas ridículas como essa.

—Você disse certo. Eu tenho 26 anos e já está na hora de eu fazer minhas próprias escolhas. A primeira delas é sair do jornal. —Falei, sentindo meu coração tão acelerado. —E depois do casamento eu vou pegar minhas coisas aqui e ir morar em outro lugar. Um apartamento ou sei lá, algo só meu. Achei que deveria avisar vocês com antecedência.

—Você... —Meu pai soltou uma respiração pesada, puxando os cabelos para trás enquanto negava com a cabeça. Até ele subitamente parar e olhar pra mim com uma expressão irritada. —Isso tem a ver com a Rebeca? Você está fazendo isso por causa dela?



Continua...

Missão casamento / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora