Rebeca
Não soube o que pensar por alguns segundos, porque meu coração pareceu chegar a boca com cada coisa que eu ouvi sair da boca de Vincent e do pai dele. Estava tudo indo bem, com Gavin saindo do quarto pronto para se casar.
Sabia que era errado ouvir a conversa dos outros, ainda mais de um assunto tão particular. Mas os dois estavam bem no caminho para o celeiro e foi inevitável não ouvir toda a discussão. Agora tudo fazia tanto sentido.
Por algum tempo tudo que eu fiz foi encarar os dois, enquanto sentia os olhos dos meus amigos em mim, preocupados. Vincent estava pálido, parecendo com medo da minha reação. Ele havia sido sincero comigo. Ou parcialmente sincero, esquecendo de citar que o pai era o verdadeiro culpado de tudo.
—Rebeca... —Vincent engoliu em seco quando me aproximei, parecendo desesperado para dizer alguma coisa, mas sem saber o que.
—Por que não me contou aquela noite? —Indaguei, sentindo meu sangue tão quente de raiva e ao mesmo tempo de alivio. —Por que não me disse que tinha sido por causa dele?
Meu chefe soltou um suspiro pesado, como se estivesse impaciente e frustrado com o rumo daquela discussão. Mas ele não fazia ideia do que era frustração de verdade, porque sempre teve tudo que queria.
—Eu não sei. Fiquei com medo da sua reação e apesar de tudo... —Vincent olhou para o próprio pai, balançando a cabeça negativamente como se estivesse decepcionado consigo mesmo. —Ele ainda é meu pai e eu não queria coloca-lo no meio de nos dois, porque eu sabia como as coisas haviam acabado da primeira vez.
—Ah, Vincent! —Fechei meus olhos com força, engolindo o nó que se formou na minha garganta, antes de voltar a encara-lo. —E aquela noite do jantar, por que não foi até lá e me contou? Por que preferiu...
Não terminei de falar, porque sabíamos muito bem o que ele havia falado pra mim no dia seguinte. Até mesmo isso fazia sentido agora. A primeira coisa que ele havia feito quando o questionei sobre o encontro foi perguntar sobre a importância do meu trabalho.
—Eu não falei nada porque pensei que era óbvio o que você iria preferir. Nós dois havíamos acabado de nos conhecer, Rebeca. Eram poucas semanas convivendo juntos e aquele era nosso primeiro encontro, que talvez nem desse em nada. —Vincent ergueu o óculos, parecendo nervoso. —Quando pensei nisso, enquanto estava no carro observando você dentro do restaurante, foi claro pra mim que você iria preferir seu emprego a alguém como eu. Eu fiz uma escolha achando que era o que você ia preferir. Sei que isso não muda o jeito babaca que te tratei, mas eu só estava tentando fazer o que achava certo.
—Você achou que eu escolheria meu emprego a você. —Falei, entendendo perfeitamente tudo que ele estava falando. Vendo que Vincent estava de coração aberto pra mim.
—Eu fui um idiota, porque agora eu sei que se tivesse ido naquele encontro, nós dois teríamos ficado juntos. Mas não queria ser culpado pela sua demissão, de uma coisa que sempre foi o seu sonho. —Afirmou, me olhando como se eu fosse a coisa mais importante da sua vida. —Eu sinto muito, Beca. Me perdoe por...
—Não. —Balancei a cabeça negativamente, com o meu coração prestes a explodir. —Eu que deveria dizer isso. Eu fui rude com você todo esse tempo, quanto tudo que você fez foi prezar pelo meu sonho.
Vincent abriu um sorriso pra mim, com os olhos se iluminando quando percebeu que eu não estava brava com ele. Não tinha como ficar, quando a culpa nunca foi dele. Não quando eu o conhecia tão bem e sabia o que ele sentia por mim.
—Ah, pelo amor de Deus! —O pai de Vincent exclamou, me lembrando que ainda estava ali, quando não deveria estar. —Quanto sentimentalismo!
—Seu filho da puta! —Falei, sem me importar se estava falando um palavrão. Porque se ele tinha a capacidade de chantagear o próprio filho, então não merecia um pingo de educação.
—Cuidado, eu ainda sou o seu chefe! —Alertou, com o rosto se tingindo de vermelho vivo.
—Cuidado você! —Parei na frente dele, me sentindo tão furiosa. —Primeiro que você nem deveria estar aqui. Que eu saiba, não foi convidado por nenhum dos noivos, então posso considerar sua presença aqui como invasão.
—Eu sou...
—Eu ainda não terminei! —Ergui a mão, fazendo ele fechar a boca e me encarar ofendido. Ótimo, nós dois estávamos ofendidos. —Você vai sair daqui e ficar de boca fechada até esse casamento terminar. Se você ousar estragar essa cerimonia, eu mato você.
—Eu ajudo a esconder o corpo. —Grace murmurou, e Gavin balançou a cabeça em concordância.
—Eu vim até aqui falar com o meu filho! —Ele retrucou, soando tão ofendido que eu tive vontade de rir
—Acho que você ainda não entendeu. —Gavin parou na frente dele, enquanto eu observava Hermione indicar para Vincent entrar no celeiro.
Ele hesitou, olhando pra mim com uma expressão preocupada. Assenti para ele, deixando claro que estava tudo bem. Vincent ainda parecia hesitante quando foi. Mas estávamos ali pelo casamento dos nossos amigos. Depois poderíamos nos resolver com o pai dele.
—Esse é o meu casamento, que está a segundos de começar. —Gavin olhou pro pai de Vincent com as sobrancelhas erguidas. —E como Rebeca mesmo falou, você não foi convidado por mim e muito menos pelo Ian. Então saia daqui, ou vou chamar alguém para arrasta-lo pra fora. —Gavin apontou para a saída, fazendo o grande senhor Hale hesitar. —Mantenha sua bunda enxerida lá fora, porque se você pensar em estragar o melhor dia da minha vida, vou sair falando tão mal do seu jornal, que sua carreira vai acabar da pior maneira possível.
Ele olhou para Gavin como se não soubesse se ele estava falando ou não sério. Mas vi quando ele engoliu todo o orgulho e saiu dali, me lançando um olhar irritado que eu fiz questão de lhe lançar também.
—Você está bem, Beca? —Hermione parou na minha frente, me observando com tanta preocupação que eu me senti muito melhor por todos eles estarem ali comigo. Percebi que estava tremendo quando ela tocou minhas mãos, abrindo um sorriso carinhoso pra mim.
—Eu estou bem, Hermione. Obrigada. —Apertei as mãos dela de volta, respirando fundo e me virando para Gavin e Grace. —Acho que já atrasamos Gavin o suficiente.
—Ah, tudo bem, eu gosto de um bom barraco. —Ele soltou uma risada, que me fez sorrir. —Mas agora precisamos ir, porque eu não vejo a hora de me casar.
Continua...
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Missão casamento / Vol. 3
RomanceRebeca Duarte está mais do que feliz com sua carreira de jornalista, mesmo que tenha que lidar com Vincent Hale, seu parceiro e filho do seu chefe, com quem ela troca farpas diariamente. Além disso, ela está certa que não existe nada além de trabalh...