Quando a porta se fechou eu me virei para Ian, abrindo e fechando a boca sem saber o que dizer. Meu coração estava tão acelerado que eu tinha absoluta certeza que sairia daquela fazenda dentro de uma ambulância.
—O que? —Falei, com a respiração presa na minha garganta. —Que história é essa, Ian?
—Você aceitou sair em outro encontro com o Vincent, não foi? —Ele deu de ombros, caminhando até minha mala aberta e toda revirada no chão. —Então você vai em um encontro com ele hoje, simples. Temos que arrumar você, logo ele vai aparecer aqui pra te buscar.
—É isso que ele e o Alfredo estão fazendo? —Indaguei, umedecendo meus lábios quando minha boca ficou subitamente seca. —Estão arrumando tudo para termos um encontro?
—É óbvio, Beca. —Ele começou a tirar as coisas da minha mala, observando as roupas que eu havia trazido. —Pensou o que, que ele ia desistir?
Não, mas ao mesmo tempo sim. Eu estava confusa e aquilo tinha me pegado desprevenida depois de toda tarde esquisita que tivemos. Eu estava esperando que ele insistisse no encontro, mas não depois da noite de ontem, quando tudo desmoronou ao nosso redor.
—E os outros? —Falei, olhando desconfiada para Ian.
—Gavin, Grace e Hermione? —Ian me olhou por cima do ombro e deu de ombros. —Não faço ideia. Vincent disse que imaginava o que era, mas que não iria dizer nada pra nos.
—Por quê? —Eu fiz uma careta, vendo Ian soltar uma risada e jogar uma roupa pra mim.
—Porque ele disse que não é algo dele pra contar e ele nem tem certeza. Vai se vestir, se não ficar bom, escolhemos outra. —Ian estalou os dedos na direção do banheiro, me fazendo bufar em frustração.
Ele disse "escolhemos outra" como se não fosse ele a estar fuçando nas minha mala cinco segundos atrás, enquanto eu ainda tentava entender o que estava acontecendo com todo mundo. Peguei as roupas e marchei pro banheiro, não querendo perder tempo discutindo com Ian.
[...]
Me encarei no espelho, observando o vestido preto que Ian havia encontrado em meio à confusão das minhas roupas na mala. Ele acabava nos meus joelhos, desenhando cada curva do meu corpo. Eu olhava para ele de vez em quando, enquanto me ocupava me maquiando na frente do espelho, com Ian com os olhos atentos sobre mim como se eu fosse fugir.
—Você parece tranquila. —Ian comentou, se jogando na minha cama ao lado de Pingo, que observava tudo com aquela expressão ranzinza dele. —Eu pensei que você ficaria brava ou até mesmo nervosa.
—Eu nunca fui de correr. —Dei de ombros, amaçando aquelas molas que se formavam no meu cabelo um pouco úmido do banho. —Não fiz nada de errado pra ficar nervosa. Quem tem que estar nervoso é ele.
—Ele estava quando falou sobre o encontro. Mas, Beca, de uma chance a ele, ok? Ele está realmente tentando. —Ian afirmou, me fazendo soltar um suspiro e assentir com a cabeça, antes de terminar de me arrumar e me afastar do espelho.
—Por que você virou amigo dele mesmo sabendo de como ele havia agido comigo? —Indaguei, vendo Ian se sentar na minha cama e bater do lado dele para que eu me aproximava. Peguei meus sapatos do meio do caminho e me sentei do lado dele, colocando-os nos pés.
—Você pode achar que eu esqueci disso, mas eu não esqueci, Beca. Eu me lembro do quão machucada você ficou no dia, se sentindo péssima como se tivesse feito algo muito grave. —Ian segurou minha mão, me fazendo erguer os olhos para encara-lo. —Mas então vocês dois começaram a trabalhar juntos e inevitavelmente eu acabei conhecendo ele. Eu sabia que ele havia te machucado, mas eu também não podia ignorar a forma como ele te olhava e agia perto de você, Rebeca. A pessoa que você havia descrito pra mim não se parecia nem um pouco com o Vincent que eu conheci e que eu convivo até hoje. Além do mais, ninguém olha pra alguém da forma como ele te olha, se houvesse apenas indiferença.
—E como ele me olha? —Indaguei, engolindo muito lentamente, com meu coração acelerado.
—Como se você fosse o mundo todo. —Ian abriu um sorriso pequeno. —Sabe onde eu já vi isso? —Quando balancei a cabeça, o sorriso dele aumentou e sua mão apertou a minha. —Pietro olha dessa mesma forma pra Hermione. Como se ela fosse o mundo todo. Como se ela fosse a própria lua e as estrelas. E é desse jeito que o Vincent sempre olhou pra você, Rebeca. Talvez você estivesse com tanta mágoa que nunca conseguiu perceber isso. Mas é assim que ele te olha.
—Você está ficando louco. —Falei, atracando uma risada dele, antes de Ian se inclinar e beijar a ponta do meu nariz.
—E você está fugindo da verdade. Abra os olhos, Beca. Como Vincent mesmo disso, está na hora de parar de fingir. —Ian piscou pra mim, enquanto ouvíamos o som de alguém batendo na porta.
O sorriso dele se tornou praticamente ofuscante quando me coloquei de pé e me virei para a porta, sabendo que era Vincent quem estava do outro lado. Não fazia ideia de como esse encontro iria funcionar, mas não estava nervosa e sim ansiosa. Caminhei até lá com o coração na boca e o corpo inteiro queimando em antecipação.
Ergui o queixo, respirando fundo e então abri a porta, sentindo meu coração despencar dentro do peito e minha boca inteira secar ao ver Vincent bem ali, usando um smoking preto que o deixava de tirar o fôlego, enquanto os cabelos estavam bagunçados como se ele tivesse passado horas na frente do espelho tentando arruma-los, mas sem sucesso.
Vincent abriu e fechou a boca várias vezes, com as bochechas se tingindo de vermelho quando olhou pra mim. Ele ergueu o óculos com o dedo indicador e engoliu em seco, parecendo tão sem fôlego quanto eu.
—Você está linda. —Afirmou, soltando uma respiração pesada e estendendo a mão pra mim. —Eu teria comprado flores, mas... —Ele deu de ombros, envergonhado. —Você aceita jantar comigo essa noite?
Meu estômago se encheu de borboletas pela forma carregada que ele me encarava, parecendo tão ansioso quanto eu. Então abri um sorriso leve e segurei a mão dele.
Continua...
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Missão casamento / Vol. 3
RomanceRebeca Duarte está mais do que feliz com sua carreira de jornalista, mesmo que tenha que lidar com Vincent Hale, seu parceiro e filho do seu chefe, com quem ela troca farpas diariamente. Além disso, ela está certa que não existe nada além de trabalh...