Capítulo 1: Eu quero matá-lo.

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4 anos antes...

O som da buzina do carro me fez sobressaltar, antes de eu me virar no meio da faixa de pedestre para o apressadinho que quase havia batido contra mim, já que a frente do carro estava praticamente beijando minha saia preta.

—Passa por cima, babaca! —Exclamei, erguendo a mão e mostrando o dedo do meio para o indivíduo que me fuzilava com os olhos.

Ouvi a gargalhada do meu melhor amigo Ian enquanto terminava de atravessar a rua, o encontrando na frente do Ice's Coffee, o café que ele era dono, rindo feito uma hiena logo cedo. Era uma manhã de segunda-feira e estava nublado. Ninguém deveria ser tão animado assim em um dia como esse. Mas Ian era.

Eu o conhecia desde criança, porque nossos pais eram vizinhos e amigos, então brincávamos juntos e crescemos juntos. Ele se tornou meu melhor amigo quando éramos crianças e continua sendo até hoje. Ele costuma dizer que eu sou a tempestade e ele o raio de sol. As vezes eu até concordo com ele. Quase sempre, na verdade.

—Já está estressada logo cedo, florzinha? —Murmurou, e eu mostrei a língua pra ele, antes de entrar no café com ele rindo atrás de mim. —Pensei que iria estar animada hoje.

—É segunda, Ian. Você é o único ser da face da terra que fica animado em uma segunda-feira. —Afirmei, me sentando em um dos bancos, sentindo o cheiro de café e donuts em cada dando daquele lugar.

—Ragazzo, o mesmo de sempre pra Beca! —Ian gritou para Pietro, que acenou e foi para a cozinha. —Ansiosa pra hoje?

—Estaria mentindo se dissesse que não. —Falei, soltando uma risada nervosa.

Eu trabalhava em um jornal antigo de Aspen desde que saí da faculdade, há dois anos. Não nada muito importante, até agora. Fazia algumas semanas que a vaga de editor chefe havia ficado livre e e meu chefe havia deixado claro que eu era a melhor para o cargo. E hoje era finalmente o dia que eu pegaria oficialmente o cargo.

—É o cargo dos meus sonhos desde que eu entrei naquele jornal, Ian. —Afirmei, soltando um suspiro pesado. —Nem acredito que ele finalmente vai ser meu.

—Bom dia, Beca. —Pietro deslizou um copo de café pra minha frente, junto com um pratinho de cookies.

—Beca vai virar editora chefe hoje. Deveríamos sair pra comemorar mais tarde. —Ian murmurou, fazendo Pietro olhar pra ele e erguer as sobrancelhas.

—Numa segunda? —Ian deu de ombros, fazendo Pietro rir e se virar pra mim. —Parabéns, Beca. Sei que se esforçou muito nas últimas semanas pra ficar com esse cargo. Você vai se sair muito bem.

—Bem, obrigada, estou morrendo de ansiedade. —Falei, dando um gole no meu café. —Deveríamos mesmo sair pra comemorar. Aquele jornal tem sugado minha alma desde que eu comecei a trabalhar lá.

—Passa lá em casa depois do seu trabalho. —Ian afirmou, me fazendo olhá-lo com as sobrancelhas erguidas. —Podemos sair pra beber ou qualquer outra coisa.

—Eu tô dentro. —Pietro murmurou antes de se afastar para ir atender outro cliente.

—Fique tranquila, Beca, vai dar tudo certo. —Ian piscou pra mim, antes de revirar os olhos e murmurar um "tudo eu nesse merda" quando um dos funcionários gritou ele da cozinha.

[...]

Infelizmente eu descobri uma hora depois que tudo daria muito errado e muito rápido.

Primeiro o elevador estava passando por manutenção quando cheguei e eu fui obrigada a subir os 8 andares até o andar do jornal. Quando cheguei na metade do caminho fui obrigada a tirar meus sapatos, ou meus pés não iriam sobreviver a mais 4 andares. Depois, quando cheguei ao oitavo andar, meu coração estava tão acelerado que pensei que sofreria um infarto logo cedo.

Então eu fui passar pela porta, depois de ter colocado meus sapatos de novo, onde eu finalmente poderia correr para a sala do meu chefe e ouvir as palavras mágicas que me deixaria pulando de alegria. Mas alguém estava passando ali bem na hora, com um copo fumegante de café, que se virou e derramou tudo na minha camisa quando nós dois demos de cara um com o outro.

—Ai meu Deus! —Exclamei, sentindo o líquido encharcar minha camisa e queimar minha pele pela temperatura elevado.

—Me perdoe, eu estava distraído... Eu sinto muito mesmo... —O rapaz na minha frente começou a se desculpar, me fazendo erguer os olhos pra ele. —Me perdoe, eu...

Parecia desesperado quando juntou os guardanapos que segurava e trouxe até minha camisa, como se pudesse secá-las com eles. Tinha cabelos escuros bagunçados e usava um óculos de grau redondo que me lembrava Harry Potter, além de olhos verdes profundos e escuros. Não parecia ser mais de um ano mais velho que eu. Talvez 22 anos. Era jovem e bonito.

—Tudo bem... —Falei, afastando a mão dele e indo em direção ao banheiro. —Pode deixar.

Eu entrei no banheiro, tirando a camisa para poder passar água no meu busco, que estava ardendo pelo café quente. Minha camisa clara estava com uma mancha enorme de café na frente, me fazendo morder o lábio e respirar fundo. Eu iria virar editora chefe. Queria que tudo estivesse perfeito, mas as coisas estavam dando errado.

Coloquei a camisa de novo, ajeitando-a o melhor possível. Mas nada faria aquela mancha sumir magicamente. Olhei para meu reflexo no espelho, observando o contraste da camisa azul clara com minha pele negra, que parecia iluminada pelas horas que fiquei me maquiando, além dos meus olhos parecerem ainda mais escuros do que já eram. E meus cabelos, volumosos, curtos e cacheados.

—Vai ficar tudo bem. —Falei para mim mesma, antes de respirar fundo, ajeitar minha camisa e sair do banheiro, caminhando em direção a sala do meu chefe.

Quando entrei na mesma, ele me olhou de cima a baixo, fazendo uma careta para a mancha de café na minha camisa. Mordi meu lábio com força, me colocando na frente da mesa dele, implorando para que ele ignorasse aquilo. Não havia sido culpa minha.

—Dia ruim? —Ele apontou para minha camisa e eu soltei uma risada nervosa.

—Um pequeno ato de desatenção de alguém aqui do jornal. —Dei de ombros, olhando pra ele com a ansiedade queimando dentro de mim. —Mas tirando isso, estou pronta pra começar no novo cargo hoje. Ansiosa, na verdade.

Meu chefe ergueu as sobrancelhas, abrindo um sorrisinho sem graça que fez meu estômago se revirar. Suas mãos se uniram na frente do corpo quando ele me encarou com uma expressão de pesar que me deu certeza que aquela era a cereja do bolo das coisas ruins.

—Ah, Rebeca, eu queria ter falado com você antes, mas acabei me esquecendo. —Ele esfregou o queixo em um ato de desconforto. —O cargo de editor chefe vai ser ocupado por outra pessoa.

—Como assim? —Soltei, sentindo meu coração despencar. —Mas você disse que eu ficaria com o cargo. Que eu era a melhor escolha.

—Sim, mas aconteceram algumas mudanças e... —Ele deu de ombros, abrindo um sorriso simpático. —A vaga vai ser ocupada por outra pessoa.

—Eu fiz algo errado? —Meu coração disparou e se apertou dentro do meu peito, enquanto eu sentia minha garganta arder com uma maldita vontade de chorar.

—Não, você nunca fez nada de errado. Você é uma das melhores jornalistas daqui. —Ele sorriu pra mim. —Mas coisas assim acontecem.

—Quem? —Indaguei, querendo saber a grande alma que havia roubado o cargo que eu havia desejado desde que entrei ali.

—Meu filho estava morando em Atlanta, mas se mudou pra Aspen algumas semanas atrás. —Ele começou a explicar, enquanto eu sentia meu mundo começar a ruir mais a cada segundo. —Ele vai ficar com o cargo de editor chefe.

Seu filho. Seu filho que nem morava aqui e nunca trabalhou nesse jornal. Seu filho que não passou os últimos dois anos ralando nesse lugar pra conseguir esse cargo.

—Ah, olha ele aí. —Meu chefe ficou de pé, enquanto eu me virava para a porta quando alguém entrou.

Aquele mesmo rapaz que havia derramado café na minha camisa quando cheguei, era o mesmo rapaz que havia acabado de roubar meu cargo e pisado nas últimas semanas em que eu havia dado tudo de mim para provar que merecia esse emprego.

—Rebeca, esse é meu filho Vincent Hale.

Eu quero matá-lo.


Continua...

Missão casamento / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora