Capítulo 20: Segunda chance.

1.5K 257 43
                                    

Olhei para Vincent, que parecia ao mesmo tempo chocado e feliz. Mas balancei a cabeça negativamente na mesma hora, sentindo a vergonha ameaçar me consumir naquele momento quando percebi o quão boba eu estava agindo.

—Eu não quis... eu não estava pensando... —Fechei meus olhos com força quando comecei a gaguejar. —Eu não estava pensando especificamente em nós, mas no nosso trabalho aqui juntos. Era isso que eu queria dizer.

—Tudo bem. —Vincent estava com um sorriso enorme nos lábios, enquanto me olhava com uma expressão que deixava claro que não acreditava nem um pouco em mim. —Fico feliz em ver que você levou minha sugestão em consideração.

—Ei, não fica se achando. Eu ainda não gosto de você, ok? —Falei, vendo ele rir e balançar a cabeça negativamente, olhando para a tela do notebook.

Era mentira. Aquilo era uma mentira tão grande que eu tinha certeza que Vincent sabia. Eu gostava dele. Mais do que deveria ser possível ou aceitável. Mais do que eu queria aceitar. Normalmente era fácil ignorar a atração entre nós dois, já que eu deixava a raiva falar mais alto o tempo todo. Mas essa nossa relação de agora estava ameaçando todas as minhas promessas de ficar longe dele.

—Bom, mas eu gosto de você, Beca. —Afirmou, me pegando completamente de surpresa. —Gosto do fato de você não se esconder e de enfrentar as coisas de cabeça erguida. Você é inteligente, corajosa e confiante. Tenho uma certa inveja de você, sabia? Queria ter mais dessas coisas. Principalmente coragem.

Eu encarei as mãos que estavam no meu colo, sentindo meu coração acelerar tanto que eu achava impossível. Não estava esperando um comentário tão sincero como aquele. Parecia o Vincent que eu havia conhecido anos atrás e não o meu chefe.

Vincent

—Você é inteligente, corajoso e confiante, Vincent. Não teria chegado até onde está se não fosse. —Rebeca murmurou, erguendo os olhos para me encarar, vendo que eu já a observava, tentando descobrir o que ela estava pensando.

—Eu não sou. Você sabe que eu não sou. —Balancei a cabeça negativamente, seguindo o que Ian, Pietro e Alfredo haviam falado para fazer. Ser sincero e me abrir. Deixar que ela me visse de verdade. E eu queria que Rebeca visse quem eu era. Eu queria que ela me entendesse e gostasse desse Vincent da mesma forma que ele gosta de quem ela é.

—Você não sabe o que está falando. —Ela indicou o notebook. —As fotos.

Eu fechei meu notebook, fazendo ela me olhar um pouco confusa. Mas havia perdido a vontade de ver aquelas fotos. Tudo que eu queria era conversar com ela e ouvir sua voz. Estava disposto a agarrar qualquer gentileza de Rebeca por mim, caso tudo isso não desse certo no final.

—Eu odeio ser jornalista, Rebeca. —Afirmei, vendo ela piscar diversas vezes e me encarar assustada. —Eu nunca quis ser isso. Eu amo tirar fotos e teria seguido isso se deixasse meus sonhos falarem mais alto e não os dos meus pais.

—Você se tornou jornalista por eles. —Ela engoliu lentamente, me olhando como se me entendesse.

—Eles queriam que eu seguisse os passos do meu pai, me tornando jornalista e no momento certo me tornasse dono de tudo aquilo. Eles tinham feito tanto por mim que eu simplesmente não consegui negar isso a eles. —Eu ri, uma risada infeliz e cansada. —Eu só queria agrada-los, Beca. Eu queria que eles sentissem orgulho de mim. Mas ao mesmo tempo isso também me deixou frustrado. Me deixa até hoje.

—Por isso você foi estudar em Atlanta?

—Sim e não. Eu queria ficar longe de casa. Queria tomar minhas próprias decisões. Então eu fui estudar pra lá. Comecei a cursar jornalismo e ao mesmo tempo tentava seguir meu verdadeiro sonho. —Puxei aquela câmera pendurada no meu pescoço, que eu só tirava para dormir. Era minha fiel escudeira. —Mas os anos foram passando e eles desejavam que eu voltasse pra trabalhar no jornal.

—Você voltou e virou editor chefe. —Rebeca falou, parecendo pensar longe. Olhei pra ela, percebendo a forma que ela me olhava, como se gostasse daquilo que estava vendo em mim. E eu queria tanto que ela estivesse mesmo gostando.

—Nós dois sabemos que esse cargo era seu por direito. Você é a melhor jornalista daquele lugar e eu nem trabalhava lá. Eu só fiquei com esse cargo porque meu pai é o dono daquilo tudo. Não foi justo com você...

—Eu não o culpo por isso. —Ela balançou a cabeça de pressa. —Eu fiquei chateada e um pouco irritada no dia, mas jamais o odiei por isso. Não era algo sobre o seu controle, Vincent.

—Sim, mas... isso só prova o que eu disse. —Eu olhei no fundo dos olhos dela, querendo que Rebeca entendesse o que aquilo significava. —E eu sou covarde também. Eu sou tão, mas tão covarde, Rebeca. Eu não consigo dizer não aos meus pais, porque não quero decepciona-los. Eu deixo que eles decidam minha vida porque não sou corajoso o suficiente para fazer isso, e as vezes faço coisas de que me arrependo amargamente porque prefiro fugir da verdade. —Ela desviou os olhos de mim para o chão quando entendeu do que eu estava falando. —E algumas vezes acabo machucando alguém que não merecia ser machucada.

Rebeca olhou para a noite que tomava conta daquela fazenda, parecendo respirar fundo para se controlar. Os olhos escuros tão profundos e brilhantes. Eu também estava com a respiração pesada, porque estava desesperado para reverter o que havia feito e tinha medo de que ela não acreditasse em mim.

—Não importa o que você faz ou deixa de fazer por conta dos seus pais, Vincent. —Ela disse por fim, e percebi que sua voz estava pesada, como se ela tivesse se controlando. —Você é uma boa pessoa, Vincent. Você é um bom jornalista e um bom fotografo. —Ela finalmente se virou pra mim, fazendo meu coração martelar no meu peito com a intensidade que me encarava. —Todo mundo já fez algo do que se arrepende. O importante é reconhecer que errou e querer ser diferente.

O sangue esquentou nas minhas bochechas, fazendo a respiração de Rebeca falhar. Mas limpei a garganta e me obriguei a ser claro com ela.

—Então, se eu quisesse uma segunda chance com você, você acha que eu a mereceria? —Questionei, percebendo o quanto aquelas palavras atingiram Rebeca em cheio.



Continua...

Missão casamento / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora