Capítulo 5: Aquela cena foi vergonhosa.

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Já havia perdido as contas de quantas vezes havia sido mordida por um mosquito. Ian e Gavin estavam caminhando na nossa frente, mostrando a trilha que dava para a cachoeira. Pietro e Hermione iam logo atrás, seguidos por Alfredo e Grace, enquanto eu infelizmente fiquei para trás com Vincent.

—Você precisa apagar aquela foto, Rebeca. —Ele murmurou pela vigésima vez, me fazendo revirar os olhos. —Eu estou falando sério.

—Eu sei. Você sempre fala sério quando a pessoa envolvida sou eu, né? —Zombei, escutando ele soltar uma respiração pesada. —Não vou apagar nada. É muito bom ter algo contra você.

—Rebeca! —Ele sibilou, parecendo estar perdendo a paciência, enquanto eu soltava uma risadinha e fazia de tudo para me manter na trilha e ir mais rápido possível para alcançar os outros. —Aquela cena foi vergonhosa, sério.

—Eu sei, eu vi. —Eu ri, olhando pra expressão empurrada dele enquanto me seguia. —E o cheio que ficou impregnado em você depois? Jesus, fico enjoada só de lembrar.

Ele fez uma careta, cruzando os braços na frente do corpo, enquanto as bochechas estavam vermelhas em uma mistura de vergonha e raiva. Mas isso só me deixou mais feliz ainda, porque irritar Vincent era meu passatempo preferido desde o dia que eu percebi que ele não era quem aparentava ser.

—O que eu preciso fazer pra você apagar a foto? —Indagou, me fazendo morder o lábio para não rir.

—Tudo isso é medo de eu mostrar pro seu pai? —Soltei uma risadinha perversa. —Pobre Vincent Hale, odeia decepcionar o papai de ouro.

—Isso não tem graça, Rebeca. —Ele rosnou, com aquele tom de voz duro que eu conhecia muito bem e que ele jamais mostrava aos outros. Seus olhos fitaram os meus, carregados de algo que me deixou irritada.

—Claro que não. Eu e você temos significados diferentes do que é ou não é engraçado, não é? —Afirmei, percebendo o baque daquelas palavras nele quando ele entendeu do que eu estava falando.

—Eu não fiz aquilo como um tipo de piada, Rebeca. Eu fiz aquilo porque era necessário. —Rebateu, apertando a mandíbula.

—Você é só um maldito babaca sem coração que distribuiu sorrisos por aí, mas é tudo uma máscara. —Afirmei, sentindo aquela floresta imensa se tornar muito, muito pequena. —Eu sei quem você é de verdade, Vincent.

—Você não sabe.

—Sei, sim. Você se mostrou por completo pra mim. E não é absolutamente nada disso que mostra aos meus amigos. —Retruquei, soltando uma risada nervosa, porque tinha vontade de bater nele toda vez que ele sorria e corava para algum dos meus amigos.

—Eles são meus amigos também! —Rebateu, soando um pouco frustado.

—Infelizmente. —Choraminguei, porque meus amigos tomaram uma péssima decisão quando decidiram ser amigos de Vincent.

—Rebeca, espera... —Ele tocou meu ombro nu, fazendo minha pele inteira se arrepiar e meu coração disparar.

Meu interior se contorceu quando senti aquele maldito frio na barriga, com aquelas borboletas dançando no meu estômago da mesma forma que dançaram quatro anos atrás, antes de Vincent matar todas elas. Mas parece que ele também podia trazê-las de volta, o que era uma merda.

—Ei, ei, ei... —Me afastei do toque dele, como se sua mão pudesse queimar a minha pele, antes de me virar e encara-lo com uma expressão fechada. —Chefe e funcionária, esqueceu? Lembre-se disso quando pensar em tocar em mim.

—Não estamos naquele jornal. —Ele comprimiu os lábios quando eu soltei uma gargalhada de descrença. —Poderíamos ser amigos assim como os outros.

—Você é muito engraçado, Vincent. —Abri um sorriso torto pra ele. —E bastante hipócrita pelo visto.

—Rebeca...

—Não me toque e não fale comigo a não ser que seja estritamente necessário. —Afirmei, me virando para voltar a andar, sem me importar se ele estava me seguindo ou não. —Se nós dois nós colocarmos nos nossos lugares, isso vai funcionar perfeitamente.

Ele não respondeu, porque havia entendido o recado muito bem, da mesma forma que eu havia entendido ele quatro anos atrás.

—Vocês vão ficar namorando no meio da trilha ou não vir logo? —Alfredo gritou, me fazendo ouvir a risada dos meus amigos mais à frente. Soltei um xingamento, correndo para alcançá-los e evitar ficar sozinha com Vincent de novo.

—Vou te matar afogado hoje, Alfredo. Obrigada por me dar mais motivos pra isso. —Afirmei, escutando a gargalhada dele enquanto o som da água caindo começava a surgir no meio da floresta.

Me apressei para chegar até eles, vendo-os parando na beirada de um poço de água que ficava a baixo da queda d'água. O lugar era simplesmente lindo e a água tão cristalina que eu podia ver as pedras embaixo da água. Não demorou muito para pulamos na água fria embaixo da cachoeira.

—A gente vai ter que voltar aqui mais vezes! —Grace afirmou, se sentando nas pedras para pegar sol depois de dar um mergulho. —Tudo bem, Hermione?

Ela estava saindo da água e se enrolando em uma toalha, tremendo de frio. Mas balançou a cabeça que sim e foi se sentar perto de Grace, observando Pietro que ainda estava na água. Gavin e Ian estava brincando de afundar um ao outro, enquanto Vincent ainda estava do lado de fora, tirando fotos da cachoeira e de todos nós.

—Vincent, larga essa câmera e vem logo! —Gavin murmurou, apontando para o jornalista. —Você está aqui pra se divertir e não só pra trabalhar.

—Eu sei. Mas eu amo tirar fotos. —Ele deu de ombros, antes de tirar uma foto de Gavin e Ian dentro da água, de frente para a cachoeira.

Fiquei olhando pra ele tirando fotos, até que ele parou, puxando a camisa para tirá-la, deixando o óculos torto no seu rosto quando ela passou pela sua cabeça e ele ficou apenas de bermuda. Então ele soltou a camisa no chão junto com as roupas dos outros, deixando a câmera ali, junto com seu óculos.

Senti meu rosto esquentar quando ele veio até a beirada das pedras e pulou na água. Ela  respingou em mim quando ele afundou perto de onde eu estava, voltando segundos depois e passando as mãos nos cabelos úmidos para colocá-los para trás. Então ele olhou pra mim, erguendo as sobrancelhas quando viu que eu o encarava.

Fiz uma careta, virando a cara na mesma hora. Evitar Vincent era sempre a melhor alternativa, e eu teria que fazer isso durante esse mês inteiro se quisesse sair inteira dessa fazenda.


Continua...

Missão casamento / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora