Capítulo 48: Vincent estava errado.

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O pai de Vincent estava esperando quando sai do local da festa, escorado em uma árvore com as mãos no bolso da calça, como se fosse o homem mais inocente do planeta. Ele ergueu os olhos assim que me aproximei, enrugando os lábios em reprovação quando percebeu que Vincent não estava ali comigo.

—Vim até aqui conversar com meu filho, não com você. —Afirmou, como se me enxotasse dali. Soltei uma risada, estalando a língua, antes de negar com a cabeça.

—A partir do momento que você se acha no direito de falar de mim e decidir coisas com o meu nome, então você vai ter que conversar comigo também. —Rebati, parando na frente dele com o queixo erguido.

—Rebeca, eu realmente não me importo com o que você pensa sobre o que aconteceu. —Ele suspirou, esfregando a festa, agindo como se eu fosse o problema ali. —Eu sei que Vincent já é adulto o suficiente pra decidir as coisas. Mas ele é meu filho e eu sempre vou me preocupar com ele e com o que é melhor pra ele.

—E eu não estou nessa equação porque você acha que eu sou uma interesseira? —Era uma pergunta retórica e ele sabia disso. —Porque você acha que eu me aproximei do seu filho por conta da vaga de editor chefe que eu desejava.

—E por que mais seria? —Ele riu, como se aquilo fosse tão óbvio. —Eu sou seu chefe, Rebeca. Vi o quanto você estava ansiosa pra pegar o cargo naquelas semanas que antecederam a chegada de Vincent. Você ficou frustrada e irritada quando ele pegou sua vaga. Eu vi isso em você.

—Você tem razão, eu fiquei irritada assim. Eu fiquei frustrada porque Vincent havia acabado de chegar e você tinha dado preferência a ele porque ele era seu filho. —Afirmei, sentindo meu sangue fervendo de indignação. —Mas eu sou madura o suficiente pra entender que a culpa não era de Vincent e que se eu não fiquei com a vaga, era porque não era pra ser. Eu jamais me aproximaria com ele na intenção de fazê-lo se demitir ou qualquer coisa.

—Eu não sei. Eu não conheço a Rebeca além da jornalista pra saber disso. —Ele deu de ombros, usando aquele tom calmo e casual. Sabia o que ele estava tentando fazer. Ele estava fazendo parecer que eu era louca. Que eu era a dissimulada e interesseira que queria separa-lo do próprio filho. —Eu conheço o meu filho e eu sei que ele jamais pediria demissão assim. Ele jamais reclamou de trabalhar no jornal. Foi só se envolver com você que isso mudou.

—Ele nunca reclamou ou você simplesmente prefere não ver a verdade? —Indaguei, soltando uma risada quando minhas palavras o pegaram em cheio. —Vincent nunca quis ser jornalista. Ele fez isso por causa de você. Ele foi estudar em outro estado pra poder ficar livre, porque ele tinha medo de te decepcionar. Mas ele jamais quis ser jornalista. Você só não quer ver isso, porque se não todo sonho que você mesmo criou pro seu filho vai desmoronar.

—Você não sabe do que está falando. —Ele retrucou, me fazendo soltar uma risada, agindo com a mesma tranquilidade que ele agora.

—Eu sei sim. E quer saber? Seu sonho já desmoronou. Por isso você veio até aqui, porque quer tentar recuperar isso. —Balancei a cabeça negativamente, me aproximando mais dele. —Mas isso não tem mais como ser recuperado, sr. Hale. E no fundo você sabe que a culpa é sua por ter expectativas tão altas sobre Vincent. Mas você prefere me culpar do que aceitar que seus desejos não vão ser concretizados.

Ele ficou mudo, me encarando com uma expressão de seriedade que não me transmitia absolutamente além de pena. Porque ele era apenas um pai que depositou todos os sonhos no filho e agora estava frustrado por não conseguir o que queria.

—Se não terminar com ele...

—Vai me demitir? —Ergui as sobrancelhas, soltando uma risada antes de negar com a cabeça. —Não precisa perder seu tempo. Sabe, Vincent estava errado sobre algo. Se ele tivesse me contato aquela noite, naquele encontro, que você ameaçou me demitir se ele fosse em um encontro comigo, eu teria o escolhido.

—Ah, não minha pra mim. —Retrucou, com uma risada sarcástica.

—Eu não estou mentindo. Por que eu iria querer ficar trabalhando com um homem que tem a capacidade de ameaçar o próprio filho? —Indaguei, vendo ele comprimir os lábios. —Eu teria o escolhido, porque eu teria percebido muito mais cedo o tipo de pessoa que você é. E eu não quero trabalhar com alguém assim. Se acha que o cargo de editor chefe é a questão, então vou ter que decepciona-lo também, porque eu me demito!

—Se demite? —Ele riu, erguendo a mão para esfregar os cabelos, parecendo não acreditar no que estava ouvindo. —O que pretende com isso? O que você quer provar, Rebeca?

—Nada. —Soltei um suspiro pesado, engolindo em seco. —Mas seu filho é muito mais importante que isso. Uma pena que você como pai dele não entenda isso. Quando voltar eu levo meus documentos para a demissão. —Olhei pra ele, vendo que ele não pretendia dizer mais nada. Então virei as costas e comecei a me afastar, antes de parar e me virar pra ele. —Ah, mais uma coisa. Sabe a matéria sobre esse casamento que você tanto queria? Pode esquecer.

—O que? —Exclamou, exibindo uma expressão incrédula. —Não é você quem decide isso!

—Na verdade, é sim. Quem está escrevendo ela sou eu. Além do mais, Ian e Gavin são meus amigos e por acaso um deles presenciou sua bela cena antes da cerimônia. —Falei, abrindo um sorriso doce e gentil pra ele. —Então pode esquecer. Se escrever um A sobre esse casamento, você e o seu jornal vão estar acabados.

Ele me encarou como se não soubesse se eu estava falando sério ou não. Lancei um olhar de aviso a ele, antes de virar as costas e voltar pra festa, com o meu coração na boca e um peso muito menos nas costas.


Continua...

Missão casamento / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora