Eu fiquei mudo, sentindo meu coração disparar ao ouvir ele dizer aquilo. Nem precisava ouvi-lo falar com todas as palavras. Sabia que ele havia visto e entendido tudo que estava acontecendo. Meu pai poderia ser muitas coisas, mas não burro.
—Pai, não é hora pra discutir agora. Estamos na entrada do local onde vai acontecer o casamento. O noivo vai aparecer aqui a qualquer momento pra entrar. —Afirmei, tentando me manter calmo, porque não podia deixar nada estragar esse momento. —Podemos conversar sobre isso depois.
—Depois quando? —Ele ergueu as sobrancelhas, soltando uma risada. —Quando voltar pra casa pra pegar suas coisas e se mudar? Vai morar com a Rebeca agora?
—Pai, por favor! —Soltei o ar com força, esfregando minha testa, antes de puxar meus cabelos pra trás. —Agora não é um bom momento. Tenha um pouco de bom senso, por favor.
Quantos ''por favor'' eu teria que dizer pra ele ir embora?
—Eu também queria que você tivesse um pouco de bom senso, mas você não teve. —Ele retrucou, com a voz repleta de decepção, como se eu tivesse feito algo horrível. —Quando você apareceu lá em casa, falando aquelas coisas, eu soube que alguma coisa estava errada. Que algo tinha acontecido aqui. Você nunca foi de agir sem pensar. Você nunca foi inconsequente. —Ele balançou a cabeça negativamente, ajeitando as mangas da camisa. —Então eu comecei a pensar e percebi que precisava vir até aqui tirar a prova. No final das contas, eu estava certo.
—Pai...
—Não, você vai me ouvir. Você foi até a minha casa, disse tudo que queria e foi embora. Agora é minha vez de falar. —Ele se aproximou de mim, me fazendo engolir em seco com a tensão pesando nos meus ombros. —Eu fiz de tudo por você, Vincent. Eu e sua mãe demos duro pra você ter de tudo. Para que você tivesse tudo pronto pra receber aquele jornal. E agora você está jogando tudo fora por uma paixãozinha de semanas.
—Não é uma paixão de semanas e você sabe disso. —Falei, vendo a expressão do rosto dele se tornar fria. —E Rebeca não tem nada a ver com isso, pai. Eu queria desistir de jornalismo muito antes de a conhecer.
—E só tomou coragem de fazer isso depois de ficar com ela? —Ele riu, negando com a cabeça. —Não pode esperar que eu acredite nisso, Vincent. Não tente me enganar.
—Não estou enganando ninguém. Você que não quer me entender. Que quer insistir em algo que eu não quero. —Afirmei, tentando manter a voz baixa para não chamar a atenção de todas as pessoas dentro do celeiro. —Pare de tentar mandar na minha vida. Seu tempo de fazer isso acabou a muito tempo. Eu vou tomar minhas próprias decisões agora. Não por Rebeca e muito menos por você.
—Eu não quero mandar na sua vida. Só quero que você perceba o que está acontecendo aqui. Tudo estava muito bem, até você se envolver com ela. —Meu pai se aproximou mais de mim, soando mais controlado agora. —Era isso que eu queria evitar desde o inicio. Pensei que estava tudo certo, mas parece que quatro anos não foram o suficiente, não é?
—Suficiente pra que? —Eu senti minha calma começar a ir embora, porque não aguentava mais tudo aquilo. —Pra eu não querer mais ela? Você achou que me impedindo de ir naquele encontro, tudo iria mudar com o tempo?
—Eu não te impedi de ir naquele encontro. Eu apenas abri seus olhos para o óbvio, Vincent! —Exclamou, erguendo um pouco o tom de voz, me deixando com medo de que as pessoas ouvissem nossa discussão. —Rebeca quer o cargo de editor chefe. Ela queria aquele cargo desde que entrou no jornal. Ela ficou brava quando você pegou o lugar que ela tanto queria. Você sabe que ela não gostou nem um pouco e mesmo assim acreditou quando ela demonstrou interesse por você.
—Ela não é interesseira como você pensa! —Cerrei meus punhos, apenas com a insinuação daquilo.
—Não seja ingênuo, filho. Ela fez exatamente o que eu previa que ia fazer. Encheu sua cabeça de coisas bonitas e sentimentos, até faze-lo se demitir para que ela fique com o cargo. —Afirmou, de uma forma que deixava claro que não importava o que eu dissesse, ele jamais mudaria de opinião.
—Você não entende. —Balancei a cabeça negativamente, ajeitando meu óculos, vendo meu pai soltar uma risada fraca. —Sabe pra que esses quatro anos foram suficientes? Pra me fazer perceber o quanto eu era ingênuo e manipulável. Não foi a Rebeca que encheu minha cabeça de coisas, foi você. Você encheu minha cabeça de coisas aquele dia, me fazendo duvidar do que Rebeca queria comigo. Você me fez dizer coisas horríveis pra ela a ponto de afasta-la de mim. E eu deixei isso acontecer, porque eu era burro naquela época. Porque eu acreditei que você queria me proteger.
—Eu quero proteger você! —Retrucou, respirando fundo. —Você é meu filho. Tudo que eu quero pra você é o melhor. Mas ela não é o melhor pra você.
—Você não sabe disso. Você não sabe o que é melhor pra mim, pai. Nunca soube. —Eu abaixei a cabeça, com meus ombros caindo em desanimo. —Se soubesse o que é melhor pra mim, estaria feliz agora por eu seguir meu próprio caminho.
—Seu caminho ao lado da Rebeca?
—A Rebeca não é a questão aqui e você sabe disso. —Falei, entredentes, vendo ele olhar pro lado e balançar a cabeça negativamente, antes de encarar uma foto que estava ela, Hermione e Grace. —Quero que vá embora agora, ou vou chamar alguém para tira-lo daqui.
—Você sabe o que vai acontecer, não sabe? —Murmurou assim que eu me virei, fazendo meu sangue esquentar quando me virei de novo para encara-lo.
—Você não vai me chantagear de novo.
—Eu nunca chantageei você. Eu sempre te dei uma escolha, Vincent. Infelizmente você fez uma escolha errada dessa vez. —Deu de ombros, me fazendo engolir o nó que se formou na minha garganta.
—Você fez sim. —Meus lábios tremeram quando aquele assunto que eu preferia esconder no fundo da minha mente veio a tona. Sabia que não poderia fugir mais dele.—Você deixou claro que iria demiti-la se eu resolvesse ter alguma coisa com ela. Você sabia que ela amava esse trabalho. Foi por causa disso que eu fiquei plantado dentro do carro, quando deveria estar jantando com ela. Foi por causa disso que eu agi como um babaca com ela no dia seguinte. —Eu apontei pra ele, furioso e tão frustrado. —Você sabe o que fez, pai. Você sabe.
Um arquejo chocado me fez erguer a cabeça, olhando por cima do ombro do meu pai, vendo Gavin, Hermione, Grace e Rebeca parados na entrada do mural de fotos. Nossos amigos estavam mudos, olhando pra Rebeca com preocupação. Ela estava tão imóvel e séria, que eu sabia que havia escutado absolutamente tudo.
Continua...
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Missão casamento / Vol. 3
RomanceRebeca Duarte está mais do que feliz com sua carreira de jornalista, mesmo que tenha que lidar com Vincent Hale, seu parceiro e filho do seu chefe, com quem ela troca farpas diariamente. Além disso, ela está certa que não existe nada além de trabalh...