Capítulo 35 - Mia

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Pouso os meus pés em solo português, depois de longas horas de viagem.

Sinto um tremor por todo o meu corpo, e um arrepio fininho na minha espinha. Eu estava de volta. De volta ao meu país. As minhas origens.

Faço o meu caminho até à saida do aeroporto, depois de já ter as malas comigo. Ainda não estava completamente ciente do que estava a acontecer. Sinto-me como se tivesse regredido um passo na minha vida. Mas agora, o que poderia fazer? Nada. Eu já cá estava. Longe de toda a confusão que vivia em Los Angeles. E pelo menos aqui, eu poderia seguir em frente. Não digo, encontrar alguém que cuide de mim, que me ame e me aceite. Quem vai querer uma rapariga de 18 anos com um bebé na barriga? Ninguém. Eu queria seguir em frente com a minha criança. Com o meu bebé. Queria dedicar-me a ser mãe 24h por dia, enquanto as coisas não melhorassem.

Vejo um carro amarelo, designado de taxi, ao longe e chamo-o para que ele me possa levar até casa.

A decisão de ter voltado para Portugal, foi quase como instantânea. Num momento dei por mim a comprar um bilhete de vinda para aqui, sem pelo menos dizer nada a ninguém. Só depois de o ter feito é que contei a Luke e Michael, que contaram a Ashton, Joanna e provavelmente a Calum, não sei.

Dou por mim já dentro do táxi a dizer ao senhor a morada de minha casa. Todo o caminho foi feito num enorme silêncio, eu olhava pela janela, tal como quando Luke me levou até ao aeroporto e por breves momentos quase que pude sentir a presença de Luke comigo.

Sei que deixei-os todos tristes pela minha partida e nem quero imaginar como as coisas irão ficar por lá, mas espero realmente que eles se entendam todos. Que endireitem as suas vidas. Afinal, tudo se complicou desde que eu coloquei os pés em Los Angeles. Eu só interrompi e estraguei a vida deles.

Suspiro.

Gostava que as coisas tivessem sido diferentes. Gostava que a imaginação que eu tinha todas as noites, em que o Calum se arrependia da decisão dele e viria atrás de mim, realmente acontecesse. Olho o telemóvel. Mas até agora, nada.

Ver o Calum chorar na altura em que parti, por um lado agradou-me. Eu sabia que lá no fundo ele ainda sentia algo por mim, ele só não o admitia. E não sei porquê, mas ao vê-lo assim, esperanças começaram a crescer em mim. De que Calum realmente viria atrás de mim e deixava Caroline. Mas as horas já passaram, o tempo já foi suficiente para um decisão de pelo menos me ligar. Dizer alguma coisa. E ele não o fez.

Não me posso sentir desiludida. Afinal foram meras esperanças que eu criei. Lá no fundo eu sabia que dificilmente Calum iria mudar de ideias.

Avisto as fachadas das duas casas. A minha e a dos meus pais. Como eu senti saudades disto. Como eu senti saudades da paz que esta terra me transmite, da calma que se vive aqui.

Pago ao motorista e saio do táxi, depois do mesmo me ajudar a retirar as malas do carro. Respiro lentamente, inspirando um pouco de ar. Que saudades. Como era bom voltar a ver as minhas casinhas. Como era bom olhar em volta e ver o local onde cresci.

Abro o portão de casa dos meus pais, meia perdida ainda nos meus pensamentos, e quando chego à porta de entrada, tento ganhar coragem suficiente para bater à porta. Sim. Porque eu estava um pouco assustada. Assustada de que os meus pais não fossem aceitar. Não aceitassem este bebé que carrego.

Mas ganhando coragem necessária, toco à campainha de casa, seguida por três batidas na porta. A forma combinada comigo e com a minha mãe, para sabermos que eramos nós que estavamos na porta.

Ouço um barulho estranho vindo de dentro de casa. Algo como um prato partir-se, mas fico à espera que a porta seja aberta.

Tento manter a calma, assim que ouço as chaves rodarem na parte de dentro da fechadura. E quando a porta finalmente se abre, ouço os soluços de minha mãe, que me olha completamente incrédula.

Re(encontra-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora