Capítulo 26 - Mia

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Chorar. Chorar é bom. Sempre me disseram que chorar era um alívio. Lembro-me até de uma frase que conheço "Chorar é diminuir a profundidade da dor.". E o que posso dizer sobre esta sábia frase? É totalmente, completamente verdade.
Chorar não quer dizer que és fraco, mas que tens a capacidade de enfrentar e assumir os teus sentimentos.

Hoje choro. Sim, hoje choro. Choro porque eu não tenho medo de assumir os meus sentimentos. Até porque eles já foram assumidos. Choro apenas porque esses sentimentos foram rejeitados. Choro porque sinto a pequena batida do meu coração. Aquela que ainda à uns minutos atrás, quase precisava ser multada, por estar demasiado acelarada. Choro porque me sinto impotente.

Apaixonei-me por um rapaz simples, leal, apaixonante, divertido, paciente. O problema foi quando ele se foi embora. Quando o seu todo, mudou. Quando o seu simples mudou para complicado. O seu leal e apaixonante mudou para hipócrita (apenas por ele fingir sentimentos que eu sei, que toda a gente sabe que ele não tem). O seu divertido mudou para rezingão. E a sua paciência foi derretida por a toda "hot", Caroline.

Lembro-me de um Calum sonhador. De um Calum que lutava por os seus sonhos, sem deixar qualquer pessoa passar por cima dele. Sempre tomando as suas decisões, afetando ou não os outros. Ele sempre seguiu o seu coração.

Hoje choro. Sim, hoje choro. Choro porque esse rapaz sonhador deixou uma rapariga mudar completamente o seu pensar, a sua forma de ver o mundo, as coisas. Choro por ver o quanto essa rapariga doma a sua vida. O poder que ela consegue exercer sobre ele. Choro por o ver destruir tudo aquilo que ele sempre quis. Choro, porque lá no fundo (sem querer parecer convencida), os seus olhos brilham quando encontram os meus. Choro, porque apesar disso, é ela a quem ele busca conforto. É a ela a quem ele busca amor, paixão. É com ela que ele quer formar uma família. Choro, porque ela é a escolhida. Choro, porque eu sou a rejeitada. Choro, por ser o seu passado que apenas voltou para o assombrar.

Sei que fui contra todas as regras quando me voltei a envolver com ele. E sei também o quão marionete eu fui. Afinal, ele apenas me usou.

Encontro-me nesta sala, perdida. Perdida não. Encontro-me sentada no enorme sofá onde tentei dormir toda a noite, e ensaiar como seria a forma perfeita de contar para o rapaz que amo, que dentro da minha barriga, tenho um ser a crescer. Um ser, que com todas as certezas e mais algumas, não me pertence só a mim, mas a ele também.

Sinto os meus nervos à flor da pele e com toda a força que consigo arranjar no momento, arremeço com o comando da televisão contra a parede, fazendo este abrir-se ao meio e causando um estrondo enorme.

Lágrimas, saem involuntáriamente, umas atrás das outras. Fazendo os meus olhos parecerem dois jatos enormes de água.
Assim como o meu coração. Que numa outra versão, também chora.

Consigo ouvir os caquinhos dele, partirem-se um de cada vez. E a dor fininha e sufocante que isso provoca, consegue ser maior do que uma ferida exterior.

Só quero colocar tudo para fora. Quero deixar de ser a Mia burra. A Mia que toda a gente magoa. Abandona. A Mia que faz porcaria. A Mia que só procura e só quer as pessoas erradas na sua vida.

- AHHHHHHHHH! - Solto um enorme grito, enquanto atiro com todas as almofadas do sofá para o chão.

Quero descarregar todo estes sentimentos inúteis para fora. Quero parar de sentir, tudo isto que sinceramente, eu não pedi para sentir.

Deixo-me cair sobre o chão e esquecendo-me de tudo à volta, choro descontrolávelmente.

- Mia? - ouço um pequeno grito vindo do corredor da casa e logo me lembro que não estou sozinha.

Re(encontra-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora