Capítulo 9 - Calum

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'Não. Não tenho intenções de saber, como não tenho intenções que ninguém saiba que nós já namoramos. Só quero que saias completamente da minha vida, completamente.' Esta era a frase que não me saía da minha estúpida cabeça. Porque é que ainda me incomodavam as coisas que ela me dizia? Ela tornou-se numa rapariga mimada que pensa que pode fazer e dizer tudo o que quiser, a quem quiser, na hora que quiser. Posso ter feito asneiras no passado, mas não era razão para ela me tratar assim. Eu tentei ser o máximo compreensivo com ela ao início e desde que ela cá chegou, trata-me sempre como se eu fosse um monte de lixo. Tudo o que eu não tenho paciência é para meninas mimadas, tudo menos isso.

Caminho até a algum sítio qualquer e sento-me na ponta de umas escadas da rua. Ela pode ter sido dura comigo, mas acredito que não tenha gostado do que ouviu também. De qualquer das formas, ela já o deveria saber, já que ela não veio atrás de mim é porque tem a minima noção de que eu e ela acabou de qualquer jeito.

Tudo o que eu menos esperava passa-me agora pela cabeça. A Mia não faz noção com quem eu namoro, apesar de tudo ela ainda não se deu ao interesse de querer saber, por algum motivo era, ou porque isso, de facto, a incomodava ou porque realmente ela já não queria saber mesmo mais nada sobre mim ou da minha vida. E mais uma vez isso magoou-me. Tenho a certeza que quando a Mia souber quem é a rapariga por quem eu a troquei ela vai-me odiar ainda mais do que me odeia agora. E mais uma vez penso, terá ela mesmo razão ao tratar-me assim? Será que eu realmente mereço todo esse despreso por parte dela?

Depois de passar o resto da tarde no meu pequeno mundo, vou até ao hotel onde convenço os rapazes a irem jantar fora. Eu realmente precisava de me distrair, de tirar um pouco a Mia da cabeça. Ela estava a dar cabo de mim e só agora é que me apercebi. O problema foi quando entramos no restaurante e o Michael avistou a sua querida melhor amiga mesmo ao lado da mesa que tinha reservado para nós. Olhei para o telemovel dele enquanto esperavamos pelo garçom e vi a mensagem que ele enviou à Mia. Não sei, mas o facto de que o Michael realmente gostava da Mia começou a passar-me pela cabeça e começou de certa forma a incomodar-me.

Quando nos sentamos, o Michael foi logo abraçar a Mia, que aproveitou a deixa para me mandar uma boca, na qual o Luke percebeu.

"Ela olhou para ti quando disse aquilo, passou-se alguma coisa?" ele disse-me ao ouvido para que ninguém ouvisse, mas vi que a Mia reparou.

"Depois." foi apenas o que consegui dizer.

"Tudo bem, mas não te safas desta."

Durante o jantar o meu olhar era sempre direcionado à mesma pessoa, mas tal como eu, ela também me olhava. Senti o seu olhar magoado, e espero que ela sinta o quão irritado eu estou com ela.

Ela saiu de repente, depois da Lia pagar a conta, apenas acenando para o Michael que sorria para ela feito parvo. Eu levantei-me imediatamente da mesa e dirigi-me à casa de banho, passo um pouco de àgua na cara e fico-me a olhar ao espelho. Porque raios o facto de o Michael e a Mia serem tão próximos me estava a começar a incomodar? Só quero poder ir para o hotel, ter saído hoje foi um grande erro.

Quando volto para a beira dos meus colegas, eles olham-me muito seriamente e eu apenas sussuro um "o que é que foi agora?"

"Então conta-nos que boca foi aquela que a Mia te mandou? Sim, porque toda a gente percebeu que foi para ti." o Michael diz rindo-se.

"E estás feliz por isso? Estás feliz por ela me tratar como se eu nunca tivesse sido nada e como se tu fosses tudo na vida dela? Abre os olhos Michael, a Mia namora." digo tudo aquilo que me sai da boca no momento, mas arrependo-me logo de seguida.

"Estás-te a passar, meu? O que é que te deu? Eu gosto da Mia como se ela fosse minha irmã, e como se tu te importasses, eu fui o único que nunca a abandonou, eu estive sempre lá para ela todos os momentos difíceis. Eu estive lá para ela quando ela recaiu pela segunda e pela terceira vez. Perder-te foi a pior coisa que lhe aconteceu. E talvez eu até imagine o porquê. Tu foste o primeiro dela. Ela entregou-se a ti, ela amou-te e tu abandonaste-a à primeira oportunidade. Ela faltou mais de um mês à escola, ela andou mesmo em baixo e não foi pelo facto de o vosso relacionamente ter acabado, mas sim pelo facto de ela se ter entregue a uma pessoa que a abandonou quase logo. Ela recusou-se a aceitar isso. A Mia apanhou aquele trauma, ela era uma rapariga bastante frágil e tu sabias disso antes de te meteres com ela. Ela fechou-se para toda a gente, e ela só começou a namorar com o Diogo pois ele foi a única pessoa que acompanhou o seu dia a dia, todos os dias. Ele não a largava por um simples segundo, todas as vezes que eu lhe ligava, lá estava ele a cuidar dela, a fazê-la sorrir, a enchê-la de mimos. Ele estava a fazer tudo o que devias ter sido tu a fazer se o teu orgulho não falasse sempre alto de mais. Ele juntou os pedaços de coração que tu fizes-te questão de partir." o que ele diz deixa-me completamente sem reação, custava ouvir aquilo, mas em parte era verdade. Eu ajo sempre de cabeça quente, digo o que não quero dizer e acabo sempre por ouvir o que não quero ouvir, também.

"Michael, desculpa... Eu..."

"Tu nada, tu ainda gostas da Mia e tratas a rapariga como se ela tivesse sido um erro no teu passado, sempre foi assim. Admiras-te por ela te tratar desta forma? Eu não."

"Ela odeia-me Michael, queres que vá a correr beijar-lhe os pés? Ela odeia-me."

"Porque dizes isso?" pergunta o Ashton, que sempre se mantinha calado nestas discussões.

"Porque ela disse-me que me queria tirar completamente da sua vida, que eu era uma pessoa que não valia a pena e que não queria que ninguém soubesse que nós já namoramos." eles olham para mim muito sérios "Sim, ela disse-me isso, hoje de tarde. Sabem, acho que vou andando, estou cansado."

Levanto-me da mesa e saio do restaurante, entrando de seguida no meu carro e indo para o hotel. Ainda bem que trouxe o meu carro, não me iria saber nada bem ter de ir com eles.

A verdade é que as palavras do Michael não me sairam da cabeça mais nenhuma vez depois que ele as disse. Eu magoei a Mia, eu magoei imenso a Mia. E estava na hora de eu começar a pensar mais nos outros e não em mim. Estava na hora de eu parar de magoar as pessoas.

Quando entro no hotel, vou direto ao elevador e carrego no número do meu andar. Mas antes de chegar ao piso pretendido este para no anterior, onde para minha surpresa entra a Lia. A rapariga que esteve com a Mia ao jantar.

"Bem, situação constrangedora essa tua e da Mia ao jantar." ela diz sem rodeios, o que me faz perceber que tudo o que ela tiver para dizer diz.

"Não sei do que falas, Lia." disse relembrando-me do facto de a Mia não querer que ninguém saiba de nós.

"A Mia contou-me tudo" disse quase como a ler os meus pensamentos "se queres que te diga, acho que vocês são muito novos para este tipo de confusões. Podiam simplesmente aproveitar a vossa vida. Amar alguém é coisa rara, poucos sabem amar. E se vocês se amam, não percebo porque retêm tanto odio um do outro."

"O problema é a falta de amor. A Mia não me ama, aliás, ela namora. Tal como eu." digo e as portas do elevador abram-se, permitindo a minha fuga perante a Lia.

Neste momento só quero paz, sossego. Não quero ouvir ninguém, não quero ouvir nada sobre a Mia, a Caroline, simplesmente quero desligar do mundo. Quero tentar ter um momento normal pelo menos uma vez este dia. Quero sorrir ao pensar em tudo e não chorar ao pensar em nada. Estou cansado do rumo que escolhi tomar. Talvez hoje, pensando melhor, eu não lhe teria dito o adeus daquela forma, eu não a teria deixado sozinha naquele momento. Eu teria ficado a seu lado, eu teria escolhido amor verdadeiro, à fama. Eu teria feito isso, mas a verdade é dura de se aceitar e sempre será. As minhas escolhas foram feitas à dois anos atrás, nada as poderia mudar. Os meus sentimentos mudaram, a minha personalidade mudou. Os meus deveres são agora outros, tenho uma enorme responsabilidade comparado com à dois anos atrás. Eu cresci, eu mudei, eu tornei-me num novo Calum Hood. Calum Hood esse, que não consegue parar de pensar no quão podia tudo estar diferente, se ele simplesmente tivesse dito outras palavras. Sim, uma palavra, uma simples palavra pode mudar tudo, pode mudar tudo apenas de um dia para o outro, de um segundo para o outro. O tempo é uma constante, e só nós é que podemos nos apoderar dele para criar-mos as nossas boas memórias, e as minhas já foram criadas. Merecei eu mais? Não sei. A única coisa que eu sei, é que aquela morena que conquistou o meu coração à dois anos atrás não me sai do pensamento desde o dia em que os meus olhos reencontraram os dela. No dia em que o meu coração começou a bater acelarado outra vez. Estaria eu a apaixonar-me outra vez? Estaria eu apenas com saudades? Seria isto tudo um erro, ou eu realmente precisava de algo assim na minha vida?

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