CAPÍTULO 58

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Sinto um aperto no peito como se tivesse levado um chute no plexo
solar.
Prometida?
Que babaquice medieval é essa?
Ela levanta a cabeça e me encara. Os olhos bem abertos, angustiados.
Sinto uma descarga de adrenalina; estou pronta para uma briga.

— Prometida? — repito num sussurro, sabendo muito bem o que isso
quer dizer.
Cacete, a mão dela foi dada a outro cara.
Ela abaixa a cabeça de novo.
— Sim. — Sua voz é quase inaudível.
Tenho um rival. Merda!
— E quando você pretendia me contar isso?
Ela está com os olhos bem fechados, como se estivesse com dor.
— Kara, olhe para mim.
Ela leva a mão à boca — para conter um soluço, talvez? Não sei.
Engole em seco e me fita. Sua expressão é de um sofrimento intenso, o
desespero palpável. Num segundo minha raiva se desfaz e me sinto em
meio a um turbilhão.

— Estou contando agora — diz.
Ela está comprometida.
A dor é instantânea. Visceral. Chocante. Estou em queda livre.
Mas que merda!
Meu mundo caiu. Minhas ideias. Meus planos vagos. Ficar com ela…
Me casar com ela…
Não posso.

— Você ama seu noivo?
Ela reage com um sobressalto, a boca aberta, em choque.
— Não! — É uma negação aflita, veemente. — Não quero casar com
ele. Foi por isso que saí da Albânia.
— Para fugir dele?
— Sim. Eu devia ter me casado em janeiro. Depois do meu aniversário.
Tinha sido aniversário dela.

Sem reação, eu a encaro. E, de repente, parece que as paredes estão se
fechando ao meu redor. Preciso de espaço. Como quando a conheci. Estou
sufocando num redemoinho de dúvidas e confusão. Preciso pensar. Eu me
levanto e, num gesto deliberado, ergo a mão para afastar o cabelo do rosto e
organizar meus pensamentos. Kara se encolhe ao meu lado. Ela se abaixa
e leva as mãos à cabeça como se estivesse esperando…
O quê?

— Meu Deus. Kara! Você achou que eu ia bater em você? —
exclamo e recuo um passo, chocada com a reação dela.
Outra peça do quebra-cabeça que é Kara Danvers se encaixa. Não
espanta que ela sempre tenha mantido certa distância de mim. E estou
pronta para matar o filho da mãe.

— Ele bateu em você? Hein, bateu?
Ela abaixa a cabeça, olhando as pernas. Envergonhada, eu acho.
Ou talvez sinta uma versão deturpada de lealdade em relação a esse
babaca desgraçado saído de onde o diabo perdeu as botas e que acha que
tem algum direito sobre a minha garota.
Que inferno.
Fecho os punhos, sentindo uma ira assassina. Kara está
completamente imóvel. A cabeça baixa. O corpo encolhido.
Você precisa se acalmar, Lena. Precisa se acalmar.
Respiro fundo, liberando a tensão, as mãos na cintura.

— Me desculpe.
Ela levanta a cabeça num gesto rápido, a expressão sincera e séria.
— Você não fez nada de errado — diz.
Mesmo agora, ela está tentando me acalmar.
Os poucos passos entre nós parecem uma distância imensa. Apreensiva,
ela me observa enquanto me aproximo e me agacho devagar a seu lado.

— Desculpe. Não quis assustar você. Só estou chocada por você ter
um… pretendente em algum lugar, e por eu ter um rival ainda mais ele sendo homem, e fora que  o assunto é
o seu coração.
Ela pisca várias vezes seguidas, e sua expressão relaxa com um rubor
tomando conta das bochechas.

— Você não tem rival — sussurra.
Minha respiração volta ao normal. Um calor se espalha pelo meu peito e
elimina o que restava de adrenalina. Essas foram as palavras mais doces que ela já me disse.

Há esperança.
— Esse homem… Não foi você que escolheu?
— Não, foi meu pai.
Levo a mão dela aos meus lábios e beijo os nós de seus dedos com
carinho.
— Não posso voltar — sussurra ela. — Desonrei meu pai. E, se eu
voltar, vou ser forçada a casar.
— Seu… prometido. Você o conhece?
— Sim.
— Você ama esse homem, Kara?
— Não.

Essa resposta monossilábica e veemente me diz tudo que preciso saber.
Talvez ele seja velho. Ou feio. Ou as duas coisas.
Ou talvez bata nela.
Cacete.
Fico de pé e a puxo para os meus braços, para onde ela vem de bom
grado, apoiando as mãos no meu pescoço.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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