4. Não pode entrar aqui

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A "aula" terminou e eu me levantei da arquibancada.

No campo consegui ver alguns garotos jogados no chão, exaustos, sem camisa, mas não vi Tyler. Não que eu estivesse procurando, eu só não o vi.

Dei de ombros e caminhei pelo corredor, ainda faltavam quinze minutos para a proxima aula, que era o tempo que a escola dava, para trocarmos de roupa e o time de LaCrosse tomar banho.

A aula seguinte era de matemática, então eu não estava muito animada para que ela chegasse.

Nunca fui boa a matemática, na verdade eu odiava a disciplina, minha mãe dizia que eu tinha herdado isso do Malcom.

-Eu detesto matemática!- sua voz soou ao meu lado e eu me assustei um pouco. Por instantes, inconscientemente, achei que Tyler Conan fosse meu pai.- Desculpa não quis te assustar!- disse educado.

-Tudo bem!- sorri sem mostrar meus dentes.- Só acho que ninguém morreu ainda!- lembrei do fim da conversa que tinhamos tido há quarenta e cinco minutos atrás.

-Minha vontade de estudar conta?- brincou e eu ri, espontaneamente.

Olhei Conan e ele estava com os cabelos húmidos e vestido de luto.

Me apercebi que ele sempre saia antes dos colegas para tomar banho, era estranho porque todos eles sempre tomavam banho juntos, menos ele, ele nunca.

-Acho que não Conan!- suspirei, desviando meu olhar dele.

-Então, vamos matar aula, acho que é suficiente!- ele sorria.

Mas eu não sorri de volta. Minha mãe com certeza tinha ouvido aquela proposta milhares de vezes, vindas do meu pai. Engoli seco e neguei com a cabeça, sem conseguir olhar em seus olhos.

-Não é!- falei seco e comecei a apressar meu passo, Conan percebeu a mensagem e ficou para trás.

Senti minhas mãos tremerem e engoli seco, eu sabia o que se seguia então me sentei, sem me importar de estar no corredor. Dobrei meus joelhos contra o peito e escondi meu rosto nele, naquele momento eu nem pensei na possibilidade de alguém passar por ali, eu só queria que aquela tontura passasse, e se me apanhasse de pé, eu provavelmente cairia.

Apertei meus cabelos e cantei baixo, enquanto minhas mãos ainda tremiam e minhas pernas estavam inquietas, com a sola da sapatilha batendo contra o chão. Algumas lágrimas molharam meu joelho e eu me encolhi mais, tentando ao máximo controlar meu corpo, mas era difícil.

Contei até 10 e recomecei, como minha mãe me mandava fazer toda vez que tinha uma crise de ansiedade. Mas não funcionou, senti meu peito apertar e me levantei, puxei as mangas do moletom para limpar meu rosto e me assustei quando meus olhos cruzaram com a imagem de um certo loiro, me olhando intensamente.

Ele abriu a boca para falar algo mas eu não ouvi, pois meus pés, por vontade própria, correram para longe dele.

Abri, bruscamente a porta do vestiário e as meninas que conversavam animadamente agora me encaravam com os olhos arregalados.

Mordi meu lábio e passei por elas, quase que correndo.

Entrei no balneário e depois de tirar meu moletom, entrei no chuveiro.

Escutei alguns gritos das minhas colegas, mas estava concentrada de mais em respirar, para prestar atenção ou tentar descobrir qual era o problema, que no fim seria apenas um insecto inofensivo.

Passei as mãos no rosto e soltei meus cabelos, me arrependendo de tê-los molhado, pois encolheriam.

Passei as mãos no rosto, me concentrando na sensação da água, invadindo minha pele e limpando meus poros, para que todo meu corpo respirasse.

-Melissy!- sua voz, mais uma vez naquele dia, me assustou e dessa vez mais do que nas outras.

-Não pode entrar aqui Tyler!- eu disse diante do garoto que caminhava até mim.

Ele nada disse, somente chegou perto, e seus braços grandes me envolveram em um abraço forte.

My faultOnde histórias criam vida. Descubra agora