Capítulo 68

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Mordo a ponta da minha unha enquanto olho para a parede do meu quarto, perdida em meus próprios pensamentos

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Mordo a ponta da minha unha enquanto olho para a parede do meu quarto, perdida em meus próprios pensamentos. Sandro me ligou mais cedo avisando que tudo tinha dado certo na operação, mas parece que no final de tudo o Kevin simplesmente quebrou os protocolos e regras, por conta de uma das crianças que foram resgatadas.

Sei que meu namorado tem um coração bom, sei que ele se importa e ama ajudar o próximo, mas ele jamais faria algo assim, algo que vai contra tudo que ele respeita e foi ensinado a fazer, que no caso é seu trabalho, então se ele realmente fez algo que vai contra seus ensinamentos é porque ele sentiu que deveria.

Nem o Sandro soube explicar direito o que aconteceu, ele só contou por cima que o Kevin pegou uma das crianças e a levou para o hospital ao invés de ficar ajudando na finalização dos protocolos da operação.

Pulo assustada na cama ouvindo o meu celular começar a tocar e rapidamente o tiro do carregador vendo o nome do meu namorado na tela, então com a ansiedade me correndo por dentro não demoro a atender. A imagem dele aparece no mesmo segundo e eu suspiro aliviada por vê-lo bem aparentemente bem.

- Oi preto. - Murmuro aproximando o celular do rosto para o analisar melhor. - Como você está?

- Tô bem preta e tu? - Ele pergunta tombando a cabeça de lado com um meio sorriso na boca.

- Tô bem também, só preocupada com essa história que o Sandro me contou. - Suspiro pesado e me deito pra trás na cama. - O que aconteceu Kevin?

- Pô preta. - Meu namorado respira fundo e passa a mão no rosto. - O que vou contar é bem pesado, mas sei que preciso até porque não vou saber lidar com isso sozinho.

Assinto me ajeitando na cama para ficar em uma posição mais confortável para o ouvir.

- Lá no local onde fizemos a operação, haviam várias crianças entre três e sete anos de idade, todos eram meninos e órfãos. - Ele diz se encostando pra trás contra o que parece ser uma poltrona. - Um deles é o Miguel, ele tem três anos e está com uma ferida infeccionada aberta na perna, pelo que ele mesmo contou foi um dos homens que o queimou com um cigarro e depois jogou algo em cima que nem ele soube identificar o que era, mas disse que ardeu muito e sangrou.

Levo a mão até a boca, sentindo meu coração se contorcer no peito com aquelas palavras. Como alguém consegue ser ruim ao ponto de fazer mal a uma criança?

- E acontece preta, que ele disse que na noite anterior de invadirmos, ele sonhou comigo, sonhou que eu o buscaria. - Kevin diz e seu olhar sai do celular e segue para outro canto do ambiente em que ele está. - Ele não me soltou e não me deixou ir embora nem na hora dos exames, e nem eu consegui deixá-lo aqui.

- Amor. - Chamo por ele, trazendo sua atenção novamente até mim. - Cadê ele?

Pergunto preocupada com a possibilidade do Kevin ter o deixado sozinho, mas me acalmo assim que o celular vira e foca na imagem de uma cama com um pequeno corpo em cima.

Meu namorado se movimenta, se levantando e se aproximando da maca e assim que o pequeno e delicado rostinho é exposto para que eu veja, eu solto um suspiro admirada com o beicinho fofo daquela criança adormecida.

- Ele tá dormindo, depois de chorar muito e me fazer prometer que não iria embora. - Kevin murmura e meu coração se agita ainda mais no peito.

- Preto. - Chamo por ele novamente e quase reclamo quando o mesmo vira o celular em sua direção, me tirando a imagem do pequeno e fofo bebê. - Você tem que trabalhar, tem suas coisas pra resolver, não pode ficar aí pra sempre.

Kevin suspira pesado e volta a se sentar na poltrona, ele me olha atento e assente parecendo inseguro.

- Eu sei e não sei como irei sair daqui agora, não sei nem se consigo. - Ele diz e vira o rosto, o deitando de lado na poltrona enquanto provavelmente olha para o Miguel.

- Eu vou prai te ajudar então. - Falo depois de alguns segundos em total silêncio e me sento na cama no mesmo segundo em que ele volta a me olhar, mas agora visivelmente surpreso.

- Não é seguro preta, não precisa disso. - Ele diz negando rápido com a cabeça.

- Kevin, essa criança está insegura e só confia em você, tenho certeza também que esse hospital está cheio de policial e eu não correria riscos aí, posso até ir com um dos agentes que ficam aqui. - Falo já me levantando da cama e indo até meu closet.

- Mas porque vir? Não precisa fazer isso, eu dou conta. - Ele diz confuso, me olhando deixar o celular apoiado em uma pilha de roupas para então virar e pegar uma mala.

- Eu quero e sinto que devo. - Falo sincera e volto a me virar para o celular. - Assim como no seu coração acendeu uma chama para cuidar dessa criança, acendeu no meu também e me conhecendo eu não vou descansar até vê-lo bem e seguro como deve ser.

Meu namorado abre um sorriso bobo nos lábios e assente levemente, me olhando atento e com um brilho a mais no olhar. O mesmo brilho que ele tinha quando fizemos amor noites atrás.

Sorrio pra ele e me aproximo mais do celular, o pegando nas mãos novamente.

- Me manda por mensagem qual a cidade que estão que eu vou procurar passagem para algum aeroporto perto. - Falo analisando o rosto cansado do meu namorado, que ainda me olha todo bobo.

- Tá bom preta, aí mando uma equipe te buscar. - Ele diz e suspira pesado. - Tô com saudade minha gata.

- Também tô amor, mas logo mais a gente tá juntinho. - Falo sentindo meu corpo formigar de ansiedade para senti-lo pertinho de mim.

- É o que eu mais quero. - Ele diz abrindo mais o sorriso de lado, mas o fecha assim que o barulho da porta do quarto abrindo ecoa pelo local. - Preciso ir, depois a gente se fala.

Assinto em silêncio e mando um beijo pra ele, antes de então desligar a chamada e começar a arrumar minha mala com roupas quentinhas, de calor e também pijamas, tudo muito confortável e simples.

A imagem do pequeno Miguel dormindo volta a minha mente em vários momentos enquanto arrumo minhas coisas e é impossível de conter os suspiros ao lembrar do olhar do Kevin sob o mesmo. Meu namorado se apegou, em questão de segundos, mas se apegou e só vou saber se isso é bom ou ruim quando estiver lá com ele e entender toda a situação.

Não estou indo apenas pelo pequeno Miguel, mas também pelo meu namorado que parece visivelmente confuso e abalado com tudo isso.

[...]

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