Apenas Um Olhar

Capítulo 4

- O que eu disse sobre querer sua amizade é realmente sério, okay? - Fernanda diz segurando minhas mãos com leveza. - Eu adorei você e quero te conhecer melhor daqui pra frente.

Um sorriso bobo volta a aparecer no meu rosto, enquanto puxo ela para um abraço.

- Obrigada por isso Fe, tu não faz ideia do quanto eu precisava de alguém como você na minha vida. - Digo a apertando contra mim.

- Digo o mesmo. - Ela diz baixinho, alisando meus cabelos.

Fernanda me contou que depois de se casar, os amigos dela simplesmente começaram a deixá-la de lado só pelo fato de não os acompanhar mais em todas as festas que iam.

Mas é como ela mesma diz, são fases da vida e infelizmente ela não se encaixava mais naquele mundo de festas e pegação.

- A propósito, esse domingo é aniversário do Sandro e vamos passar o dia todo na praia só descansando, gostaria muito que você fosse, assim não fico sozinha com esses dois palermas. - Ela diz ao se afastar do abraço, me pegando levemente de surpresa.

- Eu adoraria, mas não sei se tenho roupa pra isso. - Digo envergonha e não sabendo se devo ou não aceitar o convite.

Até porque não sei se me sentiria confortável em usar um biquíni.

- Vamos fazer assim então, no sábado você me dá uma resposta e daí vamos juntas escolher um biquíni, conheço uma loja plus incrível que vai te deixar bem confortável nas suas escolhas. - Ela diz sorrindo, provavelmente já sabendo o que se passa pela minha cabeça.

- Tudo bem. - Digo em um suspiro, me rendendo a pensar melhor sobre o assunto. - Te mando mensagem com a decisão que eu tomar.

- Fico no aguardo. - Ela dá um pulinho sorrindo e me abraça de novo.

Beijo o rosto dela de leve e sorrio após nos afastarmos novamente.

Fernanda gruda no braço do Sandro que já havia se despedido de mim e então me viro de frente pro Kevin.

- Acho que deveria aceitar o convite, vai te fazer bem. - Ele diz enfiando as mãos nos bolsos da frente de sua calça, fixando o olhar no meu.

- Talvez. - Dou de ombros envergonhada e estendo a mão pro mesmo. - Foi um prazer te conhecer.

Ele ri descendo o olhar pra mesma e então se aproxima devagar.

Meu corpo trava no lugar quando seu rosto se inclina mãos pra perto e logo sinto sua boca contra minha bochecha, onde ele deixa um beijo leve antes de se afastar umedecendo os lábios carnudos.

- A gente se vê. - Kevin diz com a voz ainda mais rouca, desviando o olhar do meu e lentamente o descendo por todo o meu corpo, me mirando da cabeça aos pés.

Ele sorri de lado me deixando confusa com sua avaliação e assim que vira as costas descendo as escadas, tenho que me apoiar na mesinha de entrada, que está atrás de mim, pra não cair dura no chão.

Com o coração quase saindo pela boca, levo o olhar até a Fernanda e vejo a mesma rindo baixinho.

- A gente se vê. - Ela repete oque ele disse e sai puxando o Sandro que tem um sorriso convencido no rosto.

Que porra foi essa?!

Ele tava me secando ou meu julgando?

Mas que porra!!!

E que merda foi essa do meu corpo simplesmente ficar mole?

Eu não deveria reagir assim à ele, ainda mais depois de tudo que passei!

Respiro fundo algumas vezes e com as pernas ainda bambas sigo para o meu quarto.

Preciso urgentemente de um banho pra acalmar meu corpo e pensamentos.

[...]

- Ai filha, eu acho que você deveria ir, você precisa de amizades e também de momentos leves com pessoas que te fazem bem. - Minha mãe diz após eu contar sobre o convite da Fernanda, enquanto coloca o refratário de macarrão na mesa.

Mordo a ponta da minha unha olhando pra ela, que tem um sorriso acolhedor no rosto.

Talvez eu esteja procurando motivos pra recusar o convite da praia? Pode acreditar que sim.

Se tem uma coisa que eu sou mestre em fazer, é me auto sabotar.

- E nem adianta ficar me olhando com essa carinha de contrariada, então vou te dizer a mesma coisa que te disse quando te convenci a ir fazer o curso em São Paulo. - Minha mãe diz rindo e vem até mim. - Você mesma disse que quer recomeçar sua vida e ficar trancada dentro de casa ou na cozinha da padaria não vai te ajudar a realizar isso. - Ela passa as mãos nos meus cachos úmidos e eu suspiro sabendo que aquilo que ela diz é totalmente verdade, até porque os dias em São Paulo foram incríveis, principalmente as aulas que tive. - Filha, tu precisa resgatar tua auto confiança e também teu amor próprio e essa é uma ótima oportunidade para fazê-lo.

- Usar um biquini é uma ótima oportunidade pra resgatar meu amor próprio? - Pergunto indignada e confusa. - Acho que isso só vai me deixar ainda mais pra baixo mãe, ver as pessoa me olharem com nojo vai me magoar muito mais.

- Nojo Agatha? Você é linda minha filha, uma verdade gostosa com todas essas curvas. - Minha mãe segura meu rosto que esquenta com seus elogios e me faz olhá-la nos olhos. - Nunca se rebaixe por conta do seu peso, os quilinhos a mais combinam muito com você. - Ela beija minha testa e se afasta.

Passo as mãos no rosto e me ajeito na cadeira, assistindo a minha senhorinha servir meu prato com o macarrão cheio de queijo e frango.

Logo em seguida ela serve meu pai e só então eu noto o olhar dele em cima de mim, ele tem um leve sorriso no rosto enquanto seus olhos refletem apenas amor.

- Vai dar tudo certo filha, eu sinto isso. - Ele diz sincero e segura minha mão por cima da mesa.

Sorrio de leve quando ele beija as costas da minha mão e a acaricia meus dedos de leve.

- Vai sim. - Concordo sentindo a sinceridade de suas palavras.

Minha mãe se senta do outro lado da mesa e todos juntos começamos a comer.

Os dois conversam entre si enquanto eu janto em silêncio, perdida em meus próprios pensamentos.

Será que eu devo ir? Será que eu não vou passar vergonha? Será que sequer existe um biquíni ou maiô que sirva em mim?

Suspiro sozinha e brinco com a comida no meu prato, antes de pegar mais um pouco do macarrão e enfiar na boca.

Só vou saber se eu for, não é mesmo?!

[...]