Capítulo 73

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Olho mais uma vez para o Miguel sentadinho no canto do sala de recreação, colorindo um desenho que a assistente social trouxe para o mesmo

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Olho mais uma vez para o Miguel sentadinho no canto do sala de recreação, colorindo um desenho que a assistente social trouxe para o mesmo.

A mão do Kevin aperta a minha e assim trago minha atenção toda de volta para as duas mulheres em nossa frente.

- Imagino que a maior dúvida de vocês agora é sobre o tempo que levará e os protocolos de adoção, então vamos começar por aí. - A assistente social fala e abre uma pasta que está em seu colo. - Por ser uma criança com traumas, retirada de um ambiente completamente violento e tóxico, tudo se torna diferente e ao mesmo tempo que será mais fácil e rápido, será bastante rigoroso.

Balanço a cabeça em concordância entendendo o papel da justiça para casos como o do Miguel.

- Desde o momento em que tu tirou ele de lá e correu para um hospital sem sequer se importar com os problemas que isso poderia te trazer no trabalho, já vimos que poderia ser sim uma possível adoção, pois pelo que foi relato por seu superior, o Agente Valverde, você teve uma conexão imediata com o menino. - Ela continua sua fala, lendo trechos de alguma anotação que fez. - Isso conta muito em todo o processo Garcia e até mesmo a presença de sua namorada aqui vai ajudar.

- Como? - Meu namorado pergunta confuso e puxa minha mão para seu colo.

- Tudo o que se passa aqui é relatado diretamente a mim, desde a ajuda com o café da manhã até o banho da noite, as enfermeiras observam tudo e anotam em relatórios que são obrigatórios por se tratar de uma criança órfã e que está sob a tutela do estado. - Ela diz cruzando as mãos em cima da pasta. - Pra ser bem sincera, vocês nem poderiam estar aqui, nem poderiam ter esse contato direto com o menino, mas por um pedido meu depois do que vi e ouvi no dia do resgate, eu entrei com um pedido imediato para o juiz para que me dessem essa liberdade de deixá-los próximos, pois eu senti que poderia sim ser uma possível adoção vinda de você.

Respiro fundo sentindo meu corpo se arrepiar por inteiro e aperto a mão do meu namorado que se encontra trêmulo.

- Eu já vi muitos casos de pais e filhos que se conectaram em apenas um olhar, em apenas um sorriso e creio que vocês são uma dessas famílias. - A terapeuta fala e abre um sorriso acolhedor para nós. - Vocês podem não acreditar nisso, mas é como o Miguel mesmo fala, vocês foram enviados para serem dele e ele de vocês. Olha isso Agatha, vocês nem sabiam, pois estavam tão absortos de tudo que nem repararam no tanto de olhares em cima de vocês, focaram tanto em dar atenção ao pequeno que nem viram que já estavam sendo assistidos desde o início, desde o momento em que o senhor pulou dentro daquela ambulância com o menino chorando.

- Porra! - Kevin exclama baixinho e em meio a um riso envergonhado, fazendo nos três rirmos junto. - Eu nem imaginava.

- Agora uma pergunta importante. - A assistente social retoma a palavra e vira a folha de sua pasta. - Quanto tempo estão juntos?

Meu corpo estremece e eu olho para o Kevin incerta se devo responder ou não.

- Olha, nos conhecemos há uns três meses, mas namorando mesmo faz nem duas semanas. - Ele coça a cabeça, abrindo um sorriso inseguro.

- Só isso? Meu Deus eu jurava que estavam juntos a anos. - A terapeuta exclama e ri logo em seguida. - Mas eu entendo, no começo do meu relacionamento com minha esposa foi assim também, é uma conexão absurda.

- O tempo em que estamos juntos interfere em algo? - Pergunto preocupada e me ajeito na poltrona, cruzando as pernas.

- Não, só perguntei por curiosidade mesmo. - A assistente social ri de leve e nos olha. - Como eu disse, é uma adoção especial e tudo que precisamos saber é se estão ou se sentem preparados para iniciar uma nova vida com uma criança cheia de traumas e que precisará de acompanhamento e assistência pra sempre.

- Sim. - Eu e o Kevin respondemos de imediato, tirando um sorriso sincero de ambas as mulheres.

- Não será fácil, será uma adaptação tanto pra ele quanto pra vocês, e por agora pedimos que comecem a procurar alguma casa por aqui para alugar até sair a guarda provisória. - A assistente social fala, fechando sua pasta.

- Quanto tempo você acha que pode demorar pra sair? - Pergunto preocupada, mas mais pelo trabalho do meu namorado do que por mim.

- Entraremos com o pedido hoje e estaremos os acompanhando dia após dia, então acho que em torno de umas três semanas o juiz deve assinar liberando a guarda provisória ou a recusando, e se for aceita aí podem transferir o caso para o Rio de Janeiro. - Ela diz puxando sua bolsa para seu colo. - A visita da doutora será diária, tanto aqui no hospital até ele ter alta, quanto na casa onde irão ficar.

- Certo, sem problemas. - Sorrio e levo minha atenção até o Miguel que se levanta e caminha ainda lentamente até nós, ele para em frente ao Kevin e o estende os bracinhos.

Meu namorado sem pensar duas vezes solta minha mão e pega o pequeno garoto nos braços, o sentando em seu colo logo em seguida.

- Miguel tá fominha. - Ele diz baixinho, se aninhando no peito grande do Kevin. Chega a ser bonito e extremamente fofo de ver um homem desse tamanho todo carinhoso com um pingo de gente.

- Já vamos almoçar. - Ele diz sorrindo e deslizando a mão pela cabeça do pequeno.

- Então estamos conversados, me passem o contato do advogado de vocês e logo mais mando os documentos necessários para que assinem. - A assistente social diz e se levanta junto da terapeuta.

- Pode deixar, obrigada pela atenção. - Agradeço ambas e me levanto também, me despedindo delas com um rápido abraço.

Ambas se despedem do Kevin e do Miguel e logo se retiram, nos deixando a sós e com sorrisos bobos no rosto.

- Vai dar tudo certo né?! - Pergunto me aproximando do meu namorado, que já está em pé e segurando o Miguel com apenas um dos braços.

- Sim, vamos fazer dar certo. - Ele afirma e me envolve com seu braço livre, me juntando a eles em um abraço triplo.

Sorrio para o Miguel e fecho meus olhos quando seu rostinho deita ao lado do meu.

- Papai do céu que deu. - Ele diz baixinho e suspira, trazendo sua mãozinha até meu rosto e o acariciando.

Kevin me aperta mais firmemente em seus braços e sem conseguir me conter, eu deixo uma lágrima descer por minha bochecha, me sentindo finalmente completa e feliz.

[...]

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