Capítulo 65

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Arrumo o fuzil no colo e me ajeito novamente no assento do helicóptero do exercito que nos levará até a sede da PF do Paraná

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Arrumo o fuzil no colo e me ajeito novamente no assento do helicóptero do exercito que nos levará até a sede da PF do Paraná. O espaço comporta cinco agentes além do piloto e copiloto, mas estamos em apenas quatro por conta dos nossos pertences, ou melhor dizendo, das nossas pequenas malas.

- Tô só por terminar essa operação e sairmos de férias. - Sandro murmura ao meu lado e resmunga arrumando o colete no corpo. - Preciso de uns dias de paz e sem essa roupa apertada e pesada do caralho.

- Respira irmão, logo a gente ta de volta. - Falo batendo com a mão em seu ombro, o ouvindo suspirar logo em seguida.

Sandro ta nessa de resmungar desde que saímos da casa da Agatha e deixamos nossas mulheres lá, ele ta preocupado e ao mesmo tempo incomodado por deixar sua esposa sozinha. Eles são muito apegados e agora que a Fernanda esta gravida, essa proteção e apego aumentou muito mais.

E não vou mentir, também fiquei com o peito pesado de deixar a Agatha pra trás, minha preta ficou segurando o choro e tive que ser forte pra simplesmente não largar tudo e voltar pra ficar com ela.

- Todos prontos? Vamos partir! - O piloto exclama em meio ao barulho alto do vento da hélice e assim que tem uma resposta positiva do Sandro, ele inicia a decolagem.

Puxo meu escapulário, que minha mãe me deu assim que entrei na PF, de dentro da farda e deixo um beijo na santinha, pedindo mentalmente para que ela nos acompanhe e nos proteja. Respiro fundo e volto a guarda-la, antes de então beijar minha aliança e sorrir minimamente com a lembrança do sorriso da minha mulher gravado em minha mente.

Meu olhar percorre pelos outros agentes ali na cabine comigo e respiro fundo ao notar que cada um esta em preso em sua própria mente. Me ajeito no assento e levo minha atenção pra vista bonita do Rio de Janeiro que a janela do helicóptero me proporciona, me deixando assim um pouco mais calmo.

A operação é de alto risco e é exatamente por isso que pode demorar mais que o necessário para finalizarmos tudo. Cautela e segurança acima de tudo.

[...]

Jogo minha mochila dentro do armário e o fecho, antes de seguir com os outros agentes pra fora do vestiário e ir até a sala de reunião onde já nos aguardam. Ao entrar nela me sento ao lado do Sandro e arrumo minha farda no peito.

Uma xícara de café é colocada na mesa em minha frente e rapidamente viro meu rosto para a pessoa que me oferece a mesma.

- Bom dia, um café para o senhor. - Uma mulher que parece ter minha idade fala e sorri de lado. Arqueio a sobrancelha confuso quando ela se inclina mais em minha direção e sem pensar duas vezes me afasto evitando qualquer tipo de contato.

- Bora começar. - A voz do meu chefe de operações preenche a sala e eu me viro pra frente, ignorando completamente o café e a mulher que agora se afasta emburrada. - Já vinhamos conversando e planejando juntamente com a equipe do COT aqui do Paraná essa operação, já sabemos que será complicado, mas também temos uma porcentagem alta de tudo dar certo.

Assinto focado no meu chefe e cruzo os braços sob o peito assim que uma pasta é colocada na mesa em minha frente.

- Repassando então, hoje iremos acessar as imagens do local e iremos ver exatamente como funciona aquela merda toda, quero as cinco equipes completamente focadas em cada passo, cada palavra e principalmente em cada suspiro que aqueles filhos da puta derem. - O delegado diz tomando a frente. - Eles não estão pra brincadeira, tem armamento pesado e são sanguinários extremos, então todo cuidado é pouco. Queremos chegar de surpresa para que não tenham chance de sequer pensarem em agir.

Viro meu rosto para o Sandro e encontro seu olhar já em mim, transmitindo a mesma coisa na qual eu penso. Eu por ele e ele por mim sempre, nunca abandonar o outro mesmo que estejamos frente a frente com a morte.

Ele assente e eu sorrio minimamente, antes de então voltar a atenção até nossos superiores.

- Na ultima contagem que fizemos constatamos que são trinta e sete homens no grupo e treze reféns, todos os três tem vinte e um anos e são jovens negros, jovens periféricos que acreditaram em uma proposta de trabalho e foram enganados e sequestrados para serem escravizados, abusados e torturados. - O chefe de operações da COT do Paraná fala tomando a frente e abrindo a pasta em cima da mesa.

Minha mandíbula trava com força e eu tento não levar aquela informação para o meu lado pessoal, para o meu lado humano.

- As cenas que vimos e as informações que viemos recebendo nos últimos dias não são fáceis, nem mesmo eu que já tenho quase vinte anos de carreira consegui lidar bem e normalmente com tudo, então preço que respirem fundo para terem estômago para aguentarem ver o que vamos exibir daqui em diante, quero ver vocês com sangue nos olhos para acabar com aquilo de uma vez por todas. - Ele continua sua fala firme.

Com um ultimo suspiro saindo de minha boca, eu abro a pasta disposta a minha frente e no mesmo instante meu coração erra uma batida ao notar que o jovem na imagem é muito parecido com meu irmão mais novo. Ele está preso pelos pulsos por uma corrente e seu olhar demonstra cansaço e muita dor.

Meu olhar vai até o Sandro novamente e ele nega com a cabeça trazendo sua atenção até mim.

- Não foca nisso, nem pensa nisso. - Ele diz visivelmente surpreso e já sabendo o que se passa em minha mente.

Engulo em seco e viro a página, partindo para próxima imagem de outro garoto bem machucado enquanto o chefe de operações explica novamente todo o plano que já foi desenvolvido.

Dali em diante luto ao meu máximo para deixar apenas meu lado profissional presente, jogando assim todos os pensamentos fodidos pra longe e deixando só o Kevin marrento, como diz minha mulher, assumir de vez.

[...]

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