Capítulo 67

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Avanço passando pelo Sandro e varro o ambiente com meus olhos, encontrando no mínimo umas vinte crianças negras, todos meninos, nus e acorrentados pelos tornozelos

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Avanço passando pelo Sandro e varro o ambiente com meus olhos, encontrando no mínimo umas vinte crianças negras, todos meninos, nus e acorrentados pelos tornozelos.

Indo contra todos os protocolos da Polícia Federal, eu jogo a arma nas costas e puxo a balaclava da cabeça, para então enfia-la no bolso e juntamente dos outros agentes correr até os pequenos que começam a chorar mais alto.

- Você demorou tio. - O primeiro menino qual eu me abaixo do lado fala chorando e me ajuda a retirar a corrente de seu pé.

- Como assim? - Pergunto confuso e olho para trás ouvindo uma certa movimentação adentrar o ambiente, e vendo que são apenas alguns agentes da Polícia Civil com cobertores volto a ajudar o garoto.

- O Miguel falou hoje que sonhou que vocês iam vir. - Ele funga e aceita o cobertor que um dos agentes o estende.

- Quem é esse? - Pergunto ainda mais confuso e viro meu rosto na direção para qual ele aponta.

Meu coração sobe até a boca e preciso me segurar na parede atrás do garoto para não ir ao chão ao encontrar um menino de no máximo uns três anos no canto do ambiente me olhando fixamente.

Os olhos dele brilham e sem me conter me levanto, pego um outro cobertor e vou até ele que treme com minha aproximação.

- Miguel? - Pergunto baixo e me ajoelho com cautela em sua frente. Ele respira fundo e assente, enquanto os olhos escuros se enchem de lágrimas. - O tio vai te ajudar, tá bom?!

Ele apenas assente novamente e com cuidado eu retiro a corrente de sua perninha com auxílio de uma chave mestra que nos foi entregue ainda na delegacia. O pequeno garoto funga e estreme fortemente quando o embrulho no cobertor quentinho.

- O papai do céu falou que você viria. - Ele diz baixinho, ainda me olhando intensamente.

Engolindo em seco, totalmente e visivelmente abalado com a fala do pequeno, eu o analiso com mais calma, vendo que seu corpo pequeno está extremamente magro e sua perna direita tem uma ferida exposta bem grande. Respiro fundo para não expressar a raiva que invade meus sentidos por vê-lo naquele estado e com todo o cuidado pego ele em meus braços.

Seu pequeno corpo se encolhe contra meu peito e assim que levanto e viro com ele choramingando, encontro o Sandro me olhando confuso, assim como outros agentes.

Suspiro ignorando os olhares e avanço pra fora daquele ambiente, sabendo que meu amigo me segue.

- Que porra você tá fazendo? - Sandro pergunta alto ao me alcançar e vai abrindo espaço entre os agentes que circulam em nosso meio, para que eu passe com o garoto.

- Ele está machucado. - Falo com o tom de voz firme e sinto a mãozinha do garoto apertar meu colete, enquanto seu rosto se afunda no mesmo e ele começa a chorar parecendo com dor.

- Kevin?! - Sandro me chama ainda mais confuso assim que acelero o passo até uma das ambulâncias estacionadas no quintal da propriedade.

Ignoro o Sandro novamente e pulo pra dentro do veículo, deixando tanto meu amigo quanto os paramédicos surpresos.

- Coloque ele aqui e pode ir, senhor. - A mulher ali presente diz já colocando as luvas nas mãos.

Olho incerto pra ela, com um sentimento estranho dominando meu peito, mas acabo me dando por vencido por entender que ele precisa de cuidados, então me abaixo para o deixar sob a maca, porém ele se agarra em mim com ainda mais força e começa a chorar alto.

- Não, não quero. - Miguel diz assustado e se debate quando a mulher se aproxima com as mãos estendidas para o pegar. - Não tio, não quero.

Meu coração se contorce no peito e rapidamente me sento no banco da ambulância, o segurando firme contra meu corpo.

- Examina ele assim mesmo. - Peço para a mulher que me olha atentamente. - Só examina e vamos para hospital designado, não me faça perguntas.

Ela assente rapidamente e se afasta, indo até uma maleta que tem no canto interno da ambulância.

- O tio vai ficar aqui, mas ela precisa ver como você está. - Falo olhando para o menino que volta a esconder o rosto em meu peito.

Sem dizer nada, ele apenas funga e aceita o toque da moça assim que ela volta a se aproximar e começa a examina-lo com cuidado.

Vendo que ele está um pouco mais calmo, levo a atenção até a entrada da ambulância e encontro o Sandro sorrindo de canto, totalmente atento em cada movimento meu.

- Vou avisar nossas famílias e o delegado. - Ele diz rindo de leve e assim que eu assinto, o mesmo fecha as portas da ambulância que logo entra em movimento.

Minha atenção se volta totalmente e exclusivamente para o pequeno Miguel em meus braços e ao ver que o mesmo também me olha, não consigo conter o sorriso que se abre em meu rosto e muito menos conter o sentimento absurdo que nasce em meu peito, me deixando ainda mais confuso e preocupado com a situação em que me meti.

[...]

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