Castelo de Cartas

Capítulo 40: O início de um sonho;

O quarto estava escuro e quente. Essas foram as primeiras percepções da duquesa quando ela acordou naquela hora. Seus olhos piscaram várias vezes, enquanto ela sentia o corpo cansado e dolorido. Sem lembrar dos últimos acontecimentos, Rhaena quis chamar por algum empregado, mas sua voz não saiu. Sua boca estava muito seca, parecia como se facas estivessem lhe arranhando a garganta, de tão desconfortável que era a sensação.

Sem muita escolha, se sentou no colchão enquanto respirava fundo. Por algum motivo, seu braço esquerdo estava muito dolorido. Com o cenho franzido, devido a leve dor que sentia, a Scarth colocou os pés para fora do cobertor e logo contraiu a perna, ao sentir o vento gelado bater contra sua pele.

Preparada para sair em busca de algo para beber e também, de explicações, Rhaena se colocou de pé decidida a enfrentar o frio incômodo. Nesse momento, ouviu a porta abrir com um barulho levemente arrastado. Curiosamente, ela virou na direção do som, intrigada pela falta de educação de quem quer que fosse. Ninguém deveria entrar em seus aposentos sem se anunciar ou bater antes.

A iluminação do cômodo era bem precária, mas pela pequena fresta de luz que vinha do corredor, ela conseguiu ver um pouco do rosto do homem que estava ali. O reconheceu como Kardan Royce, um doutor e amigo de Kayden.

Notando isso, Rhaena ergueu uma sobrancelha e o encarou em silêncio, mas não porque não queria dizer nada, e sim porque não conseguia pronunciar uma palavra sequer devido a todo o desconforto que sentia em pronunciar qualquer palavra.

No fim, Kardan foi o primeiro a quebrar o silêncio constrangedor que os tomou.

— Vossa graça — Ela a cumprimentou educadamente, enquanto dava um passo para o lado.

Assim, viu Elijah entrar no cômodo trazendo uma jarra, juntamente de um copo de cristal com ele. Ao vê-la em pé, o mordomo não tentou esconder sua surpresa e felicidade. Muito pelo contrário, o senhor praticamente saiu correndo, tropeçando nos próprios pés até chegar perto dela.

— Madame! — Ele chamou, com a voz embargada — Está acordada! Graças a deusa...

Vendo aquela reação, Rhaena se sentiu incomodada com tanta comoção. Ele sempre havia sido tão emocionado?, ela pensou por um momento.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, após muito esforço para forçar a voz sair. Assim, seu tom saiu tão seco e rouco, que a assustou momentaneamente.

Isso é claro, não passou despercebido por Elijah Coein. Rapidamente, o homem perspicaz encheu o copo com água e ofereceu à duquesa.

— A senhora desmaiou! Todos nós ficamos muito preocupados e chamamos o doutor Royce. — Ele contou, vendo o semblante dela mudar completamente — A madame precisa se sentar.

— Eu... desmaiei? — Rhaena indagou, num tom surpreso e desacreditado enquanto segurava o copo com as mãos levemente trêmulas.

— Sim, vossa graça — Kardan foi quem respondeu a sua dúvida — Por favor, tente não fazer nenhum esforço hoje. Volte para a cama e descanse mais um pouco.

— Não, espere! — pediu, impacientemente — Como assim? O que houve comigo? Estou doente? Estou morrendo?

O doutor se aproximou com passos lentos, mas seus olhos pareciam estudá-la com calma e paciência.

— Eu tenho uma noção do que pode ser, mas ainda quero conversar com a senhora para definir meu diagnóstico. Poderia se sentar, por favor?

Ainda relutante ao pedido dele, a duquesa acabou acatando e se sentou no colchão macio, por cima dos grossos cobertores. Calada, ela observou o convidado vir ao seu encontro e se ajoelhar à sua frente.