2° temporada (01)

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Encontro Tom por acaso no cenotáfio. Mais do que depressa, ele pega o telefone, então eu saio correndo. Ele grita atrás de mim, assim então atraindo a atenção indesejada. As pessoas começavam a me reconhecer. Com medo de ser pega, busco refúgio na casa de Âmbar.
Complicado era ter sido a única explicação para a morte de Bill, oque faria as pessoas me enlouquecerem com perguntas.
Voltando para casa depois da pequena discussão que tive com Âmbar, vejo que minha mochila está toda revirada e percebo que as coisas de dentro dela haviam sumido.
Sinto alguém por trás das minhas costas, me empurrando contra o chão com uma faca apontada para o meu pescoço.

— Se você gritar eu te mato aqui mesmo.

A voz aterrorizante disse antes de enfiar uma agulha no meu pescoço e tudo se apaga.

[...]

Acordei assustada com uma enorme gritaria. Meu pesadelo nebuloso, novamente com Bill morrendo e Tom chorando, misturava-se aos gritos reais e desesperados das pessoas do lugar. Minha confusão mental durou apenas um segundo antes que eu aceitasse a realidade igualmente horrível. Eu tinha sido sequestrada e trancafiada em Leechwood Lodge, uma instituição psiquiátrica habitada por maníacos homicidas, insanos e agora por mim.

Era inútil esmurrar a porta ou me juntar áquela gritaria desesperada. Os enfermeiros tinham deixado isso bem claro.
Tombei a cabeça no travesseiro amarelado.
Senti um gosto ruim na boca ao pensar em tudo o que eu havia descoberto com tanto esforço e que agora havia sumido. Digo, oque havia acontecido entre Luna e Bill.
Os últimos quatro meses infernais não tinham servido pra nada!
Todas as descobertas que eu fiz enquanto era obrigada á morar com meu pai, fugindo constantemente de malucos na rua, tinham sido entregues numa bandeja de prata á quem quer que fosse o responsável por me manter ali.

Trancada naquele lugar eu era inútil, não podia fazer nada.
Virei-me e enterrei o rosto no travesseiro. Tudo doía, meu pescoço doía por causa daquela maldita agulha com o tranquilizante que parecia ter feito a dor no ombro direito aumentar novamente. Pelo menos eu não estava mais usando a camisa de força — um dos enfermeiros a tinham removido durante a noite, quando precisei ir ao banheiro, porém ele avisou que, se eu não me comportasse direitinho, a colocaria de volta num instante.

De repente, os gritos deram lugar a um silêncio sinistro. Sentei-me com as pernas pra fora da cama, os pés roçando o chão frio. Eu estava com raiva e não era só por te sido trancada naquele lugar. Tinha brigado com Tom, meu melhor amigo, e eu não poderia culpá-lo se ele deixasse de acreditar em mim, até porquê, ele estava no direito dele de achar que eu não estava mais querendo ajudá-lo com seus problemas pessoais, pois estava ocupada ocupada com coisas melhores.

A gritaria começou de novo, mais perto do que antes.

— Eu vou matá-lo! — berrou a voz de um homem. — Ele é um impostor, um substituto! Cadê ele? Cadê o verdadeiro Ben Galloway?

Passos fortes ecoaram no corredor. Portas pesadas se abriram e se fecharam rapidamente. Parecia que todos os funcionários do sanatório estavam percorrendo o prédio, tentando controlar alguém.
Aquela voz que gritava foi abafada e silenciou novamente. Eu me perguntava quem era, eu me perguntava quem era Ben Galloway, e que história era aquela de substituição? Que tipo de louco queria matá-lo?

Voltei a atenção para as anotações feitas no prontuário pendurado em minha cama. De acordo com elas, eu era extremamente perigosa. Não sabia oque era "Contenção Nível 5" , mas não parecia ser nada bom.
Uma forte sensação de claustrofobia tomou conta de mim e corri até a porta. De pijama de hospital e tremendo, agarrei a maçaneta e virei-a com as duas mãos, mas é claro que estava trancada e não se mexeu.
Afastei-me com passos arrastados para o outro lado do quarto de teto alto e sujo, para perto da janela, e chutei a parede com raiva.

Olhei de novo para a porta. A raiva tomou conta de mim, saí correndo e saltei, jogando meu corpo contra ela. Bati com força e cai para trás como uma boneca de pano. Depois de alguns segundos, consegui ficar em pé e comecei a esmurrá-la.
Mas não veio ninguém, como aquele enfermeiro havia dito: pode gritar á vontade, ninguém liga.
Depôs de ficar esgotado, parei e me lembrei: camisa de força.

Cansada e com frio, tirei o cobertor da cama e me enrolei nele.
Eu precisava limpar a mente, me livrar da raiva que se alimentava.
Voltei desanimada á janela e fiquei olhando pelo vidro atrás das grades. Foi quando notei um ninho de barro grudado no beiral do telhado. Com alguns passarinhos cantando em volta.
Por mais maluco que seja, eu sentia raiva daqueles passarinhos.
No meu prontuário, dizia que eu era Mirella Scotty.
Voltei para a cama. O inchaço no ombro parecia estar aumentando e doía pra um caralho. Mas eu tinha outras coisas com que me preocupar.

"Pense Zaly, pense."
Eu precisava desesperadamente sair dalí.

[...]

8h23min

De manhã, saltei ao ouvir a porta se abrindo. Alguém vestido de verde-hospital empurrou uma bandeja para dentro.
Fui até lá examinar o café da manhã, uma massa disforme banca e amarela, provavelmente ovos mexidos, duas torradas duras e uma xícara de algo parecido com café. Aquilo me parecia pior do que rancho de exército, mas era comida e eu estava morrendo de fome.
Agarrei a colher de plástico e joguei tudo goela abaixo.

A porta do quarto se abriu e bombado, o enfermeiro brutamontes de cabeça raspada e alargador prateado na orelha, entrou pisando firme.

— Tudo bem, garota — ele disse — coloque suas roupas. O dr. Valiente vai vê-la.

O enfermeiro jogou minhas roupas para mim e esperou enquanto eu me vestia.
Como era bom usar minhas roupas de novo, havia sido um alívio saber que não tinham sido jogadas num incinerador.
"Bem" pensei, "Vou descobrir quem é esse dr. Valiente. Talvez ele possa me ajudar, se eu conseguir convencê-lo de que não sou Mirella Scotty."

ғᴀʟʟᴇɴ ᴀɴɢᴇʟ  | ʙɪʟʟ ᴋᴀᴜʟɪᴛᴢOnde histórias criam vida. Descubra agora