2° temporada (03)

436 57 27
                                    

Após a minha tentativa de fuga, eles me mantiveram presa em uma camisa de força por dois longos e dolorosos dias, foi um inferno total. Meu tiro tinha saído pela culatra, agora eu estava numa posição ainda pior, ainda mais vigiada.
Todas as manhãs, os malucos gritavam suas ameaças no fim do corredor e eu não tinha nada para fazer além de tentar ignorar o barulho e pensar em como poderia sair dali.
Quando minha bandeja de café da manhã chegou, eu chamei o enfermeiro. Mas foi uma mulher com mais de 1,80m de altura quem colocou a cabeça para dentro do quarto. Os olhos castanhos e cabelos jogados para cima não me enganaram, eu percebi a dureza no seu rosto, ela parecia durona.

— Desculpa, moça.. mas eu gostaria de falar com o doutor.

— Eu sou um garoto. Sou Ben Galloway. — ele riu com deboche e eu reparei naquele nome.

— Seu filho da puta! — saí empurrando o garoto para trás, que derrubou a bandeja no chão.

Ele me agarrou pelo braço com força, eu conseguia sentir suas unhas grandes quase atravessarem minha pele.
Eu fechava os olhos com força por conta da dor e gritei alto.
Fui arrastada para uma sala estranha, diferente.
Entrei com ele na sala de recreação. A sala era comprida e larga, com algumas cadeiras de plástico, um televisor, caixas de dominó e jogos de tabuleiro bastante gastos. Sentei-me a uma mesa sob as janelas do fundo da sala.
Queimadores de cigarro pontilhavam os tampos das mesas e sentia o cheiro de fumaça recém-apagada.

O homem fechou a porta e a trancou, caminhando lentamente até o seu devido lugar, sentando de costas para mim, e logo virou-se com a cadeira giratória. Colocou suas mãos sobre a mesa e então escutei sua voz pela primeira vez, ou talvez não era pela primeira.

— Pode me chamar de Bill Kaulitz aqui dentro, mas lá fora, eu sou Ben Galloway pra você.. e para todo o resto. — ele disse me encarando de uma maneira rebelde, seus traços eram os mesmos e não haviam mudado nada durante todos essas anos.

— Mas você não estava.. — respondi tentando entender a situação, a raiva já não estava mais aparente. Com Bill, eu não conseguia ficar assustada e muito menos brava.

— Ah, querida — ele se afastou e se encostou na cadeira. — Você achou que alguém como eu poderia morrer?

— Você é louco. Você não sabe o quanto Tom sofreu por você e você parece não se importar!

— Eu aprendi a viver sem ele, Zaly — ele respondeu calmamente. — E consegui te enganar por muitos anos, não consegui?

— Sabe oque você tem? PROBLEMA NA CABEÇA! — bati a palma da mão na mesa quando a raiva começou a surgir novamente. Eu não estava brava por ele, eu estava chateada por Tom sofrer tanto pra nada.

— Não fui eu que me revelei para um assassino achando que ele iria fazer o mesmo. Será que o demente sou eu?

— Eu só quero saber o porquê estou aqui.

— Você sabia coisas demais, querida.

— Que diferença faz? Você ia acabar morto ou na cadeia do mesmo jeito. — respondi cruzando os braços. — E como fugiu do cemitério? Não faz sentido.

— Bem, isso não importa — ele andou vagamente pela sala após se levantar.

— Apenas eu e Tom sabíamos disso. E outra que, por quase quatro anos nos mantemos calados. E aqueles remédios que deixaram na minha porta hoje de manhã, eu não tomarei nem que seja a força! — levantei da cadeira, limpando a roupa e caminhei até a maçaneta, agarrando-a tentando abrir. — Não tenho motivos para ficar trancada aqui, me tire daqui e não cruze o meu caminho, que eu não cruzarei o seu.

Ele riu e puxou uma pequena arma da cintura, não era novidade que ele tinha uma.

— Não acho que tenha direito de me ditar ordens. — ele mirou na minha testa.

— Não ouse tentar me matar — Me aproximei lentamente, o empurrando com o dedo indicador até Bill bater as costas na parede. — Eu não vou ficar aqui por muito tempo, isso eu te prometo! — exclamei.

— Parece que temos uma garotinha birrenta aqui — ele riu. — Que tal me mostrar seu lado mais sádico, como era antes?

— Quer voltar para o caixão? — virei o pescoço para o lado. — dei algumas palmadas na bochecha do menino e me afastei, indo sentar na cadeira novamente. — Apenas me deixe ir para meu quarto.

— Tudo bem, Mirella. — ele sorriu e caminhou até a porta.

Idiota.

Não fazia nenhum sentido. Bill não havia contado o verdadeiro motivo de ter me trancafiado em Leechwood, minha mente suponhava que era algo pior do que eu pensava, um motivo que não era apenas vontade de olhar para o meu rosto novamente, ele estava em busca de algo, e eu precisava saber o que é.

ғᴀʟʟᴇɴ ᴀɴɢᴇʟ  | ʙɪʟʟ ᴋᴀᴜʟɪᴛᴢOnde histórias criam vida. Descubra agora