2° temporada (02)

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Bombado segurava meu braço com força, sem afrouxar um segundo enquanto decíamos as escadas e seguíamos por um corredor de portas iguais ás de meu quarto
O tempo todo, meus olhos percorriam o ambiente á procura de uma oportunidade de fuga. Havia uma porta dupla de vidro no fim do corredor, com gente entrando e saindo. Eu sabia que, se tivesse uma chance, arrebentaria aquelas portas e partiria para a liberdade.

Paramos na frente de uma porta que se destacava das outras.
Era de madeira, sem número e não tinha aquele grosso ferrolho com cara de "você nunca sairá daqui". Bombado bateu e, em seguida, me empurrou para dentro, fechando novamente a porta atrás de mim.
Olhei em volta. Eu estava em um escritório acolhedor e ensolarado, com as paredes cor de creme e estantes altas, havia também uma mesa grande perto de uma janela bem ampla. A parede era cheia de diplomas emoldurados, a não ser nos espaços tomados pelas estantes. Reparei em um peso de papel em forma de cérebro, feito de metal, colocado sobre um maço de folhas em cima da mesa.
Do meu lado da mesa, tinha uma pequena cadeira, simples e reta, enquanto do outro lado, sentado de costas para mim em uma cadeira acolchoada e revestida de couro, estava uma figura de ombros largos.

— Olá? — eu disse me aproximando.

A pessoa se virou, um homem de paletó de tweed, sombrancelhas grossas, óculos de armação preta e uma expressão severa nos olhos escuros
Então esse era o médico que um dos loucos tinham ameaçado bem cedo. Fiquei parada de frente para e me senti como se estivesse me chamado na sala do diretor do colégio.

— Sou o Dr. Valiente — o homem falou. — Por favor, sente-se.

Ele apontou para a cadeira em minha frente antes de pegar o cérebro de peso e se recostar. Sentei-me e reparei na curiosa fileira de minicactos na mesa.
Houve um silêncio até que ele largasse o cérebro com o qual brincava e olhar para mim por cima dos óculos.

— Você sabe porque estamos aqui.

— Na verdade, não — comentei.

Ele pegou novamente o cérebro e ficou rolando-o na mão.

— Fui sequestrada — expliquei. — Alguém meteu uma seringa com tranquilizante no meu pescoço, e quando acordei, estava aqui.
Trancada em uma cela.

O Valiente anotou algo antes de voltar a levantar os olhos.

— As acomodações dos pacientes certamente não são celas — disse ele. — É uma descrição bastante exagerada, Mirella.
Mirella. Esse nome estranho me deixava muito desconfortável, mas ignorei o fato.

— Exagerada ou não, foi o que aconteceu.

— Entendo — disse ele com um tom de quem não entendia coisa nenhuma.

Eu o observava enquanto ele girava o cérebro nos dedos. Segurei-me nos braços da cadeira, tentando ficar calma.
Havia também um botão na mesa; com certeza, servia para que ele pedisse ajuda caso se defrontasse com um paciente um pouco mais difícil.
Então o Valiente suspirou.

— Mirella. — começou ele.

— Meu nome não é Mirella.

Ele ignorou minha interrupção.

— Mirella, eu sou um psiquiatra. Você já foi avaliada. Tenho todos os seus dados e estou aqui para ajudá-la. Você precisa ser honesta comigo, não posso fazer meu trabalho e ajudá-la, a menos que você admita ser quem realmente é, o Sr. Galloway quer que eu te ajude, mas não posso trabalhar com alguém em estado de negação.

Valiente. Cerrei os dentes, tentando esconder minha raiva.

— Preciso me relacionar com seu verdadeiro eu — continuou ele. — do contrário eu apenas me juntaria a você em seu delírio. Você entende?

ғᴀʟʟᴇɴ ᴀɴɢᴇʟ  | ʙɪʟʟ ᴋᴀᴜʟɪᴛᴢOnde histórias criam vida. Descubra agora