Capítulo 03

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Cheguei em São Paulo, peguei um ônibus qualquer pra sair de onde eu estava e desci no ponto final.

Perguntei pro motorista onde estamos em Guarulhos.

Enfim, sei muito onde eu tô...

Parei em uma lanchonete pra comer alguma coisa, joguei meu chip pela descarga do banheiro e dei uma lavada no rosto.. sai e fiz o pedido de uma coxinha e peguei uma coca.

Café da manhã saudável, amo.

Mano eu tô na merda, eu só não vou chorar porque tô na rua... mas mano, que caralho.

Que porra eu vou fazer aqui? Preciso de uma casa, mas pra arrumar uma casa tenho que ter dinheiro, e pra ter dinheiro preciso ter emprego... larguei meu emprego, então tô sem nada.

Fui até o balcão puxar assunto com a mulher que me atendeu e ela foi super simpática.

– Eu sou de Piracicaba.– menti.– acabei de chegar em São Paulo, a senhora sabe de algum lugar onde eu consiga arrumar um quarto barato?

– Querida, você veio pra morar aqui em São Paulo ou vai passar uns dias?– ela perguntou.

– Morar.. talvez.– respondi.– Eu só preciso de um lugar até arrumar um emprego, tenho dinheiro na conta mas não é lá essas coisas.

– Olha..– ela respirou fundo.– Qual seu nome?

– Valentina.– sorri.– Valentina Reis e a senhora?

– Senhora tá no céu, eu nem sou tão velha assim.– ela gargalhou.– Meu nome é Sandra..

Um cliente reclamou algo com ela, provavelmente a demora de seu pedido.

– Eu tô te atrapalhando é melhor eu ir..– falei levantando e pegando minha mala do chão.

– Ele espera..– Sandra disse.– Você tem a idade do meu filho mais velho, eu como mãe não deixaria ele fazer a loucura de ir pra uma cidade desconhecida sozinho e sem nada.. quero ouvir você Valentina. Fica aqui!

Estava em horário de pico da manhã, e aqui tava toda hora enchendo de gente, e Sandra tava atendendo sozinha.

– Quer que eu te ajude?– perguntei.– Não tô fazendo nada mesmo..

– Claro que quero, pode colocar sua mala em casa.. só abrir aquela porta da cozinha, e colocar na sala.– ela disse e eu fui.

Abri a porta e cai na área onde fica a máquina de lavar as roupas, abri a porta e tomei um susto com uma garota, provavelmente filha da Sandra.

– Desculpa!– ela riu.

– Tudo bem, Sandra disse que era pra eu colocar minha mala na sala e eu vim entrando.. perdão, deveria ter batido.– eu disse.

– Tranquilo, qual seu nome? Eu sou a Kyara.– a garota sorriu.

– Me chamo Valentina.– falei e coloquei a mala no canto da sala.– Vou ajudar sua mãe hoje..

– Minha mãe só chama pessoas descoladas pra ajudar ela quando eu vou pra escola, quando eu tô em casa sempre é o chato do meu irmão.– Kyara. disse e eu ri.

– Descolada? Obrigada.– eu sorri.– Vou indo, até mais Kyara.

Voltei e fui ajudar Sandra pegando os pedidos, acho esse povo daqui bem folgado.. a pessoa pede uma coxinha e ainda ao invés de vir buscar quer ficar esperando lá na mesa.

Se estivesse mais gente trabalhando aqui, eu até entenderia. Mas só tem uma mulher, e ninguém se toca.

Quando o horário de pico da manhã passou, até que aqui esvaziou bastante, um ou outro que entrava pra comprar alguma coisa mas a maioria levou pra viagem.

– Valen..– Sandra me chamou e eu voltei até o balcão.– Agora dá pra gente conversar melhor..

– Ah, claro.– falei e me sentei no banco em frente ao balcão.– Sobre o que vamos falar?

– Por acaso você fugiu de casa?– ela perguntou.– Não quero ser acusada de sequestrar uma garota branca..– brincou e eu ri.

– Não, não fugi de casa.– respondi.

Querido Leitor- NLE DoprêOnde histórias criam vida. Descubra agora