Psique's Tasks

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Richarlison desconfiou que algo estava errado quando, alguns dias após sua volta para a Inglaterra, Kane voltou para a Alemanha sem nem se despedir de Son. Aquela reação não condizia com o que eles costumavam fazer, sempre melosos em suas despedidas, cheias de abraços e promessas de retorno.

Os dias que se passaram foram atípicos, Son sempre recebia ligações esporádicas de Kane, não diariamente, mas pelo menos semanalmente. No entanto, naquela semana, nenhuma ligação foi recebida, e o mesmo aconteceu na semana seguinte, deixando Richarlison em um estado de incerteza e preocupação sobre o que poderia ter causado o afastamento abrupto entre amigos tão próximos.

Ele não abordou o assunto com Son, talvez pelo medo de descobrir a verdade, que poderia ser mais assustadora do que a incerteza. Ou talvez fosse a persistente desconfiança na sinceridade e honestidade de Son que o impedia de perguntar diretamente.

Com duas consultas semanais, Richarlison sentiu-se cada vez mais pronto para voltar ao campo do Hotspur Stadium, embora já tivesse voltado a treinar com a equipe. No entanto, ele sabia que não era ele quem decidiria quando retornaria ao time titular, então, ele voltou ao consultório de sua psicóloga, determinado a obter uma direção mais clara ou, pelo menos, uma esperança em relação ao seu retorno.

A profissional como sempre lhe atendeu com um sorriso no rosto e lhe convidou a entrar, retornando àquela sala monocromática e pálida que sempre o incomodava. Tinha-se a expectativa de que um ambiente de consulta psicológica fosse acolhedor, mas aquele espaço não transmitia nenhum tipo de aconchego. Era neutro, monocromático, pálido e sem vida. Apesar das poltronas confortáveis em um tom de marrom, toda a sala parecia artificial, como se fosse uma encenação destinada a oferecer conforto e segurança, mas que, na verdade, só resultava em uma sensação de artificialidade, falsidade e vazio.

— Como foi a sua semana? — Ela lhe deu um sorriso polido enquanto o observava se ajeitar na cadeira.

— Normal.

Ela já estava acostumada com aquela resposta enquanto apenas soltou um risinho e retornou à caderneta anotando algo. Aquela ação deixou Richarlison desconfortável, sabendo que a sua rejeição à terapia era o que lhe deixava a mais tempo longe dos gramados, então ele resolveu falar.

— Olha, eu preciso voltar a jogar. Não aguento mais isso.

A psicóloga o olhou por cima dos óculos, mantendo a calma e o profissionalismo.

— Richarlison, estamos aqui para ajudá-lo a superar seus bloqueios. Pressionar o seu retorno ao campo antes que esteja emocionalmente preparado pode ser prejudicial para você.

Ele não gostou dessa resposta. Sentia-se frustrado e impotente diante da situação, acreditando que estava pronto para voltar aos gramados.

— Eu entendo, mas já faz tempo. Preciso disso. — Ele estava tenso e ansioso, desejando que ela entendesse seu desespero.

A psicóloga fechou a caderneta e colocou-a na mesa, então olhou diretamente nos olhos de Richarlison.

— Seu desejo de voltar é compreensível, mas precisamos ter certeza de que está emocionalmente preparado. Será mais produtivo para você em longo prazo.

Richarlison suspirou, sentindo-se derrotado por aquelas palavras. Ele sabia que a psicóloga estava certa, mas a paciência estava se esgotando. O dilema entre sua paixão pelo futebol e seu processo de cura emocional estava criando uma corda bamba em sua mente.

— Mas estamos fazendo progresso, Richarlison. Você só precisa ser mais paciente.

— Tudo bem. — Ele suspirou fundo, tentando reunir sua coragem fragmentada. — Minha semana foi boa. O Kane veio fazer uma visita mas ele já foi embora.

Here Comes The Sun (2son)Onde histórias criam vida. Descubra agora