Myth of Sisyphus

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Cada amanhecer se repetia como o anterior. Levantar cedo não era um hábito natural, mas ele tentava seguir as recomendações da psicóloga para melhorar sua rotina. Seu foco, por vezes, se dispersava por conta do celular, passando horas em vídeos curtos que o distraíam. Com uma agenda mais livre agora, Richarlison tinha um tempo excessivo à sua disposição.

Entretanto, o que parecia uma bênção logo se transformou em um terrível fardo. Quando não estava ocupado, sua mente se enredava nos pensamentos sobre o caso do Paulo. Ele se encontrava em um constante estado de irritação, questionando-se sobre o que poderia fazer ou como lidar com aquilo. Sentia-se como um covarde por não ter um plano definido para expor a verdade.

Desejava a ajuda de Lenglet como antes, mas a volta do francês ao seu país tornava a conexão entre eles difícil. Além disso, hesitava em envolver mais alguém naquela rede de mentiras e confusões angustiantes, por isso nem mesmo cogitava em contar a Emerson, por mais que o amigo já desconfiasse que ele estava escondendo algo.

Então vivia como Sísifo, despertando cedo todas as manhãs apenas para mergulhar nas mesmas aulas monótonas. Voltava ao apartamento do namorado para cuidar das tarefas domésticas e cozinhar o almoço para levar ao seu namorado, mesmo sabendo que sua permanência era breve, uma rápida visão melancólica dos campos que amava tanto.

Sentia uma mistura de inveja e insegurança, sua autoestima diminuída, mas ainda assim se mantinha presente em cada jogo, apoiando seu parceiro. Apesar de desejar ardentemente estar ao lado dele, sabia que estar lá, mesmo de longe, era o mínimo que poderia fazer.

Son percebia o esforço de Richarlison. A cada gol, os olhos do coreano brilhavam para ele, as comemorações eram dedicadas a ele, seu sorriso tinha um destino certo. Reconhecia a pontada de inveja nos olhos do parceiro, mas também via o empenho dedicado em oferecer apoio, e amava cada parte desse gesto.

Não era fácil para Son também, o seu pai não deixava ser. Ele tinha conquistado a amizade e o respeito de muitos atletas, principalmente devido à sua competência como treinador, algo inquestionável diante dos números e dos resultados. Seu talento para orientar e monitorar os atletas era admirável. Mesmo havendo críticas sobre sua personalidade mais séria e ríspida, no geral não havia muito do que reclamar sobre sua atuação.

A redução da pressão e das cobranças trouxe consigo um tipo de dor distinta para Son. A indiferença do pai era mais dilacerante do que os gritos e insultos anteriores. Sentir-se como um caso perdido aos olhos paternos feria profundamente, levando Son a notar a ausência de interesse e cuidado do pai. Ele já não era monitorado e observado como antes, e as críticas agora se voltavam apenas à sua postura como capitão do time, não mais abordando suas notas ou comportamento em relação às palavras. Essa mudança no foco das críticas do pai o afetava de uma maneira diferente, deixando-o com uma sensação de desvalorização e desprezo em áreas que antes eram alvo de preocupação.

Ele abrigava secretamente um desejo: ver a queda de seu próprio pai como treinador da equipe. Era uma ânsia egoísta e mesquinha, reconhecia, mas almejava apenas ter um pouco de paz para ser ele mesmo novamente. Sonhava em voltar a abraçar seus companheiros de time sem ter o olhar reprovador e de repulsa do pai sobre si. Era uma pessoa extremamente carinhosa, amante de toques afetuosos, mas na presença do pai, esses gestos diminuíam consideravelmente. Sabia que seu pai enxergava aquilo como degenerado, interpretando todo carinho como algo homoerótico, quando, na realidade, ele apenas gostava de demonstrar afeto.

Entretanto, no fundo, ele ansiava por ser amado novamente. Consciente de que o pai era um tanto quanto desagradável, entendia e não negava as falhas que os afastavam, mas desejava apenas um breve intervalo para poder ser aquela criança que o pai segurava quando machucava o joelho. Queria ser cuidado quando se feria, ter alguém que curasse seus machucados e fizesse uma massagem para aliviar suas dores. Era um conflito interno constante entre o desejo de paz e o anseio pela reafirmação do amor paternal.

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⏰ Última atualização: Jan 28 ⏰

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