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MARCELO

O dia já não começou fácil.

Acordei não tão cedo. Morava bem perto da faculdade e ia no meu próprio carro, o que queria dizer que não ia me atrasar com facilidade. Fora que, acordando mais tarde, não teria que lidar com o senhor Alessio Colucci, meu querido pai, me dando algum sermão por ter chegado tarde ontem.

Ou pelo menos foi o que eu pensei...

Assim que desci as escadas, me deparei com o próprio sentado no sofá da sala, lendo um jornal.

— Olha só, finalmente acordou? Achei que tivesse esquecido que tinha aula hoje...

— Bom dia, pai. Eu dormi bem, sim. Obrigado por perguntar...

— E que horas você chegou ontem, Marcelo? Precisa se lembrar que, a partir de agora, você tem responsabilidade a cumprir, e o nome da família para preservar...

— Sim, pai. Eu já tô cansado de saber que eu sou um Colucci, que a nossa família tem uma reputação e que eu não posso envergonhar a gente. Isso pega muito mal pra você e pra sua empresa, né?

— Você não deve saber tão bem assim, já que continua fazendo. E a empresa é nossa. Um dia, todo o meu legado será seu. Você tem que estar preparado pra assumí-lo, Marcelo.

— Tá legal. Então deixa eu ir lá me preparar pro meu legado. É meu primeiro dia de aula na faculdade, né?– e me direciono à porta, mas antes que eu saia, ele me chama de novo.

— Marcelo?– pergunta e me viro.

— Oi, pai?– respondo, já me preparando pro próximo sermão.

— Eu te amo, filho...— diz e solto uma risada.– É verdade. Tudo que eu faço, é por me preocupar e querer o melhor pra você.

— Aham, tá bom. Tchau pai...– digo, saindo de casa e indo até meu carro, dando a partida e saindo de casa.

Ele nunca estava satisfeito com nada, sempre exigindo mais de mim, querendo que eu fosse o filho perfeito, o herdeiro perfeito, o Colucci perfeito. E ainda vem com esse papo de "Eu te amo e quero o melhor pra você"? Ele quer é o melhor pra ele, pra empresa dele, pra reputação da família dele e não está nem aí pra mim.

Estava tão perdido em pensamentos depois da conversa com meu pai que, quase chegando no prédio de Economia da Universidade, o sinal estava verde e fui passar, mas um maluco simplesmente se meteu na frente do carro e, por pouco, eu não o atropelei.

Acabamos discutindo. Eu hein, cara petulante. Não deve passar de um simples jardineiro e tá se achando tão melhor que eu. Pego minhas coisas e entro no auditório do prédio de Economia, que já estava cheio e só tinha um lugar vago, o qual eu ocupo.

Mas como se o Karma não me deixasse em paz, o cara que estava sentado do meu lado é justamente o rapaz com quem eu discuti na entrada. Acabamos discutindo de novo, mas dessa vez combinamos de não trocar mais nenhuma palavra e passamos o resto da palestra sem olhar um na cara do outro.

Quando seguimos para a sala, sentamos bem longe um do outro e o primeiro professor, de Introdução à Economia entra na sala.

— Bom dia, alunos. Meu nome é Teobaldo Guzmán e, como já devem ter visto na ementa, serei o professor de Introdução à Economia de vocês. E, como é nossa primeira aula, quero que vocês se apresentem e digam porque escolheram fazer Economia...– ele diz e espera que alguém se manifeste, o que não fazem.— Então quer dizer que eu terei que chamar? Tudo bem então...– e olha logo pra mim.– Você. Pode começar a sua apresentação?– apenas dou de ombros e assinto.

— Bom, me chamo Marcelo. Marcelo Colucci. O senhor deve saber quem é meu pai. Todo mundo conhece meu pai...

— Que cara insuportável...– escuto resmungarem atrás de mim e olho na direção da pessoa, me deparando com o mesmo cara que discutiu comigo mais cedo.

— Olha, o professor deu chance pra falar! Se quisesse ter começado, era só ter levantado a sua mão, colega...— digo com uma piscadela e ele revira os olhos.— Mas voltando, meu pai é o Alessio Colucci, dono do Empório Colucci. E...eu tô fazendo Economia porque...bom, quando a sua família tem muito dinheiro, é sempre bom aprender a administrar e aplicar isso no mercado, então tô aqui pra isso...– falo e todos batem palmas. Me sento no meu lugar.

— Muito bem, senhor Colucci. E já ouvi falar muito do seu pai...– diz e sorrio.– Bom, mais alguém?

Como era de se esperar, o rapaz levanta a mão. O professor pede que ele continue.

— Bom, me chamo Jaime Negrete. Sou de Puebla e...diferente do colega aqui, eu não venho de uma família rica. Mas sempre gostei muito de cálculo, matemática e estatística, por isso resolvi fazer Economia. Muitos de vocês não devem saber o que é ter que contar cada trocado, mas essa é a realidade da maioria das pessoas. Eu...tô aqui porque eu...espero contribuir pra mudar isso.— diz e todos também batem palmas pra ele, enquanto apenas reviro os olhos.

— Então...quer dizer que você é um revolucionário?— pergunto pro tal de Jaime quando saio da sala.

— Achei que a gente tinha combinado de não trocar mais nenhuma palavra...– fala dando de ombros e andando na minha frente.

— E você acha mesmo que vai conseguir mudar o mundo só porque tá fazendo um curso na Universidade?— pergunto rindo atrás dele.

— Não, não acho. Mas pelo menos tô fazendo alguma coisa e tenho um propósito. Diferente de você, que até agora, só sabe falar dos seus privilégios, sobre como é rico e como seu papai é importante. Se você não tem um propósito além de ser o herdeiro playboy almofadinha rico, não é problema meu...— diz e me dá as costas, saindo do prédio, me deixando com raiva, mas o pior: pensativo.

— Babaca.– digo, parando de pensar nas palavras dele. Ele não sabia nada da minha vida e já estava se achando no direito de fazer suposições sobre ela? Quem ele pensa que é?

 Ele não sabia nada da minha vida e já estava se achando no direito de fazer suposições sobre ela? Quem ele pensa que é?

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Sim, Marcelo aqui vai ter daddy issues.

Acho que deu pra entender como a dinâmica deles vai funcionar então, o  desenvolvimento deles começa nos próximos capítulos, que a história vai ter três fases.

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora