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MARCELO

Eu não sou de admitir isso com facilidade. Na verdade, sendo bem sincero, é algo que raramente acontece. Mas...acho que eu me enganei com relação ao Jaime.

É claro que ele ainda é um babaca insuportável que se acha só porque é um revolucionário. Mas...também é humano. Ele foi uma das poucas pessoas que me entendeu, na verdade, uma das únicas pra quem eu tive coragem de contar um pouco sobre a minha vida.

As palavras apenas saíram, depois que ele falou sobre a mãe e como foi difícil o fato dela criá-lo sozinho, jurando que eu não entenderia. Mas eu entendo. Até mais do que ele imagina. Minha mãe morreu há pouco tempo e meu pai, bom, ele não liga pra mim. O Jaime ainda tem a sorte de ter a mãe. Eu...não tenho ninguém.

Acho que foi por isso que eu fiquei tão mexido quando ele segurou minha mão, dizendo que não sabia. Eu quase cheguei a achar que ele de fato de entendia, até começar com o papo de: "Mas isso não muda o fato de que você é privilegiado..." E me fazer lembrar porque ele era tão insuportável.

Saí logo depois do Jaime da biblioteca e fui direto pra casa. Porém, assim que entro, dou de cara com meu pai, na cozinha.

— Chegou cedo, né, pai?— pergunto ao vê-lo ali.

— E você tarde...– diz tirando os óculos pra olhar para mim.– Onde você estava?

— Na faculdade, papai...Mesmo que você não acredite, sou um dos melhores da minha turma. Hoje, inclusive, fui chamado pra ser monitor de Introdução à Economia. Satisfeito?– pergunto com um leve deboche.

— Você não fez mais do que sua obrigação...

— É claro. Mas quando eu faço algo errado, você é o primeiro a jogar na minha cara...— digo, baixinho.– Pai, posso te perguntar uma coisa?

— O que?

— A empresa...por acaso, financia algum projeto social? — pergunto, curioso, ainda lembrando da conversa que tive com Jaime sobre o "uso dos privilégios".

— E por que isso agora? Resolveu se interessar pelos assuntos da empresa assim, do nada?

— Eu juro que não te entendo! Se eu não me preocupo com os assuntos da empresa, você me cobra responsabilidade, se eu me preocupo, você fica fazendo um monte de pergunta. Sim me interessei sobre isso. Pode me responder se tem ou não?

— Tem alguns sim. Principalmente relacionados a escolinhas de futebol...– diz dando de ombros.

— Entendi...– digo passando pela sala, mas paro na mesa do telefone. Disco o número da casa da minha amiga, Pilar e, por sorte é ela mesma que atende.

— Pronto?– pergunta ao atender.

— Oi, Pili! Tá a fim de uma festa hoje?— proponho, querendo sair pra esquecer da merda que a minha vida era.

— Assim, no meio da semana?– pergunta.– Pra onde a gente vai? Ouvi falar de um bar que inaugurou esses dias...É na parte mais afastada da cidade.

— Perfeito! Preciso mesmo me enfiar em algum buraco pra não me preocupar com algum paparazzi.— digo.– Passa aqui pra me pegar? Dou um jeito de despistar o velho...

— Combinado então. Às oito?

— Perfeito...— digo e desligo o telefone, subindo pro meu quarto.

Às oito e quinze, depois de pular a janela do meu quarto, desço pra encontrar a Pilar, que me esperava na rua de cima, antes da mansão. A casa dela era ali perto, então ela não demorou muito pra chegar.

— Foi muito difícil despistar o seu Alessio?

— Por sorte não...depois do jantar ele fica super entretido com a televisão. E dorme na frente dela. Não vai nem notar que eu saí. Mas pulei a janela do quarto.

— Ai, Marcelo. Tenho pra mim  que no dia que você tiver um filho, ele vai ser tão encapetado quanto você. E aí você vai pagar todos os seus pecados.

— Vira essa boca pra lá!– digo me benzendo.— Imagina? Uma criança que nem eu? Ficaria de cabelos brancos cedo.

— Ficaria sim.

— Mas...eu também seria um pai bem mais presente na vida dele, que o meu pai foi na minha...– digo sorrindo e Pilar assente.– Mas enfim, vamos pra festa!

— É isso, meu amigo!– diz pisando fundo no acelerador, enquanto avançamos pela cidade, rumo ao tal bar.

Era bem simples, desses bares de periferia mesmo, mas estava bem cheio. As pessoas adoram novidades e estavam todos loucos pra saber qual era a desse lugar, inclusive eu.

Por sorte, ainda encontramos uma mesa e nos acomodamos ali. Pilar acena pra chamar um dos garçons, enquanto ouvimos as músicas que tocavam.

— Boa noite, o que vocês...— E reconheço aquela voz, me virando rápido.– Ah, não...

— Olá, Negrete...– digo ao ver o Jaime ali, com um caderninho nas mãos, pronto pra anotar nossos pedidos.— Então você trabalha aqui?

— Sim, Colucci. Eu trabalho. Sabe, pessoas normais precisam de dinheiro pra se sustentar. Me surpreende é você, com todo o rei que tem na barriga, frequentando um bar da periferia.

— É...me disseram que o lugar era bem frequentado. Mas agora já tô repensando.

— Meu Deus! Eu tinha até me esquecido do quanto você é insuportável. Mas acho que acabei de me lembrar...digam logo o que vão pedir!— pede.

— Me traz...duas caipirinhas.– peço.

— Quero o mesmo que ele...– Pilar diz e Jaime assente, saindo de perto da gente.– Que gato seu amigo hein?

— Primeiro, ele não é meu amigo. E segundo, acho que você tá precisando de óculos. Esse cara é o ser humano mais insuportável da face da terra. Ele faz faculdade junto comigo. E a gente se odeia...

— Hum, se odeiam é? Estranho...senti uma certa tensão sexual no ar...

— Tensão o que? Você tá maluca? Sabe muito bem que eu sou hétero! Eu gosto de mulher, e ponto!

— Ai amigo, todo homem é hétero até chupar um pau!

— Meu Deus. De onde você tira essas coisas?

— Nem eu sei. Mas que o garçom é gato, é. E se você não quiser, eu quero...– reviro os olhos pra loucura dela enquanto espero o Jaime trazer as bebidas.

Tensão sexual. Até parece...a única Tensão que tem entre a gente é o desejo de pular no pescoço um do outro a cada interação que temos. Aquela conversa de mais cedo não vai mudar nada disso...

Jani teve a quem puxar! Ela e a mãe sempre percebendo o clima dos casais antes deles mesmos

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Jani teve a quem puxar! Ela e a mãe sempre percebendo o clima dos casais antes deles mesmos.

Cada vez mais, dá pra perceber que, definitivamente, o Luka é a cópia do Marcelo. E, como a Pilar disse, veio pra causar muita dor de cabeça pro Marcelo.

E mal sabe ele que aquela conversa JÁ mudou TUDO!

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora