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JAIME

Definitivamente, muitas coisas aconteceram nesses dez anos.

A primeira delas foi quando eu me casei com a Carmen. Depois do episódio no bar, passei a levá-la em cada todos os dias e fomos nos aproximando. Começamos a namorar e...ela engravidou. Acabamos nos casando e nosso filho, Oscar, nasceu.

Continuamos vivendo em Puebla e eu consegui um emprego no banco da cidade. Minha mãe estava bem, meu filho crescia saudável e eu tinha um casamento sólido com a Carmen.

Eu soube que o Marcelo havia se casado, mas não tive mais notícias dele desde então. Não posso dizer que consegui esquecê-lo totalmente, mas também não me arrependo de tê-lo deixado ir. Assim ele pôde realizar os sonhos dele.

A...Carmen foi diagnosticada com Câncer há dois anos e a doença avançou de forma rápida. Ela faleceu há pouco mais de um mês e ainda é difícil pra todos nós sem ela, principalmente pro nosso filho.

Tenho muito orgulho do Oscar. Não tive pai e prometi a mim e ao meu filho que seria pra ele o pai que não tive. Ele é um garotinho muito inteligente, responsável e gentil que deixa todos que o conhecem encantados.

Vim pra cidade resolver algumas coisas e, como é final de semana, o trouxe comigo e o levei para brincar no parquinho da cidade. Ele logo fez um amiguinho, depois dele o atingir sem querer com a bola e eles dois passaram a tarde toda brincando juntos. Quando é por volta de cinco horas, resolvo chamar meu filho pra irmos embora e o pai do outro menino faz o mesmo, ate que percebo quem era.

— Marcelo?– pergunto, incerto de que era realmente ele ali, na minha frente, depois desse tempo todo.

— Jaime...– ele diz num suspiro, me olhando.

— Meu Deus, quanto...tempo!– digo.

— É...uns dez anos desde aquele dia.— diz indiferente.– Bom, vamos embora filho?— olha pro garotinho loiro que estava brincando com meu filho há poucos minutos.

— Ah, não papai. Eu quero brincar com o Oscar um pouco mais...

— É, pai! Deixa!– Oscar me olha, pedindo.— Aí o senhor pode conversar com o seu amigo um pouco mais...

— Não, filho. Daqui a pouco anoitece e a gente tem que voltar pra Puebla. A vovó tá esperando.

— Tá bom, pai.– Oscar diz.

— Dá tchau pro seu amigo.– digo e ele anda até o menino, lhe dando um abraço e depois anda até mim.

— Bom, Marcelo, tchau.— digo.– E eu...soube do que aconteceu com seu pai. Sinto muito.– digo porque, mesmo que eles tenham brigado naquela época, Alessio ainda era o pai dele.

— Não sinta. Ele não merece...

— Ele ainda era seu pai.— digo.– Eu...imagino que você tenha vindo dos Estados Unidos pro enterro dele, não é?

— Sim. Eu e o meu filho.

— E a sua esposa, não veio?— pergunto com curiosidade realmente genuína, mas o que ele diz em seguida me quebra:

— Ela morreu faz dois anos, na verdade.

— Nossa...eu...não sabia.

— Não tinha mesmo como saber. Mas enfim, sua mãe tá te esperando. Imagino que a sua esposa também...

— Ela...também morreu. Há pouco tempo.

— Ah...eu...sinto muito. – ele diz.– Bom, realmente tenho que ir. Tchau, Jaime. Tchau, garotão.– e pega o filho pela mão, se distanciando de nós.

— De onde o senhor conhece o pai do Luka, papai?— Oscar pergunta pra mim.

— Fizemos...faculdade juntos.– digo ainda um pouco desconcertado com o encontro.

— Então ele era seu amigo?

Ele é o amor da minha vida, filho.

— É, ele era meu amigo, sim. Você gostou de brincar com o filho dele?

— Gostei. Ele é legal. Já que o senhor conhece o pai dele, pode me levar pra brincar com o Luka mais vezes, né?

— Filho, eu não sei se o pai do Luka deixaria...

— Ele deixa. O Luka disse que é só pedir pro pai dele! Ele não nega.

— É claro que ele não negaria...— digo baixinho sorrindo ao lembrar que azucrinava o Marcelo de que o futuro filho dele seria um mimadinho por quem ele faria todas as vontades. Parece que eu acertei...– Vamos pra casa, filho. Depois  nós vemos isso.

E assim, voltamos pra casa.

— Ah, olha só se não são meus garotos!– minha mãe diz sorrindo ao sair da cozinha para a sala. Depois do susto que ela me deu ao ter aquele infarto, ela começou a fazer exercícios e, hoje, eu posso até dizer que ela é mais saudável que eu e o meu filho juntos.– E aí? Como foi a tarde?

— Foi ótima, vó! Eu fiz um amigo!– Oscar diz orgulhoso.– O nome dele é Luka! O papai é amigo do pai dele.

— Filho...que tal você subir pra tomar banho? Você tá todo suado. É o tempo que eu ajudo a vovó a colocar a mesa.

— Tá bom!– Oscar concorda e sai da sala, subindo as escadas.

— Quem era esse seu amigo?

— A senhora não vai acreditar. Era o Marcelo.

— Aquele Marcelo? O seu Marcelo?

— Sim, mãe. O meu Marcelo...

— Depois de tanto tempo? Como foi isso?– questiona e conto a ela como foi meu reencontro com o Marcelo, depois de dez anos.– E como você está com isso?

— Eu não sei, mãe. Nossas vidas mudaram completamente. Agora nós temos filhos, temos vidas separadas...e não somos mais dois jovens de vinte anos.

— Mas vocês não precisam ser dois jovens de vinte anos. Podem lidar com as coisas como adultos de trinta...

— Ele nunca mais vai me perdoar depois do que eu fiz pra ele.

— Ei, pelo visto os filhos de vocês se gostam, hein? Quem sabe isso não aproxime vocês de novo?

— É, mãe. Quem sabe...— digo abraçando ela.

Oscar não demora a descer as escadas e jantamos juntos igual todas as noites. Assistimos um pouco de televisão e depois vamos dormir. No dia seguinte, um domingo, acordamos um pouco mais tarde e passei o dia todo brincando com meu filho. Já era quase a hora do almoço quando escutei a campainha tocar.

— Tá esperando alguma encomenda, mãe?– pergunto a ela, que nega e resolvo abrir a porta. Me surpreendo com o que vejo ali.

Simplesmente, Marcelo e Luka parados à porta da minha casa, em pleno domingo.

Simplesmente, Marcelo e Luka parados à porta da minha casa, em pleno domingo

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Baby Okane coisa mais fofa e preciosa do mundo

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