JAIME
Eu não acredito que depois de tudo que eu disse pro Marcelo e de dizer pra ele que não queria mais nenhum tipo de contato com esse homem, ele simplesmente aceitou conversar com ele pelas minhas costas.
Mas nada, nada me preparou pra ouvir que o Juan só voltou porque precisa de mim pra um transplante de fígado. Por um momento, eu cheguei a pensar que ele voltou porque quer se aproximar de mim e da minha mãe de novo, mas é claro que não. Ele só precisa de mim pra sr manter vivo, mesmo que não tenha sido capaz de me criar por todo esse tempo
Eu sei o que o Juan quer. Ele sabe que eu não negaria nada do que o Marcelo me pedisse. Se ele conseguir convence-lo a me persuadir a doar meu fígado pro meu pai, acha que não vou negar. Mas é o Juan. Eu não quero mais nada com ele. Nada.
— Jaime, espera aí!— Marcelo diz vindo até mim no elevador, mas aperto o botão pra ele não subir no mesmo que eu.— Jaime!
E é claro que ele bota a mão no meio das portas, fazendo elas se abrirem e entra no elevador junto comigo.
— Não quero falar com você agora!
— Ah, não! Você não acha realmente que eu tô acreditando no seu pai, não é?
— Eu não sei o que pensar! Só sei que encontrei vocês dois saindo juntos do restaurante, um dia depois de eu ter te contado o porquê não quero mais me aproximar dele! Por que aceitou falar com aquele homem?
— Porque ele prometeu que não nos procuraria mais se eu o ouvisse. Eu juro que foi só uma conversa.
— Achei que me conhecesse...
— E voce acha que não conheço? Você ficou abalado de ouvir que ele só voltou porque precisa de você. Imagina se ouvisse isso vindo da própria boca dele?
— Eu não teria nem aceitado conversar com ele, pra começo de conversa. Achei que você ia fazer o mesmo...– a porta do elevador abre e saio de dentro na mesma hora, caminhando a passos largos pelo corredor enquanto ele tenta me acompanhar.
— Eu seria capaz de qualquer coisa por voce, pra te proteger. Jaime, acredita em mim. — E segura meu braço, fazendo-me parar—Eu não cogitei acreditar em nada do que ele me disse. Muito pelo contrário. Eu mandei ele embora. Sei o quanto ele te faz sofrer e odeio qualquer pessoa que faz isso, até mesmo seu pai. – passa a mão pelo meu rosto e não recuo. — Ele está jurando que você vai aceitar doar parte do seu fígado. E contou toda a história pra mim, do porque deixou vocês...
— E por que foi?– pergunto baixinho.
Por anos, me pegava pensando porque meu pai me deixou, porque ele não me quis e porque foi embora. Mas nunca consegui chegar a uma resposta completa além da mais simples de todas: ele preferiu ir embora a ficar com a gente. Agora, finalmente, eu saberia porque ele nos abandonou.
— Ele...recebeu uma proposta de emprego nos Estados Unidos. Não queria que sua mãe quisesse ir junto, porque ela havia acabado de ser deportada. Então ele foi sozinho, sem vocês. Chegando lá, ele não podia mais voltar, porque inventaram um monte de dívidas. Ao ser liberado, há poucos anos, ele disse que sentiu vergonha de voltar. Mas agora que precisa de você...
— Ele resolveu se reaproximar. E o que você disse pra ele depois de ouvir essa história?
— Que se precisasse tanto de um fígado entraria na fila como todo mundo. E que era pra ele ficar longe de nós, ou iria preso.– anuncia e começo a rir.
— Meu Deus. Você disse isso mesmo pra ele?
— É claro, querido. Eu disse que faço tudo por você.– diz e me dá um selinho.– Não duvide do que eu sinto por você, por favor.
— Não duvido é só...
— Você tem medo de se magoar com seu pai de novo. Eu entendo. E só quero te proteger, Jaime. Só isso.— diz e pega na minha mão. – Ei, agora vem, você tem uma apresentação na empresa.
E sorrimos, enquanto entramos na sala de reunião com os acionistas e funcionários da empresa. No fim do dia, depois da apresentação e de começar a trabalhar, vamos pra casa e encontramos minha mãe sentada na sala lendo uma revista.
— Boa noite, Joana! Cadê nossos filhos?– Marcelo cumprimenta ela, lhe dando um abraço.
— Onde você acha? Correndo pelo quarto lá em cima. Já estava indo lá vê-los...– diz com um sorriso.
— Ah, não se preocupe, podemos ir lá vê-los...– Marcelo diz olhando pra mim
— Ahn...vai na frente eu...vou conversar com a minha mãe.– digo e ele assente, me dando um beijo e subindo as escadas.
— O que aconteceu, meu amor?
— O Juan apareceu de novo. E falou com o Marcelo. Ele finalmente contou porque foi embora e porque voltou...— E começo a explicar pra ela tudo que Marcelo me disse.
— Meu Deus...– diz com a mão na boca.– Jamais esperei isso do seu pai. E...você vai doar o fígado pra ele?
— Não, mãe. É claro que não. Mas acho que preciso falar isso pra ele. Ou senão, duvido muito que nos deixará em paz.
— E está seguro disso?
— Preciso estar. Não vou doar uma parte do meu corpo pra uma pessoa que me abandonou, mãe. Não vou. Pode ser egoísta, mas vai continuar sendo a minha decisão.
— Você está certo, meu filho. Eu também não quero mais qualquer contato com o Juan.
— Ainda dói?– pergunto.— O abandono?
— Deixou de doer quando eu me vi tendo que criar um filho sozinha. Ninguém ia fazer isso por mim, ou comigo. Precisei engolir meu choro pra ser o melhor pra você.
— E fez um ótimo trabalho. Eu te amo, mãe. Você foi o melhor que eu poderia ter...– digo dando um beijo em sua testa.– Agora, vou ver meu filho.
E subo as escadas, andando pelo corredor até o quarto no qual os três- porque o Marcelo também já estava naquela brincadeira, que consistia numa espécie de pique pega- estavam brincando e me permito contemplar por um instante aquela cena. Ainda hoje, não entendo alguém que troca uma família por uma aventura e perde tudo isso.
— Será que tem espaço pra mim nessa brincadeira?— pergunto rindo.
— Papai!– Oscar diz e corre até mim, se jogando no meu colo.– Hoje foi um dia muito bom na escola. Eu conheci os amigos do Luka! E eles me falaram que vão ser meus amigos também.
— Que legal, filho. Fico feliz em saber.– digo e abraço ele, dando um beijo na sua bochecha.– Agora, vamos brincar!
E começamos a correr pelo quarto rindo. Me esqueço de Juan e de tudo e só consigo focar nos três ali. Eu tinha tudo que precisava com eles.
Eu sei que eu disse que o plot do pai do Jaime ia durar só mais um capítulo, mas senti a necessidade de colocar esse mais fofinho.
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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?