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JAIME

— Como é que é?— pergunto, sem acreditar no que acabei de ouvir. Como assim eu fui desligado da empresa sem um aviso prévio?

— Bom, nós...recebemos uma comunicação ainda agora, dizendo que não era pra gente deixar você entrar e pra te comunicar que você tinha sido desligado.

— Então a decisão foi tomada hoje de manhã? Com base no que?— pergunto e a mulher dá de ombros, indicando que não sabe.– Eu posso pelo menos ir lá dentro buscar minhas coisas?– ela me olha, pronta pra negar, mas Marcelo se mete.

— Olha aqui, queridinha. O mínimo que vocês podem fazer é deixar o Jaime entrar pra pegar as coisas dele lá dentro! Já não basta essa demissão de uma hora pra outra, ainda querem impedir ele de entrar pra pegar as próprias coisas? Ou deixam a gente entrar, ou vamos fazer um escândalo nessa merda de recepção que amanhã vai estar em todos os jornais!– ele grita.– E ainda processamos vocês! E então? Vai deixar a gente entrar?

A mulher não ve outra escolha a não ser nos deixar passar e subir até o andar em que eu trabalho, pra pegar minhas coisas.

— Eu só preciso ir em mais um lugar...– digo e me direciono para o corredor da sala do meu chefe, batendo à porta dele e ouvindo um "Pode entrar" do outro lado. Abro a porta e a cena que vejo ali me deixa desacreditado, mas não surpreso.– Ah, claro. Só podia ser. Eu sabia que tinha dedo seu nisso...– digo, ao ver o pai do Marcelo sentado e rindo de frente pro meu chefe.

— Jaime, você não...

— Não devia estar aqui? Você me demitiu por causa desse homem? E passou por cima de todo o trabalho que eu realizei todo esse tempo?

— Ora, garoto. Você já devia ter entendido com estava se metendo quando me desafiou...– Alessio diz e nessa hora, Marcelo entra com tudo na sala.

— Ele não te desafiou! Eu te desafiei. Eu disse que não queria mais ser seu filho, eu saí de casa. O Jaime só se defendeu de você. Tudo que você sabe fazer é destruir as pessoas ao seu redor. Você destruiu a minha mãe e me destruiu. Mas eu não vou permitir que você destrua ele. Se quiser punir alguém, puna a mim. Ele não!– E se vira pro meu chefe.— E saiba você que o Jaime vai arrumar um emprego muito melhor do que essa empresa chimfrim! – Marcelo diz e sai da sala.

— Eu não vou deixar o seu filho! A gente se ama. E não importa o quanto tente, a gente não vai se separar.

— Eu não vou precisar fazer nada, moleque. Ele vai abrir mão de tudo por você. E aí, quando você menos esperar, ele vai encontrar alguém pra culpar quando ver que a vida não é tão receptiva com garotos mimados como ele. E sabe quem vai ser esse alguém? Você! Principalmente quando ele perceber que, enquanto deixou tudo por você, a sua vida continuou a mesma. Esse é o Marcelo...— Não quero mais ficar aqui, ouvindo ele dizer essas atrocidades sobre o homem que eu amo e que também me ama. Ele não é assim.

Eu conheço o Marcelo. Ele não abriria mão dos seus sonhos por minha causa, muito menos me culparia por não ter alcançado o que queria. Esse homem não o conhece. Não de verdade, como eu conheço.

— Você não o conhece...

— Ah, não? Eu fui pai daquele ingrato por 22 anos! E o conheço como a palma da minha mão porque ele é igual a mim. E vai ser igual a mim não importa  o quanto tentem lutar contra isso!– ele diz e viro as costas pra eles, saindo dali. Assim que chego ao corredor, vejo o Marcelo parado, respirando rápido.

— Ei, vem cá. Vai ficar tudo bem...— abraço ele fortemente junto a mim.

— É culpa minha, Jaime...– diz com a voz baixa.– Se eu...não tivesse desafiado ele...

— A gente não estaria aqui, juntos agora. Vamos sair dessa juntos, tá? Eu me viro, arrumo um emprego em outra empresa ou...estabelecimento. Já fiz isso antes. Tô acostumado. Vamos embora...

E, juntos saímos do prédio, com Marcelo dirigindo até Puebla, de volta pra minha casa. Começamos a tirar as nossas coisas de dentro do porta-malas e colocar pra dentro. No fim, depois de tudo, ajudo Marcelo a arrumar suas coisas no meu guarda roupa.

— Tem problema de não servir tudo aqui?– pergunto já que, mesmo depois que eu tirei algumas das minhas roupas de dentro do guarda roupas, as dele não iam servir todas ali.

— Não. Na verdade, tô até pensando em doar algumas...– ele diz olhando as roupas.

— Doar pra quem? Pro Presidente?

— Para as pessoas carentes.

— Ah, claro...porque é óbvio que pessoas carentes vão super querer um terno da gucci

— E se eu vender? Dá pra conseguir uma grana...

— Não precisa. Já falei que vou dar um jeito...

— A gente vai dar um jeito juntos.– Marcelo promete e me dá outro beijo, me jogando na cama..

Nos interrompemos quando escutamos a porta da casa, no andar de baixo, abrir. Minha mãe havia chegado em casa. Desço as escadas, indo até ela.

— Filho? Você chegou cedo do trabalho? Aconteceu alguma coisa?

— Fui demitido, mãe. Por causa do pai do Marcelo!– digo pra ela.

— O que?– ela pergunta.– Como assim?

Eu e Marcelo explicamos tudo que aconteceu hoje na empresa pra ela.

— Nossa, meu filho. Que situação. Eu realmente não entendo como esse homem pode ser capaz de uma coisa dessas só por poder.

— Nem eu. Mas amanhã mesmo eu vou atrás de outro emprego, mãe...— digo e ela me abraça.

— E eu...quero ajudar de algum jeito também. – Marcelo diz – Meu pai acabou com qualquer expectativa que eu tinha de, um dia, perdoar ele. Vocês são minha família agora...– e abraça nós dois.

Acabamos pedindo pizza para o jantar e depois minha mãe sobe pra dormir, dizendo estar um pouco cansada de hoje e eu e o Marcelo não demoramos a fazer o mesmo.

— Marc, você...me promete uma coisa?

— O que?

— As coisas vão...ficar difíceis a partir de agora. Eu quero que prometa que, aconteça o que acontecer, você não vai abrir mão de nada da sua vida por minha causa.

— Jaime...

— Prometa. Aconteça o que acontecer, você não vai desistir dos seus sonhos por minha causa?

— Eu prometo...– diz, levemente contrariado, mas sorrio e o beijo– Agora vamos dormir. Hoje o dia foi cheio...

No dia seguinte, acordo e Marcelo não está do meu lado. Vou até a janela, abrindo ela e olhando o céu lá fora. Assim que o faço, olho pra baixo e vejo uma cena um pouco inusitada. Marcelo estava segurando uma vassoura, tentando varrer as folhas da calçada. Começo a rir e desço as escadas.

— Oh, mãe, de quem foi a ideia de colocar uma vassoura na mão do Marcelo?– pergunto, mas paro ao chegar na cozinha e vendo ela com uma das mãos no peito– A senhora tá sentindo alguma coisa?

— Só uma falta de ar...– diz e puxa o ar e corro até ela.– Ai!– e aperta mais a mão no peito, desmaiando nos meus braços.

— Mãe!– Grito.– Marc, me ajuda!

— O que...Ah, meu Deus! Vem, vamos colocar ela no carro!– e me ajuda a levar minha mãe pro carro, entrando rápido no banco do motorista enquanto vou atrás com ela, tentando, sem sucesso, reanimar minha mãe.

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora