MARCELO
Olho para o homem à minha frente é percebo que Jaime tem muitas características parecidas com ele. O formato dos olhos e do nariz, por exemplo. Não dá pra negar que ele é pai do Jaime.
Mas também não dá pra esquecer a dor no rosto do homem que eu amo quando viu o pai outra vez, depois de 30 anos.
— Não!— digo pra ele, me afastando do homem, mas ele vem atrás de mim.– Escuta aqui: o Jaime não já deixou bem claro que quer você longe da gente? Pare de insistir! Não quero falar com você. Não temos assunto algum pra tratar. Vai embora!
— Me escuta, Marcelo. Por favor...Vou embora depois, nunca mais incomodo nenhum de vocês. Mas, me ouve.– ele pede e odeio que algo em seu olhar seja tão parecido com o Jaime, a ponto de eu estar cogitando ouvir o que quer que ele tenha a dizer.– Por favor...
Respiro fundo. Eu tenho quase certeza de que vou me arrepender disso...
— Tudo bem! – anuncio e ele respira aliviado, com um sorriso no rosto.– Meia hora é tudo que você tem pra me convencer a não te mandar evaporar da face da Terra. Me acompanha!– peço e ele entra no prédio da empresa comigo. Nos acomodamos em uma das mesas.– Pode começar! E quero toda a verdade. Se vai me fazer te ouvir, não desperdice seu tempo nem o meu mentindo pra mim. Por que voltou?
— É assim que você trata o pai do homem que você ama?
— É assim que eu trato a pessoa que abandonou o homem que eu amo!– retruco.– Então, me poupe desse teatrinho. Por que voltou?
— Porque eu...preciso do Jaime!– diz – Eu...preciso de um...transplante. De fígado. E o Jaime é a única pessoa compatível.
— E você realmente acha que depois de tudo que você fez ele vai querer te ajudar? Pra começo de conversa, por que você foi embora?
— Eu...fui para os Estados Unidos. Havia recebido uma proposta de emprego lá. Eu tinha que ir sozinho.
— E aí você nem cogitou não ir? Ou falar pra Joana o que faria?
— Não...Ela tinha sido deportada havia pouco tempo. Fiquei...com medo dela querer ir comigo, e acabar sendo presa. Chegando lá, eu não tive mais como voltar...
— E aí foi fácil passar 30 anos fora.– debocho.
— Eu não tive mais como voltar porque não me deixaram voltar, Marcelo! Inventaram um monte de dívidas, que só cresciam. Eu não podia ligar e tinha medo. Só fui...liberado há alguns anos, quando aqueles que me empregavam foram presos.
— E, ainda assim, não cogitou voltar?
— Eu senti vergonha. Já tinha passado muito tempo fora. Preferi me manter longe.
— Até precisar do Jaime pra salvar a sua vida.– completo, ainda debochando.— E, por acaso, descobrir que ele namora um cara rico o suficiente pra bancar seu tratamento.
— Você pode me julgar. Mas será que no meu lugar você não faria o mesmo?
— Não. Não faria nunca o mesmo que você. E sabe por que? Eu já estive no seu lugar. Recebi a proposta da minha vida, de ir embora daqui no momento que eu mais precisava. E eu ia desistir dela sem pensar duas vezes pelo seu filho. Ele não me deixou fazer isso. Além do mais, eu sou pai. E eu nunca seria capaz de deixar meu filho pra trás. Então não, eu não entendo o que você fez, nem quero entender e com certeza não faria o mesmo. Nunca.
— Olha, eu sei que o que eu fiz é imperdoável. Mas, por favor, fala com o Jaime. Pede pra que ele me escute. Eu prometo que não vou nem fazer questão de que ele me perdoe, mas...eu preciso dele...
— Não vou fazer isso. Faça como todos fazem. Entre na fila de transplante. Esqueça que tem um filho. Você fez isso tão bem durante esses anos todos. E parece tão disposto a continuar. Comece agora.– digo me levantando da mesa.– Vai embora. E se ousar se aproximar do Jaime, de mim, ou de qualquer pessoa da nossa família outra vez, eu mando prender você!
E saio de perto, indo embora do restaurante. Vejo ele vindo atrás de mim, mas é no exato momento que encontro com o Jaime.
— Hey, estava te procurando!– ele diz andando até mim, mas para vendo o pai atrás de mim.– O que esse homem tá fazendo aqui? Você tava com ele?
— Não, Jaime...ele...pediu pra conversar comigo.
— E você aceitou? Mesmo depois de tudo que eu te falei ontem? Por que deixou ele entrar aqui?
— Filho, se acalma...– dessa vez, quem fala é Juan
— Não me chama de filho! Vai embora!— diz e Juan realmente sai dali.– Por que estava com ele?
— Porque ele precisa de um transplante de fígado. E precisa que o doador seja você.
— Então ele...realmente voltou só por causa disso?– diz, e percebo que ele ficou triste com aquilo. E assinto levemente, tentando acariciar seu rosto. Mas ele recua.
— Jaime...
— Depois. Agora...eu acho que tenho uma apresentação na sua empresa, não é?– diz e sai andando na minha frente, mal me dando oportunidade de me explicar.
Não é possível que ele esteja cogitando que eu aceitei alguma explicação do seu pai por tê-lo abandonado.
Juro que o plot do pai do Jaime só vai durar mais um capítulo. Aí depois...tem umas cenas que voces já tão esperando desde Lo Siento...
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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?