MARCELO
Dias depois...
— Os Estados Unidos são uma grande potência mundial. — Jaime disse, enquanto respondia à pergunta do professor sobre os Estados Unidos. — Quanto a isso não há dúvidas. Eles ganharam a segunda guerra mundial e a guerra fria. E já estão se consagrando como a maior economia do mundo. Mas eles não são perfeitos. Muito pelo contrário. O "sonho americano" tanto pregado pelos estadunidenses só vale pra poucos, geralmente para os que estão dentro do país, são brancos e tem alguma condição financeira. Aos que não possuem essas características é relegado o esquecimento, a margem. O Apartheid não é tão antigo assim e deixou marcas que são vistas até hoje. E todo mundo sabe o que acontece quando latinos, como nós que, pasmem, estamos na mesma América que eles, atravessam a fronteira. Quando atravessam. A minha...– e dá uma pausa, respirando fundo porque falar da mãe sempre deixava ele um pouco emocionado. Acho bonita a maneira como ele valoriza tudo que ela fez por ele. Seu olhar encontra o meu, discretamente, e sorrio, tentando lhe passar algum conforto.
"A minha mãe foi uma dessas latinas que não pôde ter acesso ao tal sonho americano. Ela foi deportada dos Estados Unidos quando tava grávida de mim. E nunca mais tentou sair do México. Isso não é justo. Não é justo que os Estados Unidos cresçam, sejam vistos como a maior economia do mundo quando, na verdade, eles nunca foram os bonzinhos da história."
— Obrigado pela contribuição, Jaime. Suas opiniões são sempre muito interessantes e agregam muito com a nossa aula...– o professor agradece
— Marcelo?— um dos meus amigos me cutuca e paro de olhar para o Jaime, depois que ele tinha terminado de falar. Ele fica ainda mais bonito quando fala sobre o que acredita.
— O que?– pergunto, olhando pra trás.
— Você...não vai levantar a sua mão e discordar do Jaime?
— Pra que?
— Porque é assim que vocês são. Ele fala uma coisa e você automaticamente discorda.
— Aaaah. Nao tô a fim de brigar hoje. Além do mais, o que ele falou faz muito sentido...– digo e eles me olham com se eu tivesse falado a maior atrocidade do mundo.– E...também, eu sei que o meu argumento é muito melhor que o dele.
— E qual o argumento, Marcelo?— o Jaime pergunta, me olhando com deboche.– Por que não compartilha pra sala toda?
Filho da mãe!
— Bom...já que pediu...— digo.– Todos os países têm problemas. Até o México tem problemas...Tá bom que a gente não é nenhuma grande economia mundial, mas o ponto é que, na hora de conseguir investimentos, fazer exportações e ter relações internacionais, os países estão pouco se importando com quem entra ou com quem sai dos Estados Unidos, muito menos com os diversos problemas internos e estruturais que eles têm. As empresas, multinacionais e governos como um todo só pensam no lucro. E infelizmente não tão nem aí para os problemas internos. Essa é a realidade que pode ser injusta, mas é a única que existe...
— E só porque é a única que existe, quer dizer que a gente não pode mudar? – Jaime pergunta, olhando pra mim.
— Eu não quis dizer...– começo, mas ele apenas para de me olhar.
— Obrigado pela contribuição, Marcelo...– o professor diz– Suas opiniões também são muito enriquecedoras nas nossas discussões.– o professor diz, mas só consigo observar o Jaime, olhando pra frente.
Eu falei alguma coisa errada?
No fim da aula, o Jaime é o primeiro a pegar a mochila e sair da sala e saio praticamente correndo atrás dele.

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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?