MARCELO
Filhos não deviam crescer.
É sério. Por mim, meus bebês bebês duas criancinhas atentadas pra sempre. Naquela época, pelo menos, minha única preocupação era se eles não tinham quebrado nada ou ralado um joelho enquanto corriam pelo quintal.
Hoje, tenho que me preocupar com não ser avisado que o corpo de um deles foi encontrado numa vala, ou que o outro engravidou uma fã no show.
Sim, eu sei. Todo mundo me avisou que esse seria meu karma por ter sido um capeta com a idade deles. Mas eu tenho sido uma pessoa tão boa nos últimos tempos. Custava ter retribuído um pouquinho?
— No que você tá pensando?– Jaime pergunta enquanto faz carinho no meu cabelo. Estava deitado em seu peito enquanto ainda assistíamos a TV, mas minha mente foi pra outro lugar. Ele não estava nem me olhando, mas sempre sabia do que se passava comigo.– Ficou quieto de repente.
— É so que...eu queria que eles dois estivessem aqui, sabe? O Oscar chegou de viagem hoje e já saiu pra uma festa e o Luka mal para em casa. Sinto falta de quando eles eram pequenos.
— Meu amor, eles são jovens. Assim como eu e você já fomos um dia. Eu me lembro bem do quanto você gostava de sair pra festas e pra beber. Deixa eles curtirem. Uma hora ou outra a gente sabia que isso ia acontecer, e, mesmo que eu também sinta falta da infância deles, nossos filhos cresceram. Além do mais, achei que você gostasse da minha companhia.
— E eu gosto, amor. Amo a sua companhia. E sou feliz por te ter comigo.
— Eu também sou. E você já deveria saber que esse seria o seu karma, não é?
— Já. Mas não imaginei que ele fosse ser tão filho da puta assim.– digo e Jaime ri– Não, mas sério, você não se preocupa com nossos filhos se embebedando em festas por aí?
— Não. Eles sabem se cuidar e já são bem grandinhos pra assumirem suas responsabilidades. O que me preocupa sobre eles, na verdade, é outra coisa...
— E o que seria?
— Eles tem a mesma idade que a gente tinha quando... tudo aquilo aconteceu. – diz, se referindo ao fato dele ter terminado comigo depois de toda a história da doença da sua mãe. – E eles se gostam, Marc! Dá pra ver. Conversar com meu filho hoje me deixou isso bem claro. No começo a gente ficava falando que não ia interferir, que ia deixar que eles dois quisessem ficar juntos, ou não, já que sempre há a possibilidade deles quererem outras pessoas. Mas nunca teve. Eles querem um ao outro. Mas não admitem. O Oscar, porque não quer que as pessoas fiquem falando mais ainda de nós e o Luka porque mesmo que tenha uma autoconfiança digna de um Colucci...– diz e começamos a rir.— Não vai se atirar de cabeça numa história que pode significar a perda de uma das pessoas que ele mais ama na vida.
— Então, você tá querendo dizer que...se não agirmos rápido e nos metermos na vida dos nossos filhos, eles dois vão acabar se magoando, que nem a gente se magoou?
— É precisamente o que eu tô dizendo. Essa história do Oscar ser parecido comigo nessa parte de ser cabeça dura tá martelando na minha mente desde hoje cedo, quando conversei com ele e percebi que ele é, sim, igual a mim. Assim como eu, o Oscar seria capaz de partir o próprio coração pra proteger aqueles que ama. Eu abri mão de você pra que fosse livre. Ele abriria mão do Luka pra que nem ele e nem a gente se prejudicasse pela sociedade preconceituosa que a gente ainda vive.
— A gente precisa mesmo fazer alguma coisa. – digo concordando com ele.– Diferente de mim, não sei se o Luka se reergueria se perdesse o Oscar.
— Sim. E eu não posso deixar meu filho cometer o mesmo erro que eu cometi...– Jaime diz pegando na minha mão.
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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?