Your Song| Jaime e Marcelo

14.

JAIME

Assim que ouvi a voz do pai do Marcelo atrás de nós, senti meu corpo gelar e meu mundo parar por um segundo. Vivemos bem por todos esses anos, ainda que escondidos de todos, mas desde que a formatura começou a se aproximar, passamos a nos preocupar menos com isso de nos encontrarem.

Mas uma coisa é nossos amigos descobrirem. Outra completamente diferente é o pai do Marcelo. Porque ele não mediria esforços pra separar a gente e disso eu tinha certeza

— Pai?– Marcelo pergunta.— O que o senhor tá fazendo aqui?

— Eu vim pra sua formatura!

— Pro encerramento dela você quer dizer, né?

— Pare de mudar de assunto? O que você fazia beijando esse...rapaz na frente de todo mundo?

— Bom, pai, esse aqui é o Jaime. E a gente estava se beijando porque a gente se ama!— Marcelo confessa pro pai.– E não é de hoje. Isso acontece desde o primeiro ano da faculdade. Bem debaixo do seu nariz...

Escuto sons de surpresa vindos de todos os lados. Nossos amigos que ainda estavam ali, estavam surpresos porque...bom, enganamos até eles também.

— Eu sempre soube que aquele ódio significava tesão acumulado!– Roberta grita, cortando o clima pesado e todos começam a rir dela.

— Eu soube desde a primeira vez que pus os olhos em você que não seria uma boa influência, seu moleque! Você fez a cabeça do Marcelo!– diz apontando o dedo pra mim.

— Ah, não pai! Você não me conhece? Acha mesmo que eu seria influenciado por qualquer pessoa a fazer algo? Eu tô com o Jaime porque eu quero! Porque eu amo ele! E ele me ama!

— Ama nada! Ele só tá interessado no seu dinheiro!

— Escuta aqui, seu velho! Eu não sou um interesseiro! Eu amo seu filho. E quero ficar com ele. Goste você ou não, nada vai mudar o que a gente sente...– falo porque aquela acusação de ser interesseiro era demais.

— Você que pensa! Eu não vou permitir que esse relacionamento aconteça! Vamos pra casa agora, Marcelo!

— Eu não vou pra lugar nenhum com você! Eu vou com o Jaime. Pra onde ele for...

— Você é o herdeiro da empresa! Você...você tem o nosso nome para preservar!– Alessio grita.– Se for com esse rapaz, pode deixar de se considerar meu filho!

— Muito bem então. Adeus, Alessio.

— Você não pode fazer isso!

— Observe...– Marcelo diz e sai me puxando até seu carro.

— Você vai se arrepender disso!

— Ah, eu já tô arrependido! Mas sabe do que, papai? De não ter feito isso antes...– e sai de perto do pai.

— O que aconteceu? Aquele homem...É seu pai, Marcelo?– minha mãe pergunta.

— É! Ou era...E eu acabei de ser deserdado...– Marcelo responde.

— Meu Deus eu...não acredito no que acabou de acontecer.— digo, surpreso.— Você...enfrentou seu pai por minha causa?

— E você tinha alguma dúvida de que eu faria isso, amor? E não foi só por você. Tudo que eu falei ali foi a explosão de anos tendo que ouvir dele que eu só dou desgosto. Bom, agora ele tem realmente um motivo pra dizer isso...– e sorri fraco entrando no carro. Minha mãe entra no banco de trás e eu no banco do carona.– E agora eu acho que não tenho mais casa também né...