Fase 2: 2008
MARCELO
— Papai...— Luka me cutuca nas costelas e me viro pra ele. O nosso avião estava quase decolando, com destino ao México.
— Oi, filho?– pergunto me virando pro garotinho que era uma cópia fiel da Helena. A pele branquinha, os cabelinhos loiros e lisos. A única exceção era os olhos. Esses eram da cor dos meus.
— Será que a gente vai olhar a mamãe lá no céu?– meu filho pergunta e isso faz meu coração se partir.
A mãe dele morreu há dois anos.
— Eu...acho que não, filho. Mas ela com certeza vai ver a gente.
— Eu sinto saudades dela...
— Eu também, filho.— digo e o abraço, deitando sua cabeça no meu colo e esperando que ele pegue no sono assim.
Mas ok, vamos por partes.
Pedi a Helena em casamento e, praticamente um ano depois do noivado, nos casamos. Ela não demorou a engravidar e, aí nasceu o Luka. Hoje ele tem sete anos.
Vivemos uma vida feliz, os três, por quase cinco anos. Aprendi a amar a Helena e posso dizer que pensar no Jaime já não dói mais como doía antes. Só não posso dizer que o esqueci, porque isso nunca vai acontecer e eu estaria mentindo se dissesse o contrário.
Vivíamos bem, até que a Helena sofreu um acidente de carro e não resistiu, me deixando sozinho com nosso filho, que tinha só cinco anos na época. Desde então, venho fazendo meu melhor pra ser pai e mãe pra ele.
Luka é um menino muito esperto e, tenho que admitir, mimado também. Acho que, pelo fato de meu pai não ter me criado direito, me sentia no dever de fazer diferente com meu filho. E também ele perdeu a mãe tão cedo. Tudo que eu fizesse pra diminuir a dor que ele sente por ter perdido a mãe, eu faria.
E isso incluía fazer tudo que ele me pedisse. Eu sabia que teria problemas com isso mais tarde mas, sinceramente, que se fodesse. Ver o sorriso do meu filho compensava qualquer coisa. Pilar vive dizendo que vou comer na mão dele quando ele crescer.
E, bom, ela não errou quando disse que eu colheria tudo que plantei sendo um capeta com meu pai.
Eu realmente não iria mais voltar pro México. Minha vida estava nos Estados Unidos. Meu trabalho, meu filho e seus avós maternos estavam ali. Não queria separá-los. Fora que o México carregava algumas das minhas piores lembranças.
Que ironia. Ao mesmo tempo em que foi o lugar no qual eu mais fui feliz, também foi onde eu fui mais destruído.
E eu fui obrigado a voltar pra lá porque meu pai exigiu a minha presença.
Ele está morrendo.
E não quer que eu volte porque me ama e sente minha falta.
Mas porque prefere que o filho bi rejeitado por ele e sua pior decepção, como ele sempre fazia questão de dizer assuma a empresa que leva o nome da sua família a ver qualquer outra pessoa fazer isso.
Não percebo quando, assim como meu filho, também acabo dormindo durante o vôo. Acabo acordando com o aviso dizendo que já vamos pousar.
— Filho, acorda. Já vamos pousar...— acordo Luka, que ainda dormia no meu colo e ele me olha, sorrindo.
— A dinda Pili e a Jana vão vir buscar a gente?– pergunta.
Sim, Pilar se casou pouco depois de mim e, pra quem não queria ter filhos, hoje ela é mãe de Jana, uma garotinha de seis anos, tão esperta quanto o meu próprio filho e tão engenhosa quanto a mãe.
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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?