Fase 1: 1993
JAIME
Eu já estava tendo um dia de merda antes mesmo da primeira aula.
Hoje seria meu primeiro dia de aula na faculdade de Economia, na Universidad Nacional Autónoma de México, a melhor do país.
E eu só esqueci um pequeno detalhe.
Eu moro em Puebla e a universidade é na Cidade do México, o que significava que eu teria que pegar um ônibus na rodoviária pra chegar lá. Mas é claro que eu esqueci de colocar o despertador.
— Jaime Mariano Negrete!– minha mãe entrou no meu quarto gritando e me acordando– Você se esqueceu que dia é hoje?
— Segunda feira? — pergunto acordando e ela me olha brava, o que faz meu cérebro dar um clique— Meu Deus é meu primeiro dia de aula!– e me levanto num salto, correndo pro banheiro pra tomar banho e me arrumar.
Quando saio, minha mãe está me esperando com o café posto na mesa e sorrio agradecido, começando a comer.
— Tu bendicíon, mamá...— peço assim que ia sair de casa
— Dios te bendiga, mi hijo...– ela diz e me dá um beijo na bochecha.
— Eu vou te orgulhar, mamãe...— digo e a abraço.
— Você já me orgulha, querido.– ela diz e sorrio, saindo de casa e caminhando até a rodoviária, onde um ônibus já me esperava, junto com outros estudantes que também estavam indo pra faculdade na capital.
A viagem demorou um pouco mais de uma hora, até chegarmos ao meu destino. Saltei do ônibus e caminhei até a entrada, mas quando coloquei o pé na faixa, pra atravessar quase fui atingido por um carro, que freou no último segundo.
— Seu maluco! Você por acaso não sabe o que é um sinal vermelho não?— o rapaz pergunta, saindo do carro e me olhando de cima a baixo.— Ah, claro. Não deve ter isso de onde você vem né?
— E você já ouviu falar de faixa de pedestres do seu pedestal, playboy?— Retruco. Se ele pensava que ia poder me humilhar só porque tinha o rei na barriga, estava muito enganado.
— Sorte sua que não arranhou meu carro. Do contrário, acho que você não ia poder pagar!
— Ah, vai se foder, vai!– digo e me distancio daquele mauricinho maluco, entrando no prédio de Economia e indo até o auditório, onde me informaram que seria a recepção dos calouros. Percebo que tinha me atrasado, já que só tinham dois lugares e me sento em um deles. Fico apenas aguardando que a acolhida comece. Até que alguém se senta do meu lado e encaro a pessoa.
— Só pode ser brincadeira...– o garoto que tinha quase me atropelado agora há pouco diz ao me olhar, e acena pra uma das pessoas do auditório, que estavam na equipe de apoio.– Moça, eu acho que esse cara aqui tá no lugar errado...– Mas ela apenas o olha como se ele fosse louco e sai de perto.
— Escuta aqui seu riquinho de merda, eu mereço estar aqui tanto quanto qualquer um de vocês!— aponto entre as pessoas no auditório.
— Você sabe com quem está falando?
— Sei! Com um filhinho de papai rico que acha que todo mundo que é inferior a ele só porque não é tão rico quanto ele e que isso dá o direito de tratar todo mundo como bem entender. Eu acertei, Playboy?— pergunto debochado pra ele, que me olha com ódio.
— E você, eu imagino que seja um pobretão que acha que é muito melhor que eu por causa dessa sua consciência de classe. E pra sua informação, eu sou um Colucci! Marcelo Colucci.
— Eu não tô nem aí pra quem você é.– informo a ele.– E que tal se a gente fizer assim: cada um cuida da sua vida, você não tenta me atropelar com a sua Lamborguini...
— É uma Ferrari.— corrige.
— Foda-se. Você não tenta me atropelar com a sua Ferrari e a gente não precisa nem falar um com o outro pelos próximos cinco anos de duração do curso...
— Como se eu fosse ter algum assunto pra falar com você...— diz revirando os olhos.– Mas é, eu concordo.— e se vira pro lado oposto ao meu, enquanto faço o mesmo.
Poucas palavras, mais como uma introdução mesmo.
Já deu pra ver que esses dois vão aprontar muito né?
E que o Luka e o Okane tiveram muito a quem puxar
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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?