Eu já estava tendo um dia de merda antes mesmo da primeira aula.
Hoje seria meu primeiro dia de aula na faculdade de Economia, na Universidad Nacional Autónoma de México, a melhor do país.
E eu só esqueci um pequeno detalhe.
Eu moro em Puebla e a universidade é na Cidade do México, o que significava que eu teria que pegar um ônibus na rodoviária pra chegar lá. Mas é claro que eu esqueci de colocar o despertador.
— Jaime Mariano Negrete!– minha mãe entrou no meu quarto gritando e me acordando– Você se esqueceu que dia é hoje?
— Segunda feira? — pergunto acordando e ela me olha brava, o que faz meu cérebro dar um clique— Meu Deus é meu primeiro dia de aula!– e me levanto num salto, correndo pro banheiro pra tomar banho e me arrumar.
Quando saio, minha mãe está me esperando com o café posto na mesa e sorrio agradecido, começando a comer.
— Tu bendicíon, mamá...— peço assim que ia sair de casa
— Dios te bendiga, mi hijo...– ela diz e me dá um beijo na bochecha.
— Eu vou te orgulhar, mamãe...— digo e a abraço.
— Você já me orgulha, querido.– ela diz e sorrio, saindo de casa e caminhando até a rodoviária, onde um ônibus já me esperava, junto com outros estudantes que também estavam indo pra faculdade na capital.
A viagem demorou um pouco mais de uma hora, até chegarmos ao meu destino. Saltei do ônibus e caminhei até a entrada, mas quando coloquei o pé na faixa, pra atravessar quase fui atingido por um carro, que freou no último segundo.
— Seu maluco! Você por acaso não sabe o que é um sinal vermelho não?— o rapaz pergunta, saindo do carro e me olhando de cima a baixo.— Ah, claro. Não deve ter isso de onde você vem né?
— E você já ouviu falar de faixa de pedestres do seu pedestal, playboy?— Retruco. Se ele pensava que ia poder me humilhar só porque tinha o rei na barriga, estava muito enganado.
— Sorte sua que não arranhou meu carro. Do contrário, acho que você não ia poder pagar!
— Ah, vai se foder, vai!– digo e me distancio daquele mauricinho maluco, entrando no prédio de Economia e indo até o auditório, onde me informaram que seria a recepção dos calouros. Percebo que tinha me atrasado, já que só tinham dois lugares e me sento em um deles. Fico apenas aguardando que a acolhida comece. Até que alguém se senta do meu lado e encaro a pessoa.
— Só pode ser brincadeira...– o garoto que tinha quase me atropelado agora há pouco diz ao me olhar, e acena pra uma das pessoas do auditório, que estavam na equipe de apoio.– Moça, eu acho que esse cara aqui tá no lugar errado...– Mas ela apenas o olha como se ele fosse louco e sai de perto.
— Escuta aqui seu riquinho de merda, eu mereço estar aqui tanto quanto qualquer um de vocês!— aponto entre as pessoas no auditório.
— Você sabe com quem está falando?
— Sei! Com um filhinho de papai rico que acha que todo mundo que é inferior a ele só porque não é tão rico quanto ele e que isso dá o direito de tratar todo mundo como bem entender. Eu acertei, Playboy?— pergunto debochado pra ele, que me olha com ódio.
— E você, eu imagino que seja um pobretão que acha que é muito melhor que eu por causa dessa sua consciência de classe. E pra sua informação, eu sou um Colucci! Marcelo Colucci.
— Eu não tô nem aí pra quem você é.– informo a ele.– E que tal se a gente fizer assim: cada um cuida da sua vida, você não tenta me atropelar com a sua Lamborguini...
— É uma Ferrari.— corrige.
— Foda-se. Você não tenta me atropelar com a sua Ferrari e a gente não precisa nem falar um com o outro pelos próximos cinco anos de duração do curso...
— Como se eu fosse ter algum assunto pra falar com você...— diz revirando os olhos.– Mas é, eu concordo.— e se vira pro lado oposto ao meu, enquanto faço o mesmo.
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Poucas palavras, mais como uma introdução mesmo.
Já deu pra ver que essesdoisvão aprontar muito né?