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OKANE

Como faz pra parar de sentir algo por alguém proibido?

Essa é a pergunta que eu me faço todos os dias, desde que eu percebi, cedo ainda, que estava gostando do Luka mais que como amigo.

E a melhor maneira que encontrei, todos esses anos, foi deixando claro pra ele e pra mim que não somos nada além de irmãos. Afinal, se eu disser isso pra mim e pra ele, uma hora acaba virando verdade, não é?

Depois que a banda decolou, eu passo mais tempo viajando do que em casa. O Luka mesmo quase não para em casa, graças às viagens como modelo. Evitar ele fica mais fácil, porque quando eu estou aqui, não consigo fazer isso.

— Eu tava com tanta saudade da sua comida, vó! A sua lasanha é a melhor do mundo.– digo com a boca cheia de comida no almoço que a minha avó tinha feito pra mim. Joana Negrete é a melhor cozinheira do mundo.

— Isso é verdade. Ela fez essa lasanha especialmente pra você...– meu pai diz. Eu estava com tanta saudade deles. De ouvir a risada alta do meu pai com as coisas que o Marcelo dizia, ou escutar minha avó cantando, mas principalmente, estava com saudades do Luka.

— Bom, família, a lasanha da vó estava realmente deliciosa, mas tenho que ir!— Luka diz, se levantando da mesa.

— Mas hoje não é seu dia de folga, Luka?– Marcelo pergunta.

— Era. Remarcaram minha sessão de fotos pra hoje de última hora. Vou indo. Não me esperem pro jantar!

— Quer que eu te leve?– pergunto

— Não precisa. A Jana vai passar aqui.— diz e sai de casa.

— Sabe, eu gostava mais quando vocês dois eram crianças que sempre estavam em casa e adoravam brincar juntos. – Marcelo fala.– Hoje em dia, se um tá em casa, o outro não tá. Acho que vocês deviam voltar a fazer coisas juntos. Como os melhores amigos que são.

— Vocês sabem que não é tão fácil assim, gente. O Luka tem a vida e o trabalho dele, ei tenho a minha. Não dá mais pra gente ficar andando junto pra cima e pra baixo.

— A gente não tá falando que vocês dois precisam passar 24 horas grudados. Só que...seria legal se dessem um pouco mais de atenção um para o outro. – Meu pai concorda com o Marcelo, como sempre. Acho bonitinha  a maneira como eles são muito cadelinhas um do outro e um sempre concorda com o que o outro fala.

— Bom, não fui eu que saí correndo no meio de um almoço em família pra um compromisso de trabalho, né?– digo dando de ombros.– Terminei de comer. Vou subir pra descansar porque tô cansado...– e me levanto da mesa, saindo de perto deles e subo as escadas até meu quarto.

Que era em frente ao dele.

Deito na cama, olhando para o teto. Aquela história toda sempre fui tão confusa pra mim. Nossos pais se casaram, mas nós não somos irmãos. Foi isso que eles sempre tentaram colocar na minha cabeça.

Mas não é o que as pessoas acham. Pra elas, nós somos irmãos e pronto. Marcelo e meu pai nunca me contaram, mas eu sei que há pessoas que não os aceitam por serem um casal de dois homens. Imagine o que pensariam se os filhos deles se envolvessem romanticamente?

Escuto batidas na porta.

— Entra!– digo e meu pai entra no quarto.– Oi, pai...

— "Já terminei de comer e tô cansado da viagem..."– me imita e senta na cama do meu lado.– Tudo isso pra fugir de um assunto que te incomoda. Quer falar comigo sobre isso?

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora