Volto pra casa naquela noite pensando no que o Marcelo me propôs.
Trabalhar com ele. Praticamente me pedindo silenciosamente pra que eu fosse morar com ele também. Levando meu filho e minha mãe junto.
E não é que eu não quisesse aceitar, mas tem a minha mãe também. Tem a vida dela inteira aqui e seu emprego. Não sei se quero deixar ela sozinha na cidade, caso ela não possa ir.
— Boa noite, mãe!– digo assim que chego em casa, vendo ela sorrir ao se virar e me olhar do sofá.
— Boa noite, querido. E então, como foi a entrevista?
— Foi muito boa, mãe. Trataram a gente super bem e as perguntas não foram nada invasivas. Eu falei de você também, quando perguntaram sobre a minha família.
— E de mim, papai?– Oscar pergunta.
— É claro que eu falei de você também, meu filho. E sabe o que eu disse?– pergunto e ele nega — Que você é a coisa mais importante da minha vida. E que eu faria tudo por você, porque eu realmente faria, meu filho.– digo e ele sorri, me dando um abraço.
— Eu também faria tudo por você, papai. Eu te amo muito!– meu filho diz sorrindo e beijo sua bochecha.
— Filho, eu preciso conversar com a sua avó.
— É sobre a gente ir morar com o Luka e o tio Marcelo? O Luka me disse, papai. Você vai aceitar, não vai?— Oscar pergunta e arregalo os olhos. Ele já estava ficando sem filtro igualzinho o Luka, de tanto conviver com ele.
— Eu pedi um tempo pra pensar. E pra conversar com a sua avó. Vai lá em cima tomar um banho, enquanto eu faço isso. Pode ser?– pergunto pra Oscar, que assente e sobe as escadas até o seu quarto.
— Então...o Marcelo te propôs ir morar com ele?
— Sim, mãe. Na verdade, ele me ofereceu um trabalho na empresa dele. Mas...deu a entender que queria que eu fosse morar com ele.
— E você não aceitou ainda, por minha causa?– Minha mãe pergunta, me levando pra sofá, me abraçando e acariciando meus cabelos.
— Não. Não é por sua causa. Eu pedi um tempo pra pensar porque é algo grande, que não dá pra decidir assim, do nada. Mas eu...eu quero aceitar, mãe. O Marcelo quer que não só eu, como meu filho e a senhora vamos morar com ele. E eu...pensei que essa seria a maneira que a senhora teria de, finalmente, parar um pouco e finalmente se dedicar a algo que goste de verdade. Eu vou entender se não quiser ir comigo, mas não quero te deixar sozinha. Sempre fomos só nós dois. E a senhora sempre cuidou de mim tão bem. Queria...retribuir.
— Meu amor, você já retribuiu. Todos esses anos, desde que eu...tive aquele infarto, antes até, você sempre se dedica tanto pra cuidar de mim, que às vezes esquece de cuidar de você. Agora que o Marcelo voltou, ele quer cuidar de você.
Ele sempre disse que faria isso. Desde que começamos a conversar pela primeira vez, o Marcelo sempre dizia que seria a pessoa com quem eu me permitiria desmoronar, que ele estaria ali pra mim. Ele sempre tentou ser isso, até mesmo quando quis desistir dos seus sonhos por mim. Hoje eu entendo isso.
— Então...a senhora vai comigo?
— Não vou conseguir ficar parada.
— E não vai, mãe. Agora a senhora vai poder, sei lá cantar. Lembro que a senhora amava canto e música, mas parou de fazer isso quando o...aquele homem foi embora. A senhora também parou tudo por mim. Agora está na hora de voltar.
— Olha, é uma possibilidade incrível, meu filho. Não havia pensado nisso.
— Sem contar que, o meu filho vai poder ter mais oportunidades do que eu tive.
— E você está bem em aceitar que o Marcelo te dê um emprego e em ir morar com ele? Eu digo isso porque você sempre foi tão...correto. Não acha que ele está querendo te sustentar, ou algo assim?
— O Marcelo sabe que eu nem cogitaria aceitar se achasse isso. Ele me disse que deu meu nome para os diretores da empresa, não porque eu sou o namorado dele, mas porque sabe que eu sou competente. E disse que eles amaram meu currículo. E eu...sinto que já passei tempo demais longe dele. Agora eu quero...tudo que eu puder ter.
— Então, acho que já podemos arrumar nossas malas e colocar a casa pra alugar. Vamos morar com o Marcelo!– minha mãe diz e me abraça sorrindo.
— Obrigado, mãe. Eu te amo.— digo beijando sua bochecha.
Depois de falar com a minha mãe, vou até o quarto do meu filho, que já lia um livro de histórias deitado na sua cama, mas para assim que me vê, levantando da cama num rompante.
— A vovó aceitou? A gente vai poder morar com o tio Marcelo e o Luka? Que nem uma família?
— Sim, filho. Ela aceitou. Agora a gente vai morar com o Marcelo e o Luka.— digo e ele me abraça. Oscar sempre foi muito carinhoso. Espero que isso não mude quando ele crescer.
— Ebaaa! Obrigado, papai! Eu tô muito feliz. Agora eu sou irmão do Luka.
— Filho, você pode continuar considerando ele como seu melhor amigo. Ninguém vai te julgar por isso.
— Mas se você vai namorar com o pai dele, e o pai dele vai namorar com você, isso faz da gente irmãos...– disse com uma careta confusa.– É isso que a minha professora diz, quando eu falo que o Luka é meu melhor amigo.
— Tá, tá bom. Mas eu quero que saiba que ele é, sim, seu melhor amigo. Ele sempre será, independente de mim ou do Marcelo, entendeu?
— Entendi, papai.– diz e dou um beijo de boa noite em sua testa.
— Boa noite, filho.— digo e saio do quarto dele, apagando a luz.
Assim que saio, digito uma mensagem pra Marcelo no meu celular.
"Só pra saber: nós vamos morar com vocês"
Semanas depois...
Colocamos a casa pra alugar e não demorou muito até aparecer um interessado. Estávamos terminando de arrumar as coisas e até o Marcelo e o Luka estavam ajudando quando olho um homem do outro lado da rua, nos olhando, como se procurasse por algo.
— O senhor está perdido?– pergunto olhando pra ele. Havia algo em seu olhar que eu reconhecia, mas não sabia o que
— É...acho que agora não estou mais. Você é...Jaime Negrete, não é?– pergunta e assinto.– Bom, eu sou...o seu pai. – Anuncia, me pegando tão de surpresa que eu poderia cair ali mesmo no chão.
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