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MARCELO

Ele me beijou!

Tipo, ele realmente me beijou!

E, se eu ainda tinha qualquer dúvida de que poderia sentir algum desejo por um homem, elas acabaram de ser completamente sanadas. Porque eu queria ele. Eu quero ele. Esse grande arrogante insuportável que virou minha vida de cabeça pra baixo desde o dia que, literalmente, se meteu no meu caminho.

— Olha aqui...– digo quando nos separamos do beijo.— Eu não sei como isso aconteceu, nem quando eu passei a gostar de você assim, mas...confesso que tô louco pra descobrir onde é que vai parar...– digo.

— Então...você também fica com homens?— pergunta curioso.

— Não...– digo– Eu nunca fiquei com nenhum homem na minha vida. Até semana passada, eu acreditava piamente que era hétero.

— E o que mudou então?

— A Pilar...– digo– E você. Ela...ficou me botando pilha que sentia uma tensão sexual entre nós dois. De tanto ela falar, eu...comecei realmente a perceber que sentia alguma coisa por você...e depois, fui...percebendo e enxergando que eu sou...– e solto um suspiro, antes de falar a palavra.– Bissexual. A partir daí, várias coisas ficaram bem claras pra mim. Simples assim. Não vou fazer disso uma grande questão. E não se ache só porque me fez questionar minha sexualidade, isso nem foi grande coisa...

— Claro que não...jamais faria isso.– diz e sorrimos.

— Mas...E você? Como foi? Que descobriu que não era hétero?

— Bom...eu também não fiz disso uma grande coisa na minha vida.  Devia ter uns...13 anos quando percebi que me atraía por caras e por garotas. Eu...acho que devia ter uma paixonite pelo professor de educação física, mas...também me sentia atraído pelas meninas. No começo eu achei que devia ter algo errado comigo, mas percebi que existem outras pessoas como eu no mundo. Lutando pelos seus direitos e pra amar quem quiserem. E foi, assim como você, que eu me entendi como bissexual.

— E a sua mãe sabe?

— Sabe. No começo, como toda mãe, ela...não entendeu muito bem. Mas, aos poucos, ela...viu que o amor de mãe que tinha por mim era maior que qualquer preconceito. Ela nunca gritou comigo, me expulsou de casa ou tentou me forçar a ser quem eu não quisesse. Acho que isso foi muito importante pra que eu aprendesse a confiar mais em mim mesmo pra...enfrentar o mundo que não é tão compreensivo como ela.– diz e assinto, um pouco triste porque sabia que o meu pai seria como "o mundo". Eu sabia bem que ele não aceitaria fácil que o filho que tanto o envergonha e futuro herdeiro do império que ele construiu seja...bissexual e, além disso, esteja se relacionando com um homem.– Você ficou calado de repente. Eu...disse alguma coisa errada?

— Não. Não, você não disse nada errado.— digo olhando em seus olhos, de um castanho muito bonito.– Na verdade, o que você falou é que é o certo. Pais deveriam apoiar seus filhos. Ajudar eles a enfrentarem o mundo. Não serem mais um motivo de medo e julgamento...

— Você está falando isso por causa do seu pai?— pergunta e assinto.– Eu nem conheço esse homem e já não gosto dele...

— Sorte a sua que não convive há dezenove anos com ele.– digo, sincero.— Só que, quando a mamãe era viva, ela conseguia me defender e me proteger das cobranças dele. Agora que ela morreu...ele fica livre pra fazer o que quiser comigo...

— Você não precisa ficar pensando nisso agora. Vamos só...deixar rolar, tá bom? A gente pode se esconder, assim as páginas de fofoca não te encontram. E vamos vivendo...– sugere.

— É uma boa ideia.– digo e beijo ele de novo.— Imagina se descobrem que logo eu, um Colucci, tô ficando com um pobretão que nem você?

— Nem assim você para com isso? Mas acho que quem ia passar vergonha seria eu. Imagina a ruína pra minha carreira de militante se vissem que eu tô...ficando com alguém que é tudo que eu nego— diz e sorrio.

— Esse é só o começo, querido...– e dou uma piscadela, voltando a me sentar à mesa em que estávamos.– Acho que...já está ficando tarde, não é? Melhor a gente ir. Você ainda tem que pegar o ônibus pra sua casa, não é?

— É. Melhor irmos mesmo...— diz, assentindo.

— Bom, vou pagar a conta!— digo e chamo um dos garçons, tirando a carteira do bolso.

— Nada disso. Eu que te chamei, então pago eu!

— Meu Deus, como você é teimoso...– digo.— A gente divide a conta então, pode ser?

— Tá, tá bom. Pode ser.— diz e somamos o dinheiro das nossas carteiras, pagando o valor da conta.

Voltamos pro meu carro e dou partida, saindo dali e dirigindo até a rodoviária, pra deixar o Jaime lá.

— Então...a gente se vê segunda?— pergunta, abrindo a porta e assinto, mas antes o puxo pra um beijo e ele corresponde, puxando meu cabelo no processo e colando nossos corpos tanto quanto é possível antes da gente se separar.

— Sabe...pra você não sentir minha falta esses dois dias longe de mim...

— Acho que não sou eu quem vai sentir sua falta, Colucci. Você nunca conseguiu se manter muito afastado, não é?

— É...acho que você tá certo...– admito e ele acaricia mais uma vez meu pescoço, antes de sair do carro e correr pra rodoviária, atrás do seu ônibus.

Volto pra casa, mas antes...precisava falar com uma pessoa, que estava louca pra saber como foi tudo.

— Vocês se beijaram?— pergunta assim que abre a porta da casa pra eu entrar e corremos pra quarto dela— Anda, Marc. Desembucha!

— É...nos beijamos.– digo.— E acho que foi o melhor beijo da minha vida. Ou melhor, beijos...

— Seu safadinho...quem diria que por trás desse engomo todo havia uma boca sedenta por beijar outro homem?– diz e jogo uma almofada nela.— E como você vai fazer com relação ao seu pai?

— A gente vai viver. E ver no que vai dar...– digo.– Torcendo pro meu pai não descobrir nada.

— Ei, posso ajudar também...– diz me abraçando.– E vou amar jogar na sua cara que o cupido dessa relação fui eu...

— Eu sei que agora você não vai me deixar em paz...– digo revirando os olhos.– Bom, Pili, tenho que ir! Obrigado por tudo...

— Você sabe que sempre pode contar comigo...– e me dá outro abraço, se despedindo de mim enquanto, de fato, vou embora.

Pode ser que meu pai venha a descobrir, pode ser que nem terminemos juntos...mas eu tinha certeza de que nunca me arrependeria de ter escolhido pelo menos tentar com o Jaime.

mas eu tinha certeza de que nunca me arrependeria de ter escolhido pelo menos tentar com o Jaime

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Eles são tão lindooooos

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora