LUKA
— Eu achei que nossos pais fossem surtar mais quando soubessem que você se meteu numa briga numa festa...– comento com Okane, quando já estamos indo pro shopping, comprar roupas pro meu aniversário.
Havíamos tomado café junto com eles e os dois só comentaram sobre os machucados. Não teve um Marcelo surtando e ameaçando processar o estabelecimento, nem um Jaime fazendo um discurso interminável pregando a não violência. Nada!
— Bom, deve ser porque eu encontrei meu pai de manhã na cozinha. E falei com ele. Ele com certeza contou pro Marcelo. Além do mais, nós já somos adultos. Tomamos nossas próprias decisões. Fora que eu acho que seu pai já nem tem mais paciência pra se estressar com a gente...
— Ele vive dizendo que eu sou o Karma dele. E que já o deixei de cabelos brancos antes dos cinquenta...— Ele ri com o comentário.— E não ria. Você não fica muito atrás de mim.
— Ah, por favor. Você quer mesmo comparar todas as vezes que você arrumou briga na escola com as vezes que eu briguei? Eu posso contar nos dedos, Luka! Nem vem.
— Pelo menos eu sempre tive coragem de lutar pelo que eu acredito!
— E eu não?
— Me diz você? Já teve coragem pra lutar por algo que quer muito?
— É claro que já. O tempo todo. Lutei pelos meus sonhos, pela minha banda, pra me provar para quem achava que eu não tinha talento e só fiquei famoso por causa dos nossos pais. Eu luto pelo que acredito o tempo todo, Luka...
— E por uma pessoa? Você já lutou por uma pessoa?
— Como assim?
— Ah, pelo amor de Deus! Você não é burro. Você já sentiu algo tão forte por alguém que soube que seria capaz de tudo por essa pessoa? De lutar por ela até as últimas consequências? E abrir mão de tudo?— digo e ele desvia o olhar do meu.– Já, Okane?
Nossos pais nos criaram rodeados da história de como eles dois lutaram um pelo outro. E sempre nos deixaram abertos a dividirmos quem somos com eles. Foi fácil me assumir gay pra eles, assim como foi fácil pro Okane se assumir bi. Eu sempre quis viver um amor como o deles. Mas eu sempre quis isso com o Oscar.
Sempre sonhei com o dia em que ele iria finalmente perceber que sente algo por mim e lutar por nós dois. Mas isso nunca aconteceu...
— Não. Nunca tive...Você já?
— Já. Já tive. E foi justamente uma pessoa que...não tava disposta a fazer isso por mim.– digo.
— Quem?
Você, seu burro!
— Alguém que você não conhece...— digo e entro no estacionamento do shopping. Saímos do carro e o fecho. Saio andando na frente dele e vamos entrando nas lojas, vendo as roupas e vou comprando aquelas que mais me agradam.
— Você não tem mais espaço no seu closet pra tanta roupa.– Okane argumenta quando saímos de mais uma loja cheios de sacolas de roupas.
— Eu sei. Vou doar algumas das que estão lá pra algum brechó, ou sei lá. Sou um consumidor consciente. Afinal, também fui criado pelo seu pai.
Desde que se casou com meu pai e foi morar com a gente, Jaime se empenhou em nos fazer mudar alguns hábitos. Principalmente em relação ao desperdício de roupas, comida e brinquedos.
Lembro que, toda vez que eu pedia um presente pra eles, seja no Natal ou no meu aniversário, meus pais me diziam pra escolher um brinquedo que não usava mais pra doar.

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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?